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26/03/2021 às 14:50

Estudo identifica como antidepressivos atuam no cérebro

Pesquisa pode ajudar a desenvolver medicamentos mais precisos, já que mecanismo de funcionamento foi melhor entendido.

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Estudo identifica como antidepressivos atuam no cérebro

Foto: Gerd Altmann por Pixabay

Um estudo liderado por cientistas brasileiros traz luz para uma velha questão na psiquiatria: a atuação dos antidepressivos no cérebro humano. Os medicamentos usados em larga escala para tratar depressão e ansiedade no mundo todo ainda se baseiam em diretrizes da tentativa e erro. Isso significa que no decorrer do tratamento os médicos buscam as doses corretas e a combinação ideal de antidepressivos que traga o conforto terapêutico desejado, porém nem sempre a melhora diante do tratamento ocorre como o esperado.

O uso dos antidepressivos para o tratamento dessas doenças se baseia, sobretudo, na chamada hipótese monoaminérgica, segundo a qual os distúrbios do humor são causados por uma deficiência no nível de neurotransmissores como serotonina, norepinefrina e dopamina. Esses medicamentos visam aumentar a concentração dessas substâncias no cérebro para eliminar a doença. Entretanto, a melhora diante do tratamento medicamentoso nem sempre é certa.

Considerada o mal do século 21, a depressão atinge cerca de 4,4% da população do planeta e é a principal causa de incapacidade, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). De 10% a 30% das pessoas com depressão não apresentam melhora depois do início do tratamento com remédios, segundo estudos de 2019.

Novas descobertas
A chave para finalmente entender a atuação dos antidepressivos nos neurônios está na identificação da partícula celular responsável por facilitar a atuação dos medicamentos. É o que mostra o estudo liderado pelos brasileiros Plínio Casarotto e Caroline Biojone, atualmente contratados como pesquisadores no grupo do professor Eero Castrén, da Universidade de Helsinki (Finlândia). O estudo contou também com a participação de outro brasileiro, o pesquisador Cassiano Ricardo Alves Faria Diniz, que realiza pós-doutoramento na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.

Embora com mecanismos de ação diferentes, acreditava-se que tanto os antidepressivos tradicionais quanto a ketamina, que promove um efeito terapêutico quase que imediato, conduziam à melhora dos sintomas da depressão e da ansiedade ao aumentarem os níveis cerebrais de uma proteína chamada BDNF. Essa proteína, por sua vez, ao atuar sobre receptores denominados como TRKB, aumentariam a capacidade de adaptação do cérebro promovendo a recuperação do paciente.

O estudo publicado na revista científica americana ‘Cell’ mostra que, tanto os antidepressivos clássicos quanto os de efeito rápido são bem sucedidos ao promover a ativação direta de outro receptor, o TRKB. “Antes, acreditávamos que o efeito sobre o receptor TRKB era indireto, uma consequência de outros mecanismos de ação, e agora entendemos que o TRKB é na verdade o protagonista”, explica Cassiano Ricardo Alves Faria Diniz. “Isso muda substancialmente o que compreendemos sobre estas drogas, e sugere também que a latência para os efeitos terapêuticos dos antidepressivos tradicionais ocorre porque essas drogas levam tempo para atingir as concentrações necessárias dentro do sistema nervoso central para agir sobre o TRKB”, completa.

Para chegar a esse resultado o grupo se valeu de testes in vitro (realizadas com células) in silico (usando simulações computacionais de alta performance) e testes in vivo (com animais de laboratório) para confirmar que de fato os efeitos dos antidepressivos, mesmo sobre organismos complexos, dependem ainda dessa ação direta sobre o TRKB.

Essa descoberta é importante porque pode trazer assertividade a um tratamento que foi por décadas incerto. Desde que o primeiro ansiolítico foi utilizado no tratamento de distúrbios de humor, em 1956, as drogas são administradas com doses baseadas em tentativa e erro.

“A partir de agora, a indústria farmacêutica pode desenvolver drogas melhores porque até então eles estavam desenvolvendo drogas baseadas em um mecanismo de ação que não era o correto”, defende Caroline Biojone.

Colesterol no cérebro
O estudo também relevou, pela primeira vez, uma importante relação entre os níveis de colesterol no cérebro com a eficácia do tratamento realizado com drogas antidepressivas. De acordo com a investigação, há uma quantidade considerada ideal de colesterol no cérebro que facilita a ativação do receptor TRKB, o que promoveria um tratamento mais eficaz.
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