A falta de chuvas tem causado desabastecimento dos reservatórios das hidrelétricas. O baixo nível das bacias pode levar a uma situação de estresse elétrico e até mesmo a apagões.
Para se ter dimensão da escassez de água nas bacias das usinas, um quarto dos reservatórios das hidrelétricas está com nível abaixo de 30%. Dez dos 39 reservatórios estão no limite da reserva.
Há casos extremos, em que os reservatórios têm níveis entre 7% e 9% da capacidade total (veja cenários ainda mais críticos na lista abaixo). Os dados fazem parte de análise do Metrópoles, baseada em informações do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Abril marca o fim do período de transição entre as estações úmida e seca nas principais bacias hidrográficas do Sistema Interligado Nacional (SIN). Com chuvas abaixo da média, aumentou a preocupação com o que pode ocorrer nos próximos meses.
O problema é que os reservatórios estão com capacidade baixa, e vem longa estiagem pela frente. No período tradicionalmente marcado por mais precipitações, entre novembro e o fim de março, as chuvas registradas foram as piores em 20 anos.
Veja nível dos reservatórios com % mais baixas:
Reservatório Marimbondo (SP/MG) – 7,07%
Reservatório Água Vermelha (SP/MG) – 9,4%
Reservatório São Simão (GO) – 16%
Reservatório Nova Ponte (MG) – 16,9%
Reservatório Chavantes (SP) – 18,2%
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou durante conversa com apoiadores, na segunda-feira (10/5), que o país tem “um problema sério pela frente” ao se referir à crise hidrológica.
“Nós estamos com um problema sério pela frente. Estamos vivendo a maior crise hidrológica da história. A gente vai ter dor de cabeça. Não chove”, destacou.
Em abril, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) informou que a conta de luz terá bandeira vermelha 1 no mês de maio. Na prática, isso significa que será cobrada taxa adicional mais alta, de R$ 4,169 para cada 100 kWh.
O balanço hidrológico do período 2020-2021 produzido pela Aneel registrou o pior aporte hidráulico da história.
Desde janeiro, a situação melhorou, mas está longe de ser confortável. À época, um terço dos reservatórios monitorados pelo ONS estava com menos de 20% da capacidade total. Ao todo, 12 dos 39 principais reservatórios apresentavam volume baixíssimo.
Internamente o governo procura alternativas para atenuar a crise. O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), grupo formado por integrantes do Ministério de Minas e Energia, Aneel e ONS, entre outros, aprovou maior acionamento de térmicas e importações de energia da Argentina e do Uruguai para suprir as necessidades do país.
Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e consultor do Ministério de Minas e Energia durante a reforma do setor elétrico, Adilson de Oliveira explica que o governo precisa tomar “decisões urgentes”, como criação de térmicas.
“O país está refém da chuva, e os especialistas da meteorologia já alertaram que não vai chover. Vamos ter um problema que não sabemos a dimensão ainda. Não adianta só aumentar o preço. Não terá o produto”, alerta o professor.
O docente critica a gestão que está sendo feita para solucionar o impasse. “Importar já estávamos importando antes. O grosso da seca está no Sul e no Sudeste do Brasil, e está chegando à Argentina. Temos que criar capacidade de geração hoje, mas isso geraria tarifaço. Temos gás natural na costa brasileira, mas não temos gasoduto para levar para a térmica. Podemos usar diesel, mas já importamos, e nossas refinarias não têm capacidade”, pondera.
Estiagem
De acordo com a medição do ONS, a situação mais crítica está em São Paulo, Minas Gerais e Goiás. Cinco dos 10 reservatórios com os níveis mais baixos se encontram nesses estados.
A situação mais grave, segundo dados do ONS, é no subsistema Sudeste/Centro-Oeste, responsável pela geração de cerca de 70% da energia consumida no Brasil. O nível dos reservatórios está em 33,6% da capacidade total.
Em janeiro, o índice chegou a 19,6%, mas não se recuperou totalmente. A previsão do ONS é que em outubro esse marcador atinja 20% novamente.