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01/08/2021 às 08:33 | Atualizada: 01/08/2021 às 09:56

Comandante da PM destaca as inovações tecnológicas no combate ao crime

Débora Siqueira e Angélica Callejas

O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Jonildo José de Assis, está à frente da instituição desde janeiro de 2019, e destaca seu plano de comando, fala das ações da PM na pandemia e ainda aposta nos avanços tecnólicos para garantir um combate ao crime mais efetivo. 

Além das melhorias, o comandante-geral também conta um pouco sobre o esforço que vem realizando para oferecer aos policiais um cenário melhor na PM, com melhorias nas fardas, no armamento, e na própria instituição em si. E claro que o sucesso da banda da PM não ficou de fora da entrevista da semana. 

Confira a íntegra da entrevista abaixo:


Leiagora – Coronel, qual o maior desafio de comandar a PM?

Coronel Assis – Eu acredito que nós, quando saímos da Academia de Polícia Militar, nós somos formados para comandar. Mas quando se fala em comandar um Batalhão, uma unidade ou até mesmo a própria instituição, acho que o grande desafio de todo comandante é implementar e se fazer cumprir o seu plano de comando.

Todo mundo que vai assumir um comando, tem ali um plano para orientar as ações que ele vai tomar durante o comando. Eu mesmo, quando nós assumimos aqui, lá no início da gestão do governador Mauro Mendes, nós apresentamos pro governador três eixos, três grandes eixos.

O primeiro eixo seria o quê? A potencialização das ações ostensivas de polícia, ou seja, polícia na rua, defendendo o cidadão. Então, com certeza a gente vem implementando de maneira bastante linear em todos os comandos regionais. A prova disso é o índice de produtividade em apreensões, conduções, flagrantes feitos durante todo esse tempo de dois anos e meio, aproximadamente.

O segundo grande eixo seriam as atividades de integração de polícias, da PM junto aos outros órgãos, por isso a gente conta muito com a Secretaria de Segurança Pública e tem dado certo em várias operações. Eu tenho policiais militares trabalhando com a Sema, trabalhando com a Polícia Federal. Enfim, várias operações em conjunto com os demais órgãos de segurança.

E o terceiro seria a valorização do nosso policial militar, das boas ações. Ano passado, pra se ter uma ideia, nós implementamos como um programa de policiamento, a patrulha Maria da Penha, que começou como uma boa iniciativa das policiais de Barra do Garças. Hoje se tornou um grande programa de policiamento que é capitaneado pela nossa coordenadoria de policiamento comunitário de direitos humanos, comandada pela tenente-coronel Emirela. Hoje nós fazemos capacitações. E a ideia é justamente essa, estar sempre promovendo o reconhecimento dessas iniciativas e claro que, como eu falei, tudo que se pensa em nível estratégico aqui, a gente pensa no homem que está lá na ponta. Desde o uniforme, do melhoramento do uniforme, desde a aquisição do armamento, o tipo de armamento, desde a construção de quartel, eu estou pensando em quem está lá na ponta. Por quê? Porque eu vivi na ponta. Eu vivi minha vida na rua, trabalhei na parte operacional, fui comandante do batalhão operacional. Então eu acredito que a oportunidade que temos de pensar no pessoal da ponta é agora.

O pessoal perguntou porque eu ainda estou usando minha pistola PT 100, calibre .40 e por que não estou de Glock. Porque eu entendo que a melhor arma tem que estar com o meu policial, lá na rua. Então eu acho que essas que chegaram só dava para o serviço ativo aqui da baixada cuiabana, o serviço diário, e eu acho importante repassar isso pra quem está lá na rua. A próxima leva que vai chegar pra todo mundo, a gente vai pegar (a pistola .40).

Leiagora – Um dos pilares que o senhor falou é o policial na rua. O lotacionagrama da PM mostra que há um déficit muito grande de soldado, de cabo, de sargento, oficiais também. Como está a discussão pra um concurso? Por que, da mesma forma que há um déficit, existem muitos policias que estão indo para a reserva remunerada. Como é que o senhor pretende manter o policial na rua com esse pessoal indo pra reserva?

Coronel Assis – Déficit de efetivo não é uma exclusividade da PM. Nós temos outras instituições que possuem déficit. Claro que o nosso déficit se acentua com o tempo, porque todo ano existem pessoas que vão pra reserva. Nós estamos há algum tempo sem promover concurso para soldados e para oficiais também. Claro que essa pauta está sendo tratada pelo Governo do Estado. É uma pauta muito sensível, uma vez que temos restrições impostas por legislações federais no tocante à contratação e formação de novos gastos. Mas isso está sendo bem conduzido pela Secretaria de Segurança, pela Casa Civil. Eu acredito que teremos novidades.

Nós, a partir do momento que começamos a trabalhar com a parte de análise criminal, nós sempre estamos fazendo mais com menos. E de maneira racional, de maneira devidamente orientada, justamente porque eu consigo colocar o meu material humano, meu material logístico, onde eu mais preciso. Eu acredito que  efetivo é extremamente importante para que a gente possa estar mantendo o serviço prestado à sociedade. Mas fora isso, eu também sonho com uma polícia tecnológica, eu sonho com uma polícia que use tecnologia. Na qual eu possa fazer o boletim de ocorrência no local do fato e possa encaminhar para o sistema da Polícia Civil, para o Poder Judiciário direto.

Com isso, eu ganho tempo de rádio patrulhamento, ganhar tempo na rua. Isso é importante. Preciso ter uma ferramenta de gestão na qual eu possa entrar no meu smartfone e saber quem está em serviço em São Félix do Araguaia, por exemplo, e em qual viatura. Poder puxar uma aba, saber o telefone dele pra ligar lá e falar: “E aí, meu amigo? Como está seu serviço?”. Eu preciso ter tudo isso na palma de um smartfone, de maneira que eu possa criar, que o comandante do batalhão, possa criar cartões programas, dos quais eu possa ter ali um ponto demonstrativo e essa mensagem saia no smartphone da viatura.

Se ele estiver em ocorrência, estiver impedido por algum motivo, justifique de forma rápida, pra que a gente possa ter algum controle.

Leiagora – Então o senhor acha que caminho da PM passa pela tecnologia? Otimizar mão de obra e utilizar tecnologia no combate ao crime?

Coronel Assis – Na verdade é uma conciliação. Não há como substituir o policial na rua. Não existe isso. Mas eu posso otimizar e colocar essa participação e o trabalho do policial militar na rua com a tecnologia de maneira muito mais eficiente, assim como já acontece em outros estados. Nós temos como exemplo Santa Catarina, onde a PM faz visitas de segurança orgânica, por exemplo, numa empresa do Distrito Industrial, e o sargento vai lá, dentro desse programa, dessa tecnologia, ele vai estabelecer um questionário que será respondido pelo comerciante, por exemplo: “Tem muro? Sim. Na lateral? Quantos? Tem terreno baldio? Sim. Não. Tem luz? Tem. Quantos pontos de luz?” E no final, o próprio comerciante vai poder se cadastrar e baixar o App, e a partir daí, irá sair impresso, em PDF, um relatório de segurança, falando que ele precisa arrumar uma câmera, precisa melhorar isso, melhorar aquilo".

Como eu falei, com a tecnologia, o céu é o limite. Por exemplo, eu preciso checar alguém. Pô, vou usar o rádio? Não. Checo na tecnologia aqui, checo rapidão. Eu preciso abordar você: “Como é seu nome?” “Meu nome é Débora.” “Pera aí, você tem cara daquela Maria que foi presa com droga lá na região de Cáceres, mas ela é foragida.” “Não, mas eu sou a Débora.” “Cadê seu documento?” “Estou sem documento.” “Tá sem documento?” Se a gente pudesse fazer um termo de cooperação com o TSE, que tem o maior banco de dados digitais do Brasil, eu coloco a sua digital no leitor de digitais do smartfone e vai saber se você é realmente a Débora ou se você é a Maria. Isso é uma possibilidade.

Outra possibilidade, por exemplo, seria uma senhora que possui uma medida protetiva que possa baixar o aplicativo da PM, escanear o documento e, a partir disso, vai vir pra cá, vai ter uma validação, vai gerar um botão do pânico e ela vai apertar esse botão do pânico, que tocará lá no centro de comando de controle, vai tocar em todas as viaturas, quando ela precisar de ajuda. Então assim, a tecnologia é o futuro. E nós, como instituição de estado, nós temos que andar a par da tecnologia. Então é para isso que nós estamos trabalhando, pra que a gente possa chegar nesse patamar também.

Leiagora – Como que é está a questão da estrutura? O senhor também falou do segundo eixo: equipamento, armas, farda. Dá pra melhorar? O que já foi feito?

Coronel Assis – Com certeza. Estamos melhorando! Eu falo sempre que nós começamos a atual gestão de maneira bastante precária. Nós tínhamos viaturas que estavam sendo recolhidas, postos que não queriam abastecer os nossos veículos, salários parcelados, 13º atrasado. E graças a Deus é uma gestão séria, uma gestão fiscal eficiente, muito coerente, com o apoio dos órgãos de Estado, do Poder Legislativo, do Poder Executivo, do Poder Judiciário. Mato Grosso entrou nos trilhos novamente. E hoje, graças a essas ações, nós temos dinheiro pra fazer investimento.

Nós estamos fazendo uma virada de chave do material bélico da instituição. Eu sou da época do 38. Quando chegaram os primeiros 38 sete tiros, nós ficávamos brigando entre os tenentes pra ver quem que pegaria esses 38 sete tiros. Hoje nós estamos partindo já para outro naipe, um patamar de ter uma pistola pra cada policial militar. E não é qualquer pistola. É uma pistola que segue padrões internacionais de fabricação. É uma arma que é usada pelas melhores e maiores forças policiais do mundo. E isso graças aos investimentos. Nós estamos fazendo a aquisição, vamos reformar e trocar toda a nossa planta de espingarda de combate calibre 12. Uma arma que é muito utilizada por nosso policial nas ruas e que está defasada. São cuidadas, porém são antigas. Nós iremos comprar a melhor 12 do mundo. É uma arma que funciona no sistema pump, que é o sistema manual, e no sistema semiautomático. É usada também pelas melhores forças do mundo. Então a gente vai estar comprando esse tipo de armamento. Nós estamos comprando fuzis. Fuzis de última geração pras nossas Forças Táticas, para Bope, que está reformando toda a sua planta de armamento.

Quando eu trabalhei no Bope, nós tivemos a campanha do Novo Cangaço em 2012, 2013, o que nos salvou foram fuzis FAL, doados pela Marinha, de 1963. Então foi com isso que nós combatemos lá no mato, que o meu soldado do Bope, que os meus policiais estavam lá no mato usando.

Leiagora – Arma de 63?

Coronel Assis – Uma arma de 1964, o modelo do FAL. E nós, hoje, estaremos com tudo novo. Uma planta de armamento que vai durar 20 anos. Uma inovação também é que todas essas pistolas serão em cautela permanente. Então o policial vai ter essa pistola, não vai ter que devolver. Isso vai representar um ganho de durabilidade de 10 anos, com certeza. Então, é uma virada de chave. Fora isso, viaturas 4x4, viaturas 4x2, motos. Nós tivemos a criação do nosso batalhão de moto patrulhamento tático, isso é uma grande inovação. Ainda vamos ouvir falar muito dessa unidade. Ainda irão trazer muito resultado, porque é um policiamento rápido, um policialmente na base urbana que irá trazer excelentes resultados. Fora isso, o maior legado que eu acredito que iremos deixar da atual gestão, é a rádio digital. Eu sou do tempo da rádio VHF, o cara comprava o radinho, lá num Paraguaizinho da vida, e copiava a frequência da PM. Hoje o nosso rádio é digital, criptografado e troncalizado. Não tem como copiar. Se eu perder um HT, o operador de sistema entra lá pelo IMEI do HT e deleta esse HT. Ele não serve pra ninguém, pra mais nada. Então assim, são grandes avanços e grandes legados deixados para segurança.

Leiagora – Em relação à Operação Dispersão, como teve um relaxamento das ações pela Prefeitura de Cuiabá, como é que tem sido na prática, esse horário de 1h às 5h Como é que a PM tá fazendo? Continua esse tipo de fiscalização?

Coronel Assis – Sim, continuamos. Mas assim, há de se convir que as medidas tem todo seu histórico. Nós já atuamos com medidas bem mais restritivas, nós já atuamos com medidas um pouco mais brandadas. E isso graças à essa orientação e o preparo dos policias, não tivemos intercorrência. Tivemos conduções? Tivemos. Mas isso não reflete toda a ação da PM. E isso está sendo muito bem conduzido pelos comandantes. Eu acredito que com a vacinação melhorou bastante, até a questão de não deixar as coisas ficarem paradas e fazer com que a vida corra normalmente.

Leiagora – Como o senhor avalia e qual sua opinião sobre essa polêmica, da mensagem 77, que o deputado Elizeu é contra. A Assembleia está se articulando para não dar certo? Como está esse debate?

Coronel Assis – Na verdade, não houve nenhuma articulação por parte da Assembleia pra não dar certo. Eu acredito que a discussão ela é válida, mas assim, tudo que vem pra somar é importante. A mensagem nem está mais lá. Ela está nas nossas instituições ainda, na PM, nos Bombeiros. É uma exigência legal, através de uma normatização feita pelo Governo Federal, para que se possa normatizar esse Código de Ética e Disciplina. É claro que um instrumento de controle disciplinar é uma pauta sensível. Mas é uma pauta necessária. Porque nós somos detentores do poder bélico do Estado. Nós somos uma tropa armada, nós somos uma tropa militar. Então nós precisamos de um instrumento disciplinar que seja coerente, que seja justo, mas que mantenha o controle disciplinar também.

Leiagora – E qual é o seu futuro? O senhor já é coronel, comandante geral. O senhor pretende ir pra política como vários outros militares? O senhor também tem essa pretensão?

Coronel Assis – Não tenho pretensão nenhuma política. Não acredito que eu tenha essa inclinação para trabalhar nesse ramo. Acredito que isso é um dom que as pessoas possuem, vem de berço, ou vem se preparando a vida toda para isso. Eu me preparei a vida toda para ser um soldado. E sendo um soldado, estou para cumprir a minha missão. Minha missão hoje, é ser comandante geral da Polícia Militar. Amanhã, de repente, eu vou ser coronel da Reserva Remunerada, uma outra missão.


Leiagora – Em relação à valorização do corpo musical da PM, que sempre foi uma boa banda. Ela teve um reconhecimento maior agora. O que o senhor acha que aconteceu pro pessoal despertar e ver a existência da banda?

Comandante Coronel Assis - Na verdade, como eu disse: Nós vivemos tempos diferente. Eu acredito que a pandemia trouxe muitos malefícios, fez muito mal pra nós. Nós perdemos 20 colegas policiais da ativa. Vários outros colegas da reserva remunerada. Isso acaba trazendo muita tristeza a todo mundo e, no auge da pandemia, a PM nunca parou. Diga-se de passagem, a PM nunca parou seja pela questão da pandemia, seja pela falta de vacina. Inclusive, graças a deus, hoje nós temos 100% do nosso efetivo vacinado e estamos caminhando pra chegar na segunda dose.

Teve uma época que nós tivemos quartéis do interior, em que de um efetivo de 12 policiais, nove estavam acometidos com a covid. Então, o que tinha de fazer? Lançar mão de gente daqui. Lógico que nesses momentos de crise, a própria banda foi empregada no serviço operacional. Então eles trabalharam na fronteira, eles trabalharam nos batalhões, eles trabalharam nos nossos órgãos de fiscalização sanitária do município, do estado. Eles trabalharam no interior do estado. Isso mostra que eles têm o mesmo preparo técnico, operacional da nossa tropa. Embora tenham essa vocação e essa aptidão musical que faz tão bem à nossa instituição.

A banda tem 109 anos de idade, então ela vem marcando o passo e o compasso da instituição desde então. Eu gosto de usar a frase de um general do exército que diz que um quartel sem banda é como um corpo sem alma. E é claro que com essa situação da pandemia, nossa banda também se reinventou.

A partir do momento que conseguimos essa parte de vacinação a gente começou a ter menos pessoas contaminadas e o menor emprego do nosso corpo musical, nós partimos para as lives. Onde já se viu uma formatura da PM sendo feita pela internet? Promoções, agradecimentos, reconhecimentos... E quem capitaneava tudo isso através da música foi o nosso corpo musical, a nossa banda. E eles fazem isso com muita primazia. Porque a música é uma linguagem universal, uma linguagem que aproxima todo e qualquer povo do mundo. A mesma nota Sol que toca aqui, toca lá no Japão. E claro que a partir disso, eles também se reinventaram. Foram levar um pouco de alegria às pessoas que acabam sofrendo bastante com a pandemia. Eles foram pros hospitais, asilos, casas de amparo. E isso foi muito importante, porque também faz essa aproximação da instituição com a sociedade. É logico que a rede social, a internet expandiu isso pro mundo. Tivemos uma música, a Batom de Cereja, que virou meme. Numa das nossas ações sociais em um centro de hemodiálise, espontaneamente, a enfermeira e o policial militar, mostrando a proximidade, essa confiança que existe entre a sociedade e a PM, e a partir daí, virou um vídeo e viralizou. Graças a Deus deu grande visibilidade ao nosso corpo musical e isso é bom para aproximar a PM da sociedade e agora nós temos toda sexta-feira, o Sextou da banda.
 
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