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13/03/2019 às 07:36 | Atualizada: 14/03/2019 às 15:44

Jornalista acusado de causar apagão com ataque hacker é libertado na Venezuela

Redação

Depois de cerca de 30 horas de prisão, o jornalista venezuelano Luis Carlos Díaz, 34, foi liberado em Caracas, na noite desta terça-feira (12). Ele havia sido detido pelo Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin) da ditadura de Nicolás Maduro no fim da tarde de segunda. 

Díaz responde a acusação de incitação à deliquência, terá de comparecer diante das autoridades a cada oito dias e não poderá deixar o país sem autorização, segundo o sindicato de jornalistas da Venezuela. 

Em conversa com jornalistas, ele disse que está proibido de comentar o caso. "O processo segue, não posso dar declarações. Tenho mil histórias, mas não posso dizer nada. Isso dependeu de vocês. Viva o jornalismo venezuelano, todo poder às redes. Esse é o momento das redes", afirmou. 

Apresentador de programas de rádio, Díaz também é conhecido na Venezuela e fora dela por seu papel como ativista de direitos digitais. Junto a esposa Naky Soto, 48, comentarista política, ele manteve um programa primeiro no YouTube, depois na plataforma Patreon, onde comenta a situação da Venezuela. 

Foi um dos vídeos postados pelos dois e editado por apoiadores de Maduro que levantaram acusações de que ele teria ajudado com ataques hackers que levaram o país a ter o maior apagão elétrico da sua história recente.
Desde a semana passada, quase todos os estados tiveram cortes de eletricidade, agravando ainda mais a situação de falta de alimentos, medicamentos e hiperinflação que vive a Venezuela. Cerca de 20 pessoas morreram em consequência do blecaute. 

A causa do apagão ainda não está confirmada. Enquanto o presidente autodeclarado Juan Guaidó culpa a corrupção e falta de manutenção no sistema elétrico, em um pronunciamento feito na segunda-feira à noite, Maduro defende que houve sabotagem organizada pelos Estados Unidos. Luis Carlos Díaz foi detido sob suspeita de "crimes informáticos" que teriam ajudado nisso. 

"Ele é acusado de ser hacker, quando na verdade trabalha pelo contrário, pelos direitos digitais. Ele forma pessoas para usar as redes, não tem especialidade em mexer com códigos. Isso é uma loucura", afirmou Naky Soto à reportagem.

No vídeo, Díaz responde a pergunta de um seguidor sobre os efeitos que apagões podem ter em um país. Em um cenário hipotético, ele fala sobre as pessoas saírem às ruas e pressionarem até que o tecido social tenha sido recuperado. 

Detido enquanto ia de bicicleta para casa, por volta das 17h30 de segunda, Díaz foi levado ao Helicoide, um edifício em Caracas construído para ser um shopping center, que vem sendo usado como prisão de presos comuns e políticos pela ditadura de Maduro. 

Depois de oito horas como desaparecido, com as forças de segurança negando saber seu paradeiro, Díaz apareceu algemado para acompanhar buscas do serviço de inteligência em sua casa, na madrugada de terça. Foram apreendidos computadores, celulares, pen drives e dinheiro. Neste momento, ele relatou que foi agredido durante sua detenção. 

O nome da mulher de Díaz também aparecia nos documentos de prisão que foram apresentados mais tarde por agentes de segurança. Porém, eles teriam dito a Naky que por ela estar em tratamento contra um câncer de mama, não a levariam se ela permanecesse quieta. 

A prisão do jornalista motivou campanha nas redes sociais, manifestações de órgãos de defesa de direitos humanos e liberdade de imprensa e da alta comissária da ONU, a ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet. Uma comissão do Alto Comissariado do órgão está na Venezuela, antecedendo a visita dela. 

No Twitter, Bachelet se disse "bastante preocupada" com a prisão e o bem estar de Díaz. "A missão técnica da ONU, que se encontra em Caracas, pediu às autoridades acesso urgente a Díaz", escreveu.

Durante a audiência para pedir sua liberação, no Palácio de Justiça, Díaz falou por cerca de uma hora. Depois, foi levado outra vez ao Helicoide onde passou por procedimentos administrativos antes de ser liberado. 

Na saída, respondendo a jornalistas, disse: "Não posso falar, mas posso seguir fazendo jornalismo. A detenção recorde [mais curta] parece que era 48 horas, e a rompemos. Estou ao lado de Naky, estou bem. É isso que eu preciso."
Direto de Belo Horizonte, Fernanda Canofre/Estadão Conteúdo
 
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