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03/11/2023 às 10:40

Vítima de advogado teme pela vida mesmo após um ano de separação

Luíza Vieira

Em meio a uma onda de acusações de violência contra mulher feitas em desfavor do advogado Akio Gustavo Maluf Sasaki, de 32 anos, que atualmente está detido por falta de pagamento de pensão alimentícia em Mato Grosso, o Leiagora entrevistou Wallery de Paula Pimentel, de 23 anos, uma das primeiras vítimas do jurista.

Ela relata uma série de violências praticadas pelo advogado em meio ao relacionamento conturbado que tiveram por quatro anos. Wallery conta que mesmo após um ano separada dele, ainda sente medo por ela e por seus familiares, além de temer que o jurista siga impune das acusações.

“No começo tudo é lindo”, disse ao se recordar da garota que foi aos 18 anos, quando começou seu relacionamento com o advogado, que na época tinha 27. Acontece que o companheiro, segundo ela, foi se transformando ao longo do tempo, aos poucos ela foi deixando de ser quem era para agradá-lo, primeiro deixou a faculdade e depois seu emprego. A partir daí, conforme relato, o comportamento do advogado foi mudando e ficando cada vez mais agressivo.

“Pequenas coisas foram acontecendo. Gritos, muitas discussões, depois um tapa, depois (...) drogas, vinha mais agressões e foi aumentando no decorrer dos anos”, relatou a vítima, que conta ainda que o acusado afirmava aos conhecidos que ela tinha problemas psicológicos.

“Ele falava para minhas amigas, eu descobri isso recentemente, que eu era esquizofrênica, que eu sofria de ansiedade, que eu era louca, psicopata, e ele comprava remédio sem receita e me dava. Eu vivia dopada”, contou relatando que além de obrigá-la a usar drogas o ex-companheiro também a dopava com medicamentos tarja preta.

Ela conta que tentava se desvencilhar do relacionamento “Eu tinha esses picos quando eu estava mais sóbria, sem remédio, sem nada. Eu olhava assim e falava, eu não quero isso para minha vida. Foi quando ele começava a ser mais grosso, mais grosseiro, mais agressivo. Porque eu queria separar, eu não queria mais aquilo para mim. Começava tudo de novo”.

Ainda com a costela quebrada após uma sequência de violência, Wallery explica que chegou a ir até uma delegacia com o esposo, no entanto, dentro da mesma viatura de polícia que ele, ela foi ameaçada e sentiu medo de denunciar.

“Ele chegou a ir para a delegacia quando estava casado comigo. Foi em 2022, um pouco antes da minha mãe me internar. Eu saí, uma das poucas vezes que eu consegui sair com ele, fui visitar minha mãe, triste, querendo ajuda. Voltei pra casa e ele começou a me bater. Eu tinha recém-curado uma costela quebrada. Ele tentou me sufocar, me sufocar, e aí eu não consegui me soltar. E aí quando eu consegui, eu saí lá de casa, uma vizinha minha que era tenente-coronel me socorreu”, ela ainda completa:

“A gente foi para a delegacia, só que os policiais colocaram ele no mesmo carro que eu. E aí ele me ameaçou ali (...)  ele ameaçava a minha família, ameaçava que ele ia ir atrás da minha mãe, que ele ia fazer coisas que eu não ia gostar e nisso eu entrei em desespero, falei eu não vou deixar minha mãe passar por coisa pior do que eu estou passando”.

Longe da família, dos amigos, a vítima revela que se viu presa em um círculo de violências psicológicas, financeiras, físicas e sexuais. Até que dada a sua situação foi resgatada por sua mãe inconsciente na casa em que morava com o advogado. Ela frequentou uma clínica de reabilitação para tratar a dependência química. E desde então move processos contra o advogado. Casada novamente e após um ano de separação de Akio, Wallery ainda se sente vulnerável e tem  a sensação de que o ex-companheiro permanecerá impune. 

“Ele continua usando meu nome para falar com as pessoas, inventar mentiras, falar que eu falei isso, que eu falei aquilo, continua passando atrás de mim. E mesmo eu tendo duas medidas protetivas, eu já ouvi da boca de gente de dentro da polícia ‘ isso é só um papel”.

Wallery acredita ainda que outras mulheres foram vítimas do advogado e que não denunciam por, assim como ela, sentirem medo.

“Não é só outra vítima, depois ele tem muitas vítimas antes. E eu estou revivendo a minha história pelo menos, porque eu queria que estampassem a cara dele para as meninas terem coragem de irem e denunciarem, porque eu te garanto que pode aparecer alguma outra. Porque eu não fui a primeira e eu não vou ser a última”.

A situação piorou recentemente, já que Akio é novamente acusado de crime parecido, desta vez, em Rondonópolis. A vítima identificada pelas iniciais, K.S.F. de 45 anos. Segundo as acusações, ela era mantida em cárcere privado e também era dopada pelo advogado. A reportagem do Leiagora tentou contato com a mulher, todavia, não obteve respostas.

Akio está preso por não pagar pensão alimentícia do filho de nove anos desde 2020. Ao todo a dívida gira em torno de R$ 155 mil. Após esforços para contatar os advogados dele, a equipe de reportagem também não obteve retorno. 

A Polícia Judiciária Civil confirma que o advogado é investigado pela Delegacia Especializada da Desefa da Mulher de Cuiabá. Dois inquéritos foram instaurados em relação aos fatos ocorridos em 2022 e 2023, pelos crimes de ameaça, descumprimento de medidas protetivas de urgência, perseguição e furto.

Já Rondonópolis foi instaurado um terceiro inquérito no mês de outubro deste ano pelo crime de sequestro e cárcere privado, quando o investigado foi preso por manter a então namorada presa em um condomínio de luxo onde morava com a vítima. 

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) - seccional de Mato Grosso também confirma a existência de processos contra o jurista, os quais também estão em segredo.
 
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