Infectologista explica sobre os perigos da nova subvariante da covid e o aumento nos números de contágio
Paulo Henrique Fanaia
O início de 2024 começou assombrando os mato-grossenses com o aumento de casos confirmados da covid-19. De acordo com o Painel Epidemiológico, que é atualizado diariamente pela Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso (SES-MT), até o dia 1º de fevereiro, o estado já registrou 13 óbitos em virtude da doença e mais de 5.377 casos confirmados.
Como se não bastasse, em meados de janeiro, a SES informou ter identificado uma nova subvariante da covid, a JN 2.5, uma variação da Ômicron.
Para entender um pouco mais sobre essa nova cepa e qual a razão desta escalada no número de casos detectados, o Leiagora conversou com a médica infectologista Natasha Slhessarenko que deu dicas sobre como se proteger do contágio. Ela ainda aproveitou para fazer um apelo para que a população busque se vacinar e alertou para os perigos em se aglomerar no Carnaval.
Ao longo da conversa, a médica explicou que uma mutação viral é algo que sempre existiu, porém, isso não significa que a população deva se acomodar no combate a disseminação do vírus.
Confira a entrevista na íntegra:
Leiagora - Desde o início deste mês, o estado de Mato Grosso sofre com o avanço dos casos de covid-19 em diversos municípios. O estado também foi surpreendido com a chegada da subvariante JN 2.5. Qual é a diferença dessa variante para as outras que a gente já conhece?
Natasha Slhessarenko - Variantes de vírus sempre existiram e sempre vão existir. Já existem milhares de variantes da cepa de Wuhan, que foi a primeira cepa da covid-19, a primeira variante de SARS-CoV-2. Essa primeira cepa, o coronavírus descrito como o causador da covid-19, foi a cepa de Wuha, surgida no final de 2019. As autoridades chinesas comunicaram ao governo Chinês de que havia aí um vírus que estava dando síndrome respiratório aguda grave, e esse vírus foi chamado de SARS-CoV-2, porque já tinha um SARS-CoV anterior, lá em 2008. Essa cepa, como todas as cepas de vírus, sofre muita mutação. A mutação é uma alteração genética que o vírus tem e que ele sofre a cada organismo que ele entra, a cada pessoa diferente que ele infecta. Ele faz essas mutações com a intenção de ser mais resistente, dele driblar o nosso sistema imune, dele não morrer com os nossos anticorpos, da vacina não pegar ele. Existia até então, cerca de quatro coronavírus descritos até surgir o SARS-CoV-2. O coronavírus é o segundo vírus que mais dá resfriado, o primeiro mais comum no mundo é o rinovírus. O SARS-CoV-2 teve mutação Alfa, Delta, Gama, até que veio a variante Ômicron em 2021, aí depois a gente teve a JN 1, agora a JN 2.5.
Leiagora - Então nós podemos dizer que a JN.2.5, ela é mais forte do que as outras?
Natasha Slhessarenko - Não, não podemos dizer isso de jeito nenhum. Essa variante 2.5, ela tem uma grande característica que é ser muito contagiosa. Então, ela se dissemina muito. Ela foi isolada em Mato Grosso, se não me engano, no dia 18 de janeiro. Em duas a três semanas, com certeza, já é a cepa predominante, já é a variante predominante. O grande problema é que no Brasil nós temos uma vigilância genômica muito ruim. A gente não consegue dizer se todas essas infecções são pela JN 2.5, porque tem poucos laboratórios que fazem vigilância genômica. A gente tem o Adolfo Lutz em São Paulo, Fiocruz no Rio de Janeiro Os Lacens mandam para esses laboratórios, os laboratórios centrais mandam para o Fiocruz, no Rio de Janeiro, mandam para a Adolph Lutz, para fazer essa genotipagem, que é para conhecer que vírus que é,
Leiagora - E os sintomas são diferentes dos sintomas da Ômicron?
Natasha Slhessarenko - Ela é muito parecida com a Ômicron e os sintomas são muito iguais ao resfriado. Então é o quê? Coriza, tosse, dor de cabeça, dor no corpo, mal-estar, mialgia. Tem gente que até comenta: “mas eu perdi o olfato e o paladar”. A perda do olfato era uma queixa muito frequente no início da pandemia, todo mundo perdia o olfato e demorava para voltar, tinha pessoas que levavam anos para voltar. Hoje a gente não tem observado mais essa queixa como frequente. Não que ela não exista, mas ela não é uma queixa frequente. Nesse momento que estamos vivendo, os quadros são mais sistêmicos. Então, nós não podemos dizer que ela é mais agressiva. O que podemos dizer é que ela é altamente contagiosa. Mato Grosso está explodindo o número de casos. Qual é a razão disso? A primeira razão que eu pontuo são as baixas coberturas vacinais.
Leiagora – Já íamos tocar nesse assunto. A pessoa que tomou três doses da vacina normal, sem ser a bivalente, ela está segura?
Natasha Slhessarenko - Não. O ideal é você tomar a bivalente. Todo paciente tem que tomar, acima de 12 anos. A bivalente, por enquanto, só tem para 12 anos para cima. As novas vacinas da Pfizer, tanto a Baby, que é para crianças até 4 anos de idade, quanto a Pfizer pediátrica, que é para crianças até 11 anos, 11 meses e 29 dias, elas ainda não têm esse componente Ômicron, mas é o que temos. Todas as vacinas têm um ponto em comum que vão induzir a produção de anticorpo contra um pedacinho do vírus, que é chamado de proteína Spike, que é uma espícula que fica no vírus e que é o que a gente precisa produzir anticorpo, quando a gente entra em contato com o vírus, ele vai lá e mata o vírus. Então, a proteína Spike dessa cepa JN, da Ômicron, da XBB, todas têm proteína Spike. Então é melhor eu tomar a vacina. As crianças têm que tomar a vacina que têm, que é uma vacina ainda monovalente, que só tem a cepa de Wuhan.
Leiagora - O Carnaval está vindo. É momento da gente se preocupar com esses casos de covid subindo? Dá para curtir o Carnaval tranquilo?
Natasha Slhessarenko - Sem dúvida nenhuma é motivo de preocupação. A gente volta a tocar no ponto de pacientes imunodeprimidos, que tomam remédio ou imunodeprimidos porque têm uma doença, um câncer, ou porque fizeram um transplante, os idosos acima dos 60 anos, os hipertensos, os obesos, os diabéticos, os pacientes com doenças pulmonares e as crianças, tanto menor de 5 anos quanto os idosos, essas duas faixas etárias, realmente a gente precisa estar atento. Então devemos evitar lugares aglomerados. Mas aí você vai falar: “mas como é que eu vou evitar um Carnaval aglomerado?”. Fica no final da fila, vai no bloco? Mas vai no bloco no final, não vai ali na muvuca. Usar a máscara que realmente se mostra como um grande protetor de barreira contra esses vírus respiratórios. Os imunodeprimidos, quando for sair de casa, devem procurar colocar máscara, fazer a higiene das mãos com álcool em gel, quando for tossir ou espirrar, colocar a mão no rosto. Tem sintoma? Procura colher o exame pra gente poder saber do que se trata. E claro, se vacinar.
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