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12/03/2019 às 09:11

Jornalista é preso sob suspeita de ajudar a causar apagão na Venezuela

Redação Leiagora

O jornalista venezuelano Luis Carlos Díaz, 34, foi capturado na noite de segunda-feira (11) por agentes do governo do ditador Nicolás Maduro, segundo sua mulher, Naky Soto.

O sindicato de jornalistas da Venezuela acredita que Luís Carlos é uma das duas pessoas que Nicolás Maduro anunciou que foram presas por relação com os apagões de energia dos últimos dias, em um pronunciamento na noite de segunda.

Maduro diz que a falta de energia foi provocada por ataques de hackers, agindo junto com o governo de Donald Trump. O Grupo de Lima, que reúne 14 países das Américas, inclusive o Brasil, culpou o ditador pelo problema.

Soto fez o último contato com o marido às 17h30 de segunda. O jornalista avisou que estava a caminho de casa para descansar um pouco antes de assumir um programa ao vivo na Unión Radio, que duraria das 22h às 5h.

"Luis Carlos não chegou e não me preocupei, porque achei que ele havia preferido aproveitar a eletricidade e a conexão da rádio, ficando por lá, mas há meia hora me ligaram para avisar que o estavam procurando, porque ele não estava na emissora", escreveu ela, que é comentarista política, em uma rede social.

Na madrugada de terça-feira (12), o sindicato de jornalistas publicou a informação de que agentes do serviço de inteligência do país, o Sebin, apreenderam computadores, pen drive, celulares e dinheiro da casa de Luis Carlos.

Em um vídeo, Naky diz que a casa foi revistada e que o jornalista estava presente e algemado. Ele relatou que sofreu agressões físicas durante sua detenção.

No local, agentes confirmaram que ele seria levado ao Helicoide. O edifício construído para ser um shopping center, em Caracas, vem sendo usado como prisão de presos políticos e comuns pelo serviço de inteligência. Em uma reportagem do jornal The Guardian, de 2017, foi descrito por ex-presos como "inferno na terra".

Durante nove horas, a família e colegas de Luis Carlos buscaram informações sobre o paradeiro de Luis Carlos. Uma campanha internacional, mobilizando seguidores, jornalistas e órgãos internacionais de direitos humanos e liberdade de imprensa, perguntava nas redes: onde está Luís Carlos?

Forças de segurança contatadas pelo sindicato chegaram a negar que soubessem do paradeiro do jornalista. Segundo a entidade, nos últimos dias, ele vinha recebendo ameaças nas redes sociais.

Na sexta-feira (8), a conta no Twitter do programa "Con el Mazo Dando", apresentado por Diosdado Cabello, político conhecido como segundo homem do chavismo, publicou um vídeo editado de uma transmissão feita por Luis Carlos e Naky.

Na publicação, além de chamar o jornalista de "influencer fascistóide", Cabello o acusa de ter participação nos blecautes e de ter organizado uma operação com "a direita local e a direita gringa" para colapsar o país.

O vídeo de cerca de um minuto e meio mostra Luis Carlos respondendo a pergunta de um seguidor sobre os efeitos que um apagão pode ter em um país em situação de crise. Em um dos cenários hipotéticos citados por ele, o jornalista fala que as pessoas podem sair às ruas para recuperar o "tecido social rompido".

O auto declarado presidente interino e líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, também se manifestou sobre o desaparecimento do jornalista: "Atenção, continua a perseguição a jornalistas na Venezuela".

Luis Carlos faz parte da equipe do programa de rádio Circuitos Éxitos, junto com um dos jornalistas mais respeitados do país, César Miguel Rondón. O programa foi encerrado no dia 15 de fevereiro, segundo Rondón, "porque se tornou um incômodo para o regime".

No final de janeiro, em entrevista, Rondón disse que foi censurado por reconhecer Juan Guaidó como presidente interino. Desde 2017, ele participava do programa à distância, fora da Venezuela, por perseguição.

A última vez em que postou algo em sua conta no Twitter, onde tem 329 mil seguidores, Luis Carlos comentou sobre as quedas de energia que causaram o maior apagão recente da história da Venezuela, e a narrativa adotada pela ditadura de Nicolás Maduro.

"Já não dizem que foi um ataque. Tampouco que houve dois. Não. A nova cifra são cinco ataques consecutivos contra o sistema elétrico, segundo porta-vozes oficiais. É a hiperinflação das desculpas", escreveu.

Nas redes sociais, ele seguia denunciando a situação de falta de alimentos e remédios em vários pontos do país, além de criticar abertamente o governo.

No final de fevereiro, o regime de Maduro expulsou o jornalista Jorge Ramos e sua equipe da rede Univision do país. Os equipamentos e materiais de gravação da entrevista que Ramos fazia com o presidente foram apreendidos.

A suspeita é que o segundo preso nesta segunda (11) pelo governo Maduro sob acusação de ter relação com a falta de energia seja Geovany Zambrano Rodriguez, trabalhador do setor elétrico, que participou de uma coletiva de imprensa no dia 18 de fevereiro, denunciando a situação crítica do setor.

Há relatos de testemunhas que viram Rodriguez ser abordado por uma caminhonete Tucson por volta das 18h de segunda.

As detenções ocorreram no mesmo dia em que teve início a visita de uma comitiva do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. O grupo tem cinco pessoas e trabalha para preparar uma possível visita da alta comissária, Michele Bachelet,, entre outras tarefas. Bachelet foi convidada pelo governo Maduro, em novembro. A equipe deve seguir no país até o dia 22.

Direto de Belo Horizonte, Fernanda Canofre/Folhapress

 
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