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14/08/2019 às 16:27

Novo documentário mostra que Woodstock pendeu entre motim e falência

Leiagora

Dois dias antes da abertura de Woodstock, 50 anos atrás, o jovem Joel Rosenman enfrentava um dos maiores dilemas de sua vida –precisava decidir entre terminar de construir o palco do festival ou de erguer as cercas de segurança e as bilheterias.

"Em outras palavras, me perguntaram se eu queria um motim ou a falência", lembrou ele, que financiou o evento ao lado do amigo John Roberts –dupla que passava longe dos estereótipos hippies da época. "A gente gostava de jogar golfe juntos."

O resultado foi um marco da contracultura americana, além de uma dívida de US$ 3 milhões que levou uma década para ser paga. Roberts, Rosenman e outros envolvidos nos bastidores aparecem no documentário "Creating Woodstock", exibido no Museu Grammy de Los Angeles para celebrar os 50 anos do evento.

É o segundo documentário lançado neste ano, após "Woodstock: Three Days that Defined a Generation", passar no festival Tribeca. O mais famoso, "Woodstock", de 1970, que rendeu Oscar ao diretor Michael Wadleigh, também voltou aos cinemas da cidade.

Mais de 500 mil pessoas estiveram no festival de 1969, montado numa fazenda no interior do estado de Nova York. Foram três dias caóticos e lamacentos, inspirados no espírito de paz, amor, música e drogas. Depois de performances de Joan Baez, Creedence Clearwater Revival, Grateful Dead, Janis Joplin e outros, terminou numa manhã de segunda-feira com Jimi Hendrix tocando o hino na guitarra.

A ordem de entrada dos artistas era de quem estava por perto. Dezenas de helicópteros foram contratados de última hora para conseguir transportar os músicos e, mais tarde, comida e dinheiro para as bandas que ameaçavam não tocar sem receber adiantado (como o The Who). Arlo Guthrie foi levado ao palco muito mais cedo do que esperava, completamente chapado. 

Sem poder controlar a multidão inesperada que causava quilômetros de congestionamentos, os organizadores retiraram as poucas cercas levantadas e declararam que o festival seria gratuito. Para o diretor do novo documentário, Mick Richards, uma coisa em comum entre quase todos os envolvidos era a preocupação absoluta com aqueles que chegavam para a festa.

"O planejamento, a segurança, tudo tinha a ver com a ideia de que todos deveriam ser bem-vindos", disse Richards, que passou 25 anos tentando lançar o documentário com entrevistas feitas nos anos 1990, incluindo com muitos que já morreram.

Um deles é Mel Lawrence. Morto há três anos, era o diretor de operações e contador das melhores histórias. No filme, narra como recebeu, morrendo de medo, um funcionário do Departamento de Saúde para inspecionar o local.

"Mas ele levou sua filha de 15 anos que, nos primeiros minutos de reunião, saiu pela porta e sumiu", contou. "O inspetor passou os três dias atrás da menina. Talvez, se não fosse por ela, o festival teria acabado ali." 

Rosenman, um executivo de 76 anos, é um dos donos da marca Woodstock. Ele conversou com a plateia no museu ao lado de outros colegas do festival de 1969, como John Morris, que dava recados de cima do palco ao público, como "não comam o brownie de ácido, não está bom!".

Nenhum deles se surpreende com o cancelamento do Woodstock 50, que ocorreria neste mês. "Um golpista é um golpista, que é um golpista", disse Morris, sem explicar se estava citando Michael Lang, organizador da nova edição e um dos responsáveis pela original.

Rosenman disse que Lang comprou os direitos para usar o nome e o logotipo de Woodstock, mas acabou com muitos dos mesmos problemas de 1969, como conseguir espaço para fazê-lo. Além disso, faltou o espírito da época.

"Vendemos a licença porque Michael é um parceiro nosso", disse Rosenman. "Ia ser um evento grande porque tinha grandes estrelas, mas não acho que tinha um conceito interno consistente com o sentimento do que foi o festival em 1969."

 
Direto de Los Angeles, Fernanda Ezabella / Folhapress
 
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