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16/08/2019 às 08:36

EUA já vetaram chineses e privilegiaram europeus do norte

Leiagora

Um poema, escrito em uma placa de bronze aos pés da Estátua da Liberdade, em Nova York, diz "traga-me seus cansados, seus pobres / Suas massas amontoadas que anseiam respirar livremente".

"Essa mensagem era direcionada a todos os imigrantes do mundo?", perguntou um repórter da CNN. Não, ela se referia apenas a "vindos da Europa", respondeu Ken Cuccinelli, diretor do Serviço de Imigração dos EUA, em entrevista na terça (13), reacendendo um tema polêmico no país.

Quando a estátua foi inaugurada, em 1886, as regras de imigração privilegiavam os europeus. As leis da época fomentavam programas para buscar pessoas daquele continente, enquanto proibiam o ingresso de chineses, por exemplo.

As leis foram usadas durante toda a história dos EUA para definir o tipo de imigrantes bem-vindos. A primeira regra sobre o tema, de 1790, só permitia dar cidadania a pessoas "brancas e livres" –direito concedido a negros em 1870.

No século 19, os EUA contaram com os estrangeiros para povoar as terras do oeste e trabalhar nas indústrias. Segundo dados do Pew Research Center, uma maioria de irlandeses se estabeleceu ao longo dos estados da costa leste, e alemães foram os principais povoadores do meio-oeste.

A principal porta de entrada era por Nova York. Por San Francisco, chegavam imigrantes asiáticos barrados primeiro pela lei que vetava chineses (1882), depois por um acordo com o governo japonês (1907) e por outra lei que baniu quase todos os asiáticos (1917).

A lei de 1882 foi citada como base para nova regra, que dificultará pedidos de residência para imigrantes atendidos por programas sociais do governo dos Estados Unidos.

"Na época, a fronteira com o México era muito mais fluída do que hoje, de modo que a ida e a volta de trabalhadores rumo ao norte era frequente. Isso facilitava a vinda deles quando era preciso, e também sua expulsão depois", explica Rossana Rocha Reis, professora da USP e pesquisadora da história das fronteiras.

Os mexicanos foram chamados a trabalhar especialmente em dois momentos: após a Guerra Civil (1861-1865) e durante a Segunda Guerra (1939-1945), quando a marcha a campos de batalha deixou vagas, especialmente na agricultura.

Outro conflito, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) foi determinante para as políticas de migração dos EUA. Após o cessar-fogo, cresceu muito o número de pessoas que buscavam ir para a América. Assim, na década de 1920, novas leis criaram cotas de entrada para pessoas de cada país.

A ideia era manter a alta proporção de europeus de países do norte, e barrar quem vinha de países do sul, como a Itália.

Outra mudança viria na esteira da luta pela ampliação dos direitos civis. Em 1965, uma lei encerrou as cotas e passou a dar preferência a estrangeiros com parentes nos EUA e formação elevada.

Nesta época, também ganha força a liberação de entrada por critérios políticos. Foi facilitado o acesso a cubanos que deixaram a ilha após a instalação do socialismo, e também de vietnamitas que fugiam da guerra em seu país.

Nas décadas de 1970 e 1980, com a América Latina marcada por ditaduras apoiadas pelos EUA e por crises econômicas, o controle na fronteira com o México ganha reforço na segurança.

A fronteira sul ganhou ainda mais proteções nos anos 1990 e 2000. Em 2012, o governo Obama criou o Daca, programa que autorizava a permanência de crianças estrangeiras trazidas para os EUA e de pais de filhos nascidos lá.

A iniciativa foi suspensa em 2017, no governo Trump, neto de alemão que imigrou um ano antes de a Estátua da Liberdade ser inaugurada.
Direto de São Paulo, ​RAFAEL BALAGO, (FOLHAPRESS) 
 
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