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07/10/2019 às 20:26 | Atualizada: 08/10/2019 às 16:51

Deputados receberam milhões e apartamentos de luxo

Fernanda Leite

Em uma proposta de delação premiada vazada nesta semana, declarações supostamente realizadas pelo ex-presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, José Riva, detalha como funcionou o esquema da eleição para a Mesa Diretora do Parlamento, a partir de 1995 até o ano de 2015. Foram quase R$ 40 milhões distribuídos em dinheiro e apartamentos para compra de votos de diversos parlamentares.

Os recursos para comprar esses votos vieram de empréstimos junto às factoring do ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro, posteriormente, Junior Mendonça, Valdir Piran e Rômulo Botelho. Este último, irmão do atual presidente do Legislativo, deputado Eduardo Botelho (DEM).

Foram quase R$ 10 milhões pagos em compra de votos para a eleição da Mesa  somente para o biênio 2013-2015. De acordo com o documento, foi uma das eleições mais caras da Assembleia. O recurso  para pagar os empréstimos eram desviados por licitações fraudulentas e outros meios. 

Confira detalhes de outras eleições:

Mesa Diretora de  01.02.1995 a 31.01.1997

Para a eleição da Mesa Diretora relativa ao período 1995/1997, houve pagamento de propina para votos dos deputados, porém, como o colaborador havia recém tomado posse, acabou sendo 1º Secretário por uma composição de seu partido à época (Partido da Mobilização Nacional - PMN), que tinha como deputados o Colaborador e Jorge Abreu, com a União Por Mato Grosso, que à época tinha 11 deputados. Toda a coordenação dessa campanha foi feita pelo então Deputado Gilmar Fabris, que já vinha de outra legislatura.

Mesa Diretora 01.02.1997 a 31.01.1999

 Igualmente, houve repasse de propina, cujos valores o colaborador não recorda, podendo afirmar, porém, que os gastos com essa campanha foram de aproximadamente R$2.000.000,00 (dois milhões de reais). Nessa eleição, o Colaborador foi eleito Presidente e o Dep. Romoaldo Junior 1º Secretário, e o valor utilizado foi pago com recursos desviados da ALMT. 2. O Colaborador pode afirmar que participaram das negociações os seguintes deputados: Eliene Lima, Paulo Moura, Dito Pinto, Amador Tut, Manoel do Presidente (Manoel Ferreira de Andrade), Jorge Abreu, Ricarte de Freitas, Emanuel Pinheiro, Zilda Pereira Leite, Moisés Feltrin e Nico Baracat, os quais receberam entre R$150.000,00 e R$200.000,00 cada um.

Mesa Diretora  01.02.1999 a 31.01.2001

Nessa eleição, o Colaborador e o Dep. Humberto Bosaipo foram eleitos Presidente e 1º Secretário, respectivamente. Foram gastos aproximadamente R$3.000.000,00 com compra dos votos de deputados, quais sejam: Eliene Lima, Pedro Satélite, José Carlos de Freitas, Nico Baracat, Joaquin Sucena Rasga, Amador Tut, Emanuel Pinheiro, Gonçalo Domingos de Campos Neto, Dito Pinto, Alencar Soares e Carlão Nascimento. Cada um desses parlamentares recebeu entre R$200.000,00 e R$250.000,00, valores que foram arrecadados junto às empresas de factoring, notadamente aquelas pertencentes ao Sr. João Arcanjo Ribeiro, posteriormente pagos com recursos desviados da Assembleia. 

Mesa Diretora 01.02.2001  31.01.2003

Nessa oportunidade, o Colaborador voltou a ser eleito para o cargo de 1º Secretário, tendo como Presidente o Dep. Humberto Bosaipo, e foram gastos cerca de R$3.000.000,00 em propina para os deputados, financiada com valores desviados da ALMT. 2. Eliene Lima, Pedro Satélite, José Carlos de Freitas, Nico Baracat, Joaquin Sucena, Amador Tut, Emanuel Pinheiro, Campos Neto, Dito Pinto, Carlos Carlão Nascimento e Alencar Soares receberam, cada, entre R$200.000,00 e R$250.000,00. 

Mesa Diretora 01.02.2003  a 31.01.2005

 O Colaborador esclarece que essa eleição foi praticamente um “consenso” entre os deputados. Contudo, com a deflagração da Operação Arca de Noé em dezembro de 2002, o Dep. Humberto Bosaipo decidiu renunciar à candidatura ao cargo de 1º Secretário, tendo sido escolhido para seu lugar o Dep. Silval Barbosa, que chegou a compor a chapa mas teve pouca participação nos acertos engendrados com os deputados. 2. Nesse ano, o Colaborador pode afirmar que foram gastos R$3.000.000,00, divididos em propinas com valores entre R$200.000,00 e R$250.000,00 para os seguintes parlamentares: Alencar Soares, Carlão Nascimento, Dilceu Dal’Bosco, Pedro Satélite, Nataniel de Jesus, Campos Neto, Joaquim Sucena, João Malheiros, Eliene Lima, José Carlos de Freitas, Sebastião Rezende, Sérgio Ricardo e Mauro Savi. 3. A propina foi arrecadada com recursos emprestados dos Srs. Valcir Piran (Kuki) e Valdir Piran, os quais foram pagos com recursos desviados da ALMT. 

Mesa Diretora  01.02.2005 a 31.01.2007

 O Colaborador participou dessa eleição como candidato à 1º Secretário na chapa que teve Silval Barbosa como Presidente, o qual ficou responsável pela coordenação da eleição, inclusive tendo sido responsável pelo levantamento dos fundos junto à factoring do Sr. Valdir Piran e de seu irmão Valcir Piran (vulgo Kuki), aproximadamente R$4.000.000,00, valor que posteriormente foi pago com recursos desviados da ALMT. Página 48 de 105 2. Cada deputado recebeu cerca de R$250.000,00, sendo que o Colaborador pode afirmar categoricamente que os Srs. Alencar Soares, Carlão Nascimento, Dilceu Dal’Bosco, Pedro Satélite, Nataniel de Jesus, Campos Neto, Joaquim Sucena, João Malheiros, Eliene Lima, Mauro Savi, Sergio Ricardo, José Carlos de Freitas e Sebastião Rezende receberam referida propina.

Mesa Diretora  01.02.2007 a 31.01.2009

 Nessa ocasião, o Colaborador participou da chapa que teve como candidato a Presidente o Sr. Sergio Ricardo e para cuja eleição foram gastos R$4.000.000,00. Cada deputado recebeu R$250.000,00 de propina, e o Colaborador atesta que os seguintes parlamentares receberam: Dilceu Dal’Bosco, Walter Rabelo, João Malheiros, Chica Nunes, Ademir Brunetto, Guilherme Maluf, Adalto de Freitas, Humberto Bosaipo, José Domingos Fraga, Wallace Guimarães, Mauro Savi, Sebastião Rezende, Airton Português, Campos Neto, Maksuês Leite e Chico Galindo. 2. Novamente, os valores foram financiados por Valdir Piran por meio de sua factoring e pagos com recursos desviados da ALMT.

Mesa Diretora 01.02.2009 a 31.01.2011 

Para essa eleição, o Colaborador e o Sr. Sergio Ricardo arrecadaram R$4.000.000,00 junto a diversas factorings, dentre elas a do Sr. XXXXXX e a do Sr. XXXXXXXX, de forma a financiar o pagamento de R$300.000,00 a R$350.000,00 em propina para cada deputado. 2. O Colaborador assegura que os seguintes deputados receberam propina em troca da eleição da mesa: Guilherme Maluf, Chica Nunes, Adalto de Freitas, Dilceu Dal’Bosco, Wagner Ramos, Zé Domingos Fraga, Wallace Guimarães, João Malheiros, Mauro Savi, Sebastião Rezende, Ademir Brunetto, Maksuês Leite e Chico Galindo. 3. Nesse período, o Colaborador ocupou o cargo de Presidente e o Sr. Sérgio Ricardo foi 1º Secretário.

Mesa Diretora 01.02.2011 a 31.01.2013

Uma vez mais o Colaborador ocupa a Mesa Diretora na condição de Presidente e Sérgio Ricardo é 1º Secretário, o qual participa mais ativamente na eleição tendo em vista que já estava definida sua ida para o Tribunal de Contas do Estado. Também nesse período é viabilizada a maior parte da propina paga ao Conselheiro Alencar Soares para compra da vaga no TCE/MT. 2. Nesse eleição, foram gastos aproximadamente R$5.000.000,00 para pagamento de propina aos deputados, que receberam cerca de R$400.000,00 cada. O Colaborador confirma que os seguintes parlamentares receberam vantagem indevida: Ezequiel Fonseca, João Malheiros, Sebastião Rezende, Wagner Ramos, Baiano Filho, Nilson Santos, Wallace Guimarães, Walter Rabello, Dilmar Dal’Bosco, Zé Domingos Fraga, Guilherme Maluf e Ademir Brunetto. 3. Os deputados Mauro Savi, Romoaldo Junior, Luiz Marinho e Airton Português abriram mão da propina pelos cargos que viriam a ocupar na Mesa Diretora, atraídos pela possibilidade de afastamento do Colaborador por decisão judicial e pela decisão já tomada do Dep. Sérgio Ricardo de renunciar ao mandato para assumir a vaga no TCE. 1.39.10.
 
Mesa Diretora  01.02.2013 a 31.01.2015

Nessa eleição, o Colaborador voltou a assumir a Presidência da Mesa Diretora, pela sexta vez, tendo como 1º Secretário o Dep. Mauro Savi, o qual coordenou essa eleição uma vez que já havia ocupado o mesmo cargo na eleição anterior em razão da renúncia do Sr. Sérgio Ricardo. 2. O Colaborador pode assegurar que essa foi a eleição para Mesa Diretora que mais utilizou recursos escusos – foram gastos cerca de R$10.000.000,00 – uma vez que os deputados exigiram maior propina para eleger o Colaborador, que estava com sua imagem desgastada pela possibilidade de afastamento por decisão judicial. 3. Nesse contexto, o Colaborador confirma que foi organizado um grupo de 8 deputados que receberam cada um propina de R$800.000,00 – Ezequiel Fonseca, Ademir Brunetto, Guilherme Maluf, Wagner Ramos, Wallace Página 50 de 105 Guimarães, Walter Rabello. Zé Domingos Fraga e Antônio Azambuja (o qual dividiu o valor com o Dep. Mauro Savi a título de empréstimo). 4. Os deputados Sebastião Rezende, Baiano Filho, Nilson Santos, Airton Poruguês, Luiz Marinho, João Malheiros e Dilmar Dal’Bosco receberam entre R$400.000,00 e R$500.000,00 cada um. 5. Para essa eleição, os recursos para o pagamento de propina aos deputados foram levantados por meio de empréstimos junto às factoring de Junior Mendonça, Valdir Piran e Rômulo Botelho. Ademais, o Dep. Wallace Guimarães emprestou parte do valor e recebeu o pagamento por meio de empresas gráficas a ele ligadas. 6. A quitação dessa dívida se deu por meio de recursos desviados da ALMT, utilizando as empresas anteriormente citadas.

Mesa Diretora  2015

Por último, o Colaborador teve conhecimento de que na eleição da mesa diretora (2015/2017) houve uma negociação com os Deputados Estaduais envolvendo dinheiro, e até imóveis entregues a dois Deputados em troca de votos, sendo que alguns valores ainda se encontram em aberto junto ao Sr. XXXX, garantidos por Mikael Maluf, Zezo Maluf, bem como o próprio Dep. Guilherme Maluf. 2. Nesse sentido, esclarece o Colaborador que o Deputado Silvano recebeu um apartamento no Edifício Campo D´Ourique no bairro Santa Rosa, Cuiabá/MT. O Deputado Wancley, por sua vez, também teria recebido um apartamento no Município de Cuiabá/MT, sendo sua localização desconhecida pelo Colaborador.
 
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