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20/01/2020 às 14:49 | Atualizada: 23/01/2020 às 15:51

Mulheres organizam protesto em repúdio à contratação do goleiro Bruno (Atualizada)

Alline Marques

Após a justiça autorizar a vinda de Bruno Fernandes para Mato Grosso e a confirmação por parte do time do Operário Esporte Clube, de Várzea Grande, da contratação do jogador, um grupo nomeado como Bloco das Mulheres, que é um bloco feminino que reúne mulheres da baixada cuiabana e foi criado para as manifestações de 8 de Março, organiza um ato de repúdio pela contratação do goleiro. O protesto será nesta terça-feira (21), às 19h, no estádio Dito Souza, em Várzea Grande, onde o tricolar faz a estreia no campeonato estadual.

A manifestação além de ser contrária a vinda do goleiro é também um protesto contra o feminicídio e outras violências sofridas pelas mulheres. O objetivo é chamar atenção pelo fato de um condenado por matar uma mulher se tornar ídolo e ganhar visibilidade.

Bruno foi condenado a 22 anos pelo assassinato da modelo Eliza Samúdio, ocorrido em 2010, e atualmente cumpre a pena no regime semiaberto no interior de Minas Gerais. No entanto, a justiça já autorizou a vinda do goleiro para Mato Grosso e permitiu que ele jogue no time de Várzea Grande.

Além do bloco de Mulheres, outras entidades já se manifestaram contrárias a contratação do goleiro. Dentre elas, o coletivo feminino da torcida organizada Força Jovem Operário. Em nota, o grupo diz que “aceitar a contratação dele (Bruno) é naturalizar e ser conivente com as opressões que lutamos. No Brasil, uma mulher é morta a cada duas horas vítima de violência. Nós, mulheres, que frequentamos a arquibancada lidamos diariamente com o machismo dentro dos estádios e torcidas, não podemos aceitar isso de forma natural. Bruno está tendo uma segunda chance, chance esta que Eliza não teve”.

Em outro trecho, o grupo destaca que o futebol mato-grossense tem bons goleiros que poderiam defender a camisa do tricolor e lamentar que a contratação do Bruno possa manchar eternamente a história do nosso clube. “A “alma alegre de um povo”, o nosso Operário não pode deixar que 70 anos de história sejam manchados desta forma”, encerra.

A presidente do Conselho Estadual de Direitos da Mulher, Glaucia Amaral, também questiona o Operário por sua responsabilidade social em transformar um feminicída em ídolo de crianças. “Não questionamos o direito à ressocialização e nem estamos discutindo os critérios do cumprimento da pena do Bruno, questionamos o efeito social negativo disso. Os questionamentos são gerais quanto à penalidade. Questionamos o time Operário pela contratação dele e trazer para Mato Grosso um homem que matou a mãe do filho dele, esquartejou e para agora ser ídolo de futebol, para jogar na frente das nossas crianças”, afirmou em conversa com o Leiagora.

Para Glaucia, o futebol tem um papel social e crianças se espelham nos jogadores. A contratação dele é uma chancela ainda mais que o caso teve uma grande repercussão nacional. Ela ressaltou ainda que os demais times ouviram suas torcidas e recuaram, mas o Operário insiste em ignorar e ainda convoca a torcida para os jogos “como se boa parte da sociedade e da torcida não estivesse horrorizada com esta contratação, como se a morte de uma mulher pudesse ser esquecida”.

“Questiono se um latrocida, uma pessoa que entrou numa casa e matou alguém, seria contratado por um time? É como se matar uma mulher é um crime menor”, indagou Glaucia.

Serviço:

O que: Ato de repúdio à contratação do goleiro Bruno
Quando: 21 de janeiro às 19h
Onde: Estádio Dito Souza

 
 
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