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04/02/2020 às 17:00 | Atualizada: 04/02/2020 às 17:15

Selma diz que organização de Silval atuou em processo e provas foram manipuladas; VEJA VÍDEO

Alline Marques

A senadora Selma Arruda (Podemos) quebrou o silêncio e falou com o Leiagora sobre o processo que resultou na cassação do mandato. Para ela, desde o início, tratou-se de uma ação orquestrada pela organização criminosa chefiada pelo ex-governador Silval Barbosa desde o início do processo. Ela também alega que houve manipulação de prova, considera a decisão “extremamente injusta” e disse ter ficado decepcionada e revoltada.  A parlamentar também garante que não avalia a cassação como uma mancha em sua trajetória.

“Desde o registro da minha candidatura já era o advogado do Silval Barbosa. Tudo isto iniciou desde o primeiro ato, tentaram impedir juíza no meu nome, depois me tiraram tempo de TV, reprovaram minhas contas. Toda volta que esta organização criminosa fez. Um dia você bate e outra você apanha, mais ou menos isso”, afirmou.

Selma teve uma trajetória meteórica da Justiça para a política. Ela ganhou notoriedade em 2015 com a prisão do ex-governador Silval Barbosa e secretários por crimes de corrupção. Em 2018 pediu aposentadoria do cargo de juíza e se filiou ao PSL, partido que até então era de Jair Bolsonaro, e disputou eleição colando sua imagem ao presidenciável. Foi eleita a senadora mais bem votada no estado e terminou o primeiro ano de mandato cassada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por caixa 2 a abuso de poder econômico.

“Realmente não acreditava porque sabia que não fiz nada do que fui acusada”, resumiu sobre o sentimento de ser cassada. Questionada sobre o fato de ter prevalecido vontades políticas, Selma disse não ter dúvidas. O processo inclusive iniciou 15 dias antes da eleição com o intuito, segundo ela, de tirar votos para que ela não se elegesse.

“A pessoa que me processou (Carlos Fávaro) acabou contratando um advogado que foi ministro da Justiça, a custo de milhões de reais e tem muita penetração no âmbito judicial em todo Brasil. Ele que fez toda essa ‘sorte’ de atos que acabaram causando minha cassação em tempo recorde. Sou a única no Brasil que não posso reclamar da lentidão da Justiça porque eu fui cassada em primeiro grau com 4 ou 5 meses de tramitação do processo, ainda com recesso no meio, numa sessão sem ninguém mais olhar o processo, ninguém ficou curioso de saber se era verdade. Depois soube que o relator é irmão de maçonaria do Fávaro”, comentou.

Já na Corte Superior, Selma critica a celeridade com que foi dado o parecer do Ministério Público. Segundo ela, em 7 horas a procuradora, que havia passado a manhã em uma reunião do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), fez um parecer em tempo recorde. “Eu já sabia dois meses antes e ouvia: ‘olha o relator vai fritar você antes do fim do ano”

Essas informações chegavam como? “Nesse caso, foi um amigo que ouviu comentários dentro do TJ de pessoas ligadas dizendo que até o fim do ano ela está frita”. Em sua defesa, a senador diz que a foto usada pelo relator como se fosse um santinho, na verdade tratava-se de uma foto utilizada para pesquisa qualitativa. A frase na arte nem foi o slogan de sua campanha. “Manipularam provas, fizeram de contas que era um santinho que eu usei”.

Ela lembra ainda que “curiosamente” esta mesma foto foi usada pelo advogado do Fávaro, ex-ministro de Justiça, José Eduardo Cardozo, quando ele se manifestou antes do voto do relator no julgamento no TSE. “São muitas coincidências que acaba sendo reveladora. Fui vítima de uma grande manobra, de quem não tem interesse que a classe política mude. Alguns ministros disseram, durante o julgamento, que achava um absurdo que pessoas vindas do judiciário e MP pudessem concorrer cargo político. Já declarei que meu julgamento foi recado para Sergio Moro e Deltan Dallagnol, que está sofrendo uma perseguição horrorosa. Trabalhamos muito para tentar fazer com que a Lava Jato não morra”.

Para Selma, se Moro sair para cargo eletivo com certeza será uma armadilha para ele também. “Nunca vi um teatro tão grande, única coisa que lavou minha alma foi o voto do Edson Fachin, um ministro super-respeitado no Brasil inteiro. Graças a Deus não foi voto dos odiados”, declarou.

Questionada se considera a cassação como uma mancha na sua trajetória, ela rebate: “ao contrário. Um desembargador me disse: dependendo do tipo de inimigo que você arruma te machuca ou fere é uma honra. Me vejo uma pessoa que está sendo extirpada do mundo político porque não combino, e é mais elogio do que qualquer outra coisa. Não tenho essa de manchar minha trajetória”.

Confira a íntegra da entrevista 


 
 
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