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16/02/2020 às 14:37 | Atualizada: 16/02/2020 às 14:37

Boca Suja completa 25 anos e integrantes contam trajetória do bloco em samba-enredo

Luzia Araújo

Neste ano, o tradicional bloco de carnaval, o Boca Suja, completa 25 anos de história na folia cuiabana. Para celebrar a data, os integrantes se preparam para contar a trajetória do bloco que levou o ritmo e a animação da torcida do Mixto Esporte Clube do estádio para a avenida.
  
Faltando apenas uma semana para o Carnaval, a equipe do Leiagora esteve no barracão do Boca Suja, no bairro CPA 2, onde os componentes se preparam para folia, para saber como o bloco de torcedores se tornou um dos mais tradicionais blocos de carnaval na cidade do rasqueado. 

Era 1994 e o clima de carnaval já tomava conta de Cuiabá, quando um grupo de amigos e torcedores do Mixto foram fazer parte de uma ala do bloco carnavalesco Beleza Pura, porém um desentendimento não permitiu que eles caíssem na folia naquele ano. 

“As cores do Mixto eram as mesmas cores do Beleza Pura e tinham muitos mixtenses que já desfilavam nele. Só que nós não fomos bem recebidos e depois disso surgiu a ideia de criarmos o nosso próprio bloco”, lembrou o presidente do Boca Suja, Gabriel Augusto Moraes, que há 22 anos ocupa o cargo e fazia parte do grupo na época. 

O cuiabano e filho de mixtenses contou que depois do triste episódio, ele e os amigos montaram o bloco, aproveitando o ritmo e animação dos torcedores do Mixto, que já batucavam nos estádios Dutrinha e Verdão nos dias de jogos do clube. 

Logo, os ensaios começaram no bairro Bandeirantes na residência de um dos fundadores já falecido, Emanuel dos Santos Lobo. “O início foi bem difícil. Não tínhamos som e nem instrumentos. Foi então que fizemos uma cotinha para comprar o que não tinhamos e depois arrumamos um som emprestado para começar os ensaios”, recordou o presidente, ressaltando que além de Emanuel,  Franklin Sábia foi fundamental para formação do Boca Suja. 

No ano seguinte, o bloco já saiu na Avenida Mato Grosso, palco dos desfiles das escolas de samba em Cuiabá. Ele se apresentou com 80 integrantes e no samba-enredo homenageou o componente do grupo, Marquinhos Guerreiro, que faleceu em um acidente de carro.  

Naquele ano, o Boca Suja disputou o título de melhor escola de samba com outros 19 blocos e ficou em 18º lugar na disputa, o que não desanimou os integrantes. “Ficamos na frente de um bloco que já tinha 10 anos de história. Então, não podíamos desistir. Pelo contrário, ficamos com mais vontade de vencer no próximo ano”, destacou Gabriel.

A cada ano que passava, o bloco foi conquistando mais admiradores e se tornando cada vez maior na capital. Até chegar em 2003 quando ganhou o primeiro título com o samba-enredo "Lendas, Mistério e Magia" que apresentou o folclore brasileiro. Hoje, o Boca Suja já conquistou cinco títulos. 

O presidente lembrou que o bloco vive de contribuições dos próprios componentes e pequenas doações. “O Boca Suja é a minha segunda pele. Depois da família, só o bloco. Faço tudo e mais um pouco por ele. Tudo isso aqui não tem dinheiro de ninguém. Doações também são poucos. É muita força de vontade e paixão dos integrantes”. 

Família Preto e Branco

Além do ritmo e samba no pé, a união dos integrantes do Boca Suja é outra característica marcante do bloco. Foi ela que ajudou os componentes a superar o roubo dos instrumentos da bateria 15 dias antes do carnaval em 2002.

A sede onde o bloco ensaiava foi invadida por assaltantes que levaram os instrumentos e ainda danificaram o local. O crime assustou os integrantes. “Alguns deles até pensaram em desistir, mas antes que isso acontecesse o nosso mestre Jano correu atrás e conseguiu emprestar outros instrumentos com professores de fanfarras para que apresentássemos naquele ano”, disse Gabriel.

O carnavalesco, José Aparecido de Souza é outro integrante da família Boca Suja, que há quatro anos dá forma e cor ao bloco. Ele foi convidado por um antigo componente do Boca Suja para trabalhar no carnaval de 2015 e desde aquele ano, o carnavalesco nunca mais saiu do barracão do bloco.

“Tanto o Mixto, como o bloco são tudo para mim. Eu amanheço e anoiteço
no barracão. Luto para que tudo saía bonito para a população cuiabana conheça quem é o Boca Suja”, disse emocionado.

Dalva Lea Freitas de Moraes, de 83 anos, é a matriarca dos componetes. Ela é mãe de Gabriel e acompanha o bloco desde a criação, sempre apoiando o filho. “Me apaixonei pelo Boca. Até a sede do bloco já foi na minha casa. Então, os componentes não saiam de lá e nós cozinhávamos todos os dias para eles”.

Já o diretor de bateria Ivan Carlos da Silva, de 64 anos, trouxe todo o conhecimento do carnaval carioca para o barracão do Boca Suja. Ele chegou no bloco para tocar tamburim, mas logo fez amizade com os outros integrantes e virou diretor. 

“Aqui é o meu momento de descontração. Somos uma família aqui. Quando nos reunimos é festa. Brincamos, fazemos as fantasias e nos divertimos. Tudo para colocar o bloco da avenida. É muita satisfação ter essa amizade”.

Já a dirigente, Tété, ouviu os primeiros batuques da bateria do Boca Suja no bairro Poção, onde morava e local de uma das sedes do bloco. Apaixonada pelo ritmo, logo começou a frequentar os ensaios com as amigas. Com o tempo Tété se tornou amiga dos integrantes e uma das dirigentes do bloco. 

“No nosso bloco só tem pessoas unidas. No próprio hino do Mixto fala: unidos e sempre destemidos. Então, somos assim”, ressaltou. 

Carnaval 2020

Neste ano, o Boca Suja se prepara para concorrer a mais um título com o samba-enredo que irá contar a trajetória dos 25 anos do bloco no carnaval. O bloco irá levar de 800 a 900 componentes para a avenida no dia do desfile.

Neste sábado (15), o Boca Suja realiza uma feijoada para arrecadar recursos que serão revertidos para bloco. O almoço custa R$12 e é realizado no barracão, no bairro CPA 2. Os ensaios oficiais do Boca Suja acontecem todos os domingos às 18 horas, na lanchonete do Davi, também no bairro CPA 2, é aberto ao público em geral. 
 
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