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16/02/2020 às 11:43 | Atualizada: 17/02/2020 às 12:58

Caso Abinoão: Filho do soldado morto em treinamento fala sobre 'esperança na justiça dos homens'

Camilla Zeni

Anderson Matheus Mota de Oliveira tem hoje 25 anos. Personal trainer, parou as atividades e viajou quase três mil quilômetros para estar em Cuiabá, na tarde dessa quinta-feira (13). Foi quando teve início, depois de quase 10 anos, o processo que busca responsabilizar policiais militares pela morte de seu pai, o soldado Abinoão Soares de Oliveira.

De Alagoas e compondo a Força Nacional em Brasília (DF), Abinoão se preparou e decidiu participar do 4º Curso para Tripulante Operacional Multimissão (TOM-M), em 2010, oferecido, à época, pela Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp). 

Anderson, que tinha 15 anos e não morava com o pai, contou à reportagem que, no ano anterior, viajou para passar seu aniversário com Abinoão, mas não conseguiu, porque o soldado estava de plantão. O pai prometeu, então, que no ano seguinte estaria junto do filho. Mas não cumpriu a promessa. Antes do aniversário, o soldado participou do curso operacional em Mato Grosso e, daqui, já retornou morto para seu estado.

“Recebemos a notícia por telefone. Inicialmente era que ele tinha caído do helicóptero. Depois o boca a boca vai mudando”, lembrou Anderson, na porta da sala de audiências da 11ª Vara Militar de Cuiabá. Ele também contou que precisou recepcionar o corpo do pai, levado para o Alagoas de avião. 

Hoje, quase 10 anos depois do caso que ficou marcado na história da Polícia Militar de Mato Grosso, Anderson falou em “esperança na Justiça dos homens”. 

“Esse momento [audiência] é praticamente uma vitória. O juiz realmente está querendo que se encerre esse caso. Estamos com esperança de que se aconteça o julgamento e a gente veja se fazer a justiça dos homens”, comentou.

Irmão de um casal, na época com 12 e 10 anos, o rapaz também se emocionou ao falar do pai. Companheiro, amigo de todos e uma pessoa preocupada com o bem-estar dos demais, foi como o descreveu. Por isso, ele disse não duvidar que Abinoão tenha sido “marcado” pelos instrutores do curso.

Segundo a denúncia oferecida pelo Ministério Público, alunos teriam relatado que os instrutores estavam “pegando no pé” do soldado. Entre as razões, o fato de ele ter vindo de outro estado - os chamados “estrangeiros”, segundo os militares. 

Anderson também não duvida que tenha havido excessos na conduta dos militares que faziam a instrução do curso. 

Na visão do Ministério Público, o acontecido é considerado “tortura”. Por isso, 29 policiais, que participavam do treinamento no Lago do Manso, foram denunciados pelo crime. Onze deles, porém, tiveram a punibilidade extinta, em razão da prescrição do crime. 

Atualmente, 14 militares ainda respondem na Justiça, exclusivamente pela morte do soldado Abinoão.

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