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01/07/2020 às 21:20 | Atualizada: 01/07/2020 às 21:44

Aos 67 anos, médico cirurgião de Cuiabá supera covid-19 e fala sobre medo da morte

Eduarda Fernandes

Em meio a tantas notícias sobre óbitos causados pela covid-19, o Leiagora traz o relato de superação de Osmar Augusto Teixeira, médico cirurgião há 42 anos, morador de Cuiabá. Aos 67 anos e diabético, Osmar venceu a doença pandêmica. Hoje com leveza, ele fala do medo que sentiu ao enfrentar o novo coronavírus e comenta sobre a lição aprendida.

Osmar conta que após a declaração de pandemia, apesar de ser do grupo de risco por ser diabético e ter tido arritmia cardíaca, continuou trabalhando, mas com número reduzido de pacientes e tomando todos os cuidados exigidos pelo cenário pandêmico. “Tomei todos cuidados possíveis e fui tocando”, lembra.

Os primeiros sintomas surgiram no dia 10 de junho. Osmar sentiu desconforto na garganta, perda de apetite e febre. “Aí passou. Depois de quatro, cinco dias melhorei e não tinha mais nada”.

Contudo, uma semana depois, uma nova onda de sintomas acometeu o cirurgião. Dessa vez, perda de olfato, de paladar e cansaço excessivo diante de qualquer atividade rotineira, como almoçar, tomar banho e dirigir. “Aí falei: ‘não está certo isso, acho que estou com covid’ e fui fazer uns exames. O quadro era mais ou menos típico. Os exames deram negativo no começo e vim para casa”.

No teste rápido o resultado foi negativo, mas diante dos sintomas o PCR foi agendado para a segunda seguinte. Antes que o dia do exame chegasse, no sábado, a situação do cirurgião piorou. Ele apresentou baixo nível de saturação de oxigênio e a fadiga aumentou.

Osmar foi levado pelas filhas, também médicas, para o hospital e, diante do quadro, foi imediatamente internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde ficou por três dias.

Questionado sobre o que passou em sua cabeça naquele momento, ele responde: “’Minha missão está cumprida e fiz a minha parte, só não quero sofrer’. É isso que passa. Eu só brinquei com os meninos, falei: ‘olha, vocês vão para casa que eu vou fazer meu testamento de novo’”, comenta. “Porque não é nem pela doença, mas pelas complicações do tubo. Começa complicar mais o pulmão, o rim. Então a sensação que você tem é de total incapacidade e quando você conhece a doença e sabe o risco, você pensa: ‘poxa, acho que a minha parte está feita’”, acrescenta.

Com o quadro estável, o cirurgião foi liberado para seguir com o tratamento em casa, mas com o compromisso de informar sobre seu estado ao médico que o atendeu ao menos duas vezes por dia. O tratamento incluiu azitromicina, corticoide, vitamina D, C e Zinco, e dipirona em caso de febre, além de muita hidratação. Ele também fez uso de remédio homeopático.

“Com a homeopatia, as orações das pessoas que me conhecem, de todos os credos e com as dobras de joelho da minha mãe eu fiquei ótimo. Pronto para trabalhar”, conta entre risos.

Com a doença, Osmar Teixeira perdeu cinco quilos. A melhora ocorreu de forma gradual com a continuidade do tratamento e a diminuição dos sintomas. “Fiquei bom mesmo agora, dia 29, 30 dei uma melhorada boa”.

Sobre sentir medo, o cirurgião acredita que ninguém passa por essa experiência ileso. “Você pode estar preparado, ser espiritualizado, ter formação bem sólida de valores, mas nessa hora não presta, não, você fica com medo sim. Você pensa coisa ruim, passa um filme da sua vida na cabeça. Acho que ninguém sai de lá sem uma mudança importante. Por mais que o cara seja durão, ele vai sair com outros valores e pensamentos”, avalia.

Mesmo após ser liberado para seguir com o tratamento em casa, Osmar lembra que o medo persistiu, pois estava com 50% de comprometimento do pulmão. “Só fica seguro depois de uns oitos, 10 dias. Você começa a sentir gosto das coisas. O risco maior já passou. Mas o medo sempre fica”.

Osmar explica que optou por continuar trabalhando por respeito e consideração a seus pacientes. “Eu prezo muito o pessoal que eu atendo. Eles que criaram meus filhos, que me deram tudo o que eu tenho na vida. Então eu acho que tinha que atendê-los. E pegar, pega mesmo, não tem jeito. Eu estava atendendo de seis a oito pessoas por dias e o ruim não é aquele que chega com febre e cansado. O ruim é aquele que chega para conversar com um calo no pé, conversando e está passando a doença adiante. No mais é isso, alguém tem que se expor, faz parte. Tem que trabalhar, tem que atender. Se todo mundo sair correndo o paciente morre”, conclui.

O apelo que o médico faz ao final da entrevista é que, quem puder, fique em casa, e façam uso da máscara de proteção facial.
 
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