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10/07/2020 às 17:46

Governo descarta hospital de campanha e teme que se torne ‘elefante branco’

Camilla Zeni

Mesmo com 98% das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) destinadas ao tratamento do novo coronavírus ocupadas, não está nos planos do governo de Mato Grosso a construção de hospitais de campanha. Na avaliação do governo, a estrutura física de um novo hospital não sana o problema do Estado, que é considerado hoje o epicentro da pandemia no Brasil.

A avaliação foi feita pelo secretário de saúde do Estado, Gilberto Figueiredo, durante coletiva de imprensa nesta sexta-feira (10). O gestor ponderou que Mato Grosso tem se empenhado para a construção de novos leitos permanentes, em hospitais que já existem nas diversas regiões do Estado. Contudo, esbarra em problemas que transcendem a parte física dos hospitais.

“Não vai ser a chegada de uma estrutura física que vai resolver o problema. A não ser que ela viesse com tudo: equipamento, pessoal e medicamento. Agora nós estamos tomando medidas para prover aquilo que já existe. Não está no planejamento do governo do Estado a intenção de montá-lo, mas sem prejuízo dos prefeitos ao fazê-lo”, comentou o secretário.

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Antes do início das perguntas dos jornalistas, o gestor havia elencado a construção de 204 leitos novos para atenderem aos pacientes da covid-19. Desses, 40 devem ser entregues nesta sexta-feira, no Hospital Metropolitano de Várzea Grande. Já no interior do Estado, segundo Gilberto, os leitos em estágio mais avançado estão em Cáceres, ainda que não haja previsão de entrega das unidades.

Populares nessa pandemia da covid-19, os hospitais de campanha têm como característica o fato de não serem uma estrutura física e que costumam ter, em média, 40 leitos. Por isso, segundo o secretário estadual de saúde, eles não resolveriam o problema do Estado. 

Gilberto também revelou que o Ministério da Saúde não tem apoiado a construção de hospitais de campanha em determinadas regiões, como em Barra do Garças. A região tem chamado a atenção em razão dos casos de covid-19 detectados na população indígena. 

No início do mês, três índios da etnia Xavante morreram no mesmo dia, em Barra do Garças. Nessa segunda-feira (6), um dos líderes dos povos indígenas, o cacique Domingos Mahoro, de 60 anos, também foi vítima da covid-19. Apenas do povo Xavante, conforme o último levantamento realizado no Estado, mais de 100 indígenas tinham se infectado com a doença.

“Parece que o hospital de campanha sozinho traz as soluções, mas ele não traz. Lá em Barra estamos tentando fazer a ampliação de leitos de UTI e é uma dificuldade, imagina um hospital de campanha. Vai ser um elefante branco, sem ninguém para trabalhar”, avaliou o secretário.

Conforme o governo de Mato Grosso, a contratação de médicos tem sido a maior dificuldade dos últimos tempos. O estado já chegou a aumentar o valor do plantão médico e publicou dois chamamentos para contratação de profissionais.

No entanto, eles não estariam aparecendo. Segundo os cálculos apresentados pelo secretário, para cada leito de UTI são necessários pelo menos 60 profissionais, entre médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e psicólogos.
 
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