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12/07/2020 às 17:00

Um a cada cinco idosos diagnosticados com covid-19 morre por complicações

Camilla Zeni

Eles não são a parcela da população que mais se infectou com a covid-19 em Mato Grosso, mas formam maioria na relação de casos fatais. Do grupo de risco, os idosos são os que mais preocupam os médicos especialistas, porque são os que têm o sistema imunológico mais fragilizado para combater a doença. O resultado é que, a cada cinco que contrai a covid-19, um não se recupera.

Os dados foram compilados pela reportagem do Leiagora com base nas informações disponibilizadas diariamente pelo governo de Mato Grosso. Até o dia 8 de julho, quando as referências foram coletadas, o estado lamentava 921 vidas perdidas para o novo coronavírus. Conforme o levantamento, 570 dos casos fatais envolveram pessoas com 60 anos ou mais, o equivalente a 61% do total de óbitos. 

Já com base nos dados de pessoas infectadas, o governo separou aqueles que tinham 61 anos ou mais, sendo eles 3.001 pacientes dos 26.396 casos totais. Nessa margem, percebe-se que os idosos representam apenas 11% do total de pessoas diagnosticadas com covid-19. 

Pelas referências apresentadas, portanto, aponta-se que, em Mato Grosso, um em cada cinco idosos diagnosticados com a covid-19 veio a óbito.

A médica geriatra Waltyane Pinheiro Poussan* explica que os idosos são os mais vulneráveis porque, com o tempo, tiveram o enfraquecimento do sistema imunológico, ou seja, seus corpos já não reagem contra uma infecção da forma como deveria.

“Com o envelhecimento do sistema imunológico, que é uma coisa patológica e vai acontecer naturalmente, o idoso tem mais doenças crônicas e cardiovascular. Eles são grupo de risco para todas as doenças”, destaca a médica.

De acordo com a especialista, o problema é que, aquele corpo que já está debilitado em razão de outras comorbidades, acaba sofrendo estresse quando uma infecção, como é o caso da covid-19, aparece. Para piorar, a doença tende a agravar as demais intercorrências.

“A covid tende a piorar a parte cardíaca e pulmonar e ela desencadeia todas as outras ocorrências. É como se a covid fosse um gatilho. E quando a doença tem acometimento pulmonar, como é a covid, a gente aumenta em 70% a mortalidade do idoso, porque, como o organismo já está ruim, mesmo intubando o paciente tem muita dificuldade de responder ao tratamento”, explica a médica. 

Medo e medicação
Associada a uma rede de saúde particular em Cuiabá, Waltyane viu, nas últimas semanas, o número de idosos diminuir em seu consultório. Segundo ela, há um medo tanto dos responsáveis quanto dos próprios pacientes em sair de casa nesse momento de pandemia. Contudo, ela pondera que, principalmente nessa idade, é necessário manter a rotina médica.

“Muita gente não está saindo de casa com medo da covid, mas se esquece que tem outras doenças. É por isso que tem idosos internando já em estado muito grave. Os pacientes continuam infartando, independentemente da pandemia, continuam com infecção urinária, e as famílias estão deixando de levá-los. Eles estão morrendo em casa”, diz.

Outro ponto de preocupação levantado pela médica é quanto ao fenômeno da automedicação, que, com a covid-19, não foi diferente. “Todo mundo quer dar ivermectina pro idoso e ele é o maior grupo de risco para medicações”, ela alerta. A médica lembra que os idosos demoram mais para metabolizar os remédios, e que algumas medicações podem desencadear arritmia. 

Para a geriatra, as pessoas devem parar de buscar por receitas milagrosas e começar a cuidar da saúde para ter um envelhecimento mais saudável. Ela pontua que, para todos os pacientes que perguntam qual é a receita contra a covid, a resposta é a mesma: “manter o isolamento social, a dieta, a rotina de exercícios e a vacinação da gripe em dia, porque agora é época de doenças respiratórias, e a vacina de pneumonia. Não tem uma proteção direta, não adianta se entupir de polivitamínicos”.

Ela também chama a atenção para a necessidade do isolamento social, uma vez que, em sua maioria, quem transmite a covid-19 para os idosos são os mais jovens, que saem de casa com mais frequência. “Geralmente quem está circulando é o que leva, né. Tem gente que não tem como ficar em casa, trabalhando em home office, e ai tem que tomar o máximo de cuidados possível”.

*CRM 6793 / RQE 3688
 
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