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23/07/2020 às 10:40 | Atualizada: 24/07/2020 às 11:44

Mais de mil médicos estão impedidos de trabalhar devido burocracia imposta pela UFMT

Edyeverson Hilario

Uma das maiores crises da saúde neste período de pandemia da covid-19, principalmente em Mato Grosso - que se tornou o epicentro da doença -, é a falta de profissionais na área de saúde, dentre eles, médicos. Só que existem vários disponíveis para o trabalho, que estão impedidos de atuar na linha de frente por causa da burocracia na revalidação do diploma de médico formado no exterior. 

Atualmente, são 1.021 profissionais aguardando a Universidade Federal de Mato Grosso realizar a última etapa da prova, que poderia tranquilamente ser realizada de maneira online, assim como a instituição optou por realizar a eleição para a reitoria, porém, ao invés disso, adiou mais uma vez a prova sob a justificativa da pandemia. Vale ressaltar que é por este motivo que o sistema de saúde precisa dos médicos. 

Felipe* é dos profissionais que aguardam a prova para poder atuar no atendimento de pacientes com covid-19. Ele espera desde 2018, quando concluiu o curso na Bolívia e optou por fazer sua revalidação de diploma na UFMT. O processo que começou dias depois de pegar o diploma na faculdade estava perto de ser finalizado, contudo, “a burocracia”, como ele define, não permite que ele conclua a validação do seu diploma.
 
Segundo Felipe, essa última prova não é um empecilho para quem está fazendo a revalidação do diploma. “Quando entramos, sabíamos como iria funcionar todo o processo. O problema não é a prova, nem mesmo o processo. A questão é o adiamento da prova e não optarem por aplicar ela online. Eles [UFMT] poderiam fazer a prova online, inclusive tem respaldo do Ministério da Educação para isso, mas não querem fazer. É uma burocracia desnecessária”.
 
Agora, os profissionasi formados no exterior vão ter que aguardar ainda mais a realização da prova, situação que, para Felipe, é desagradável, já que ele entende que poderia estar contribuindo no atendimento médico, sobretudo nesse período de pandemia. “Sabemos que tem gente precisando de atendimento médico e nós não podemos ajudar”, desabafa.
 
Ele lembra que depois de chegar da Bolívia com o canudo em mãos, teve que entregar diversos documentos que comprovaram a conclusão do curso no exterior, carga horária e assuntos estudados. Aprovado nessa etapa, ele e os demais 1020 médicos fizeram provas prática e teórica, mas não conseguiram a revalidação do diploma. Por esse motivo, precisaram fazer uma complementação de estudos.
 
Nessa fase, eles precisaram participar de aulas teóricas e práticas que, somaram mais de 2250 horas, em um período de 12 meses. Carga essa que já é superior de alunos que acabaram formados com a antecipação do curso em abril, por exemplo. 

Neste um ano, esses médicos atuaram nas cinco especialidades básicas, que são: cirurgia geral, clínica médica, pediatria, ginecologia e obstetrícia, e medicina de família e comunidade, dentro de unidades hospitalares.
 
Vencida essa fase, o grupo agora precisa realizar a prova, que foi adiada para setembro, mas que ainda não há certeza de realização, dado ao possível agravamento do avanço da proliferação do coronavírus no Estado.

Eleição online para reitor 
 
Enquanto a Faculdade de Medicina (FM) alega estar consciente das necessidades destes profissionais neste momento de pandemia e diz avaliar alternativas para a realização do exame, de forma que não coloque em risco à vida dos servidores, a UFMT planeja realizar a eleição para reitor de forma virtual.
 
A decisão evidencia a prioridade da instituição e é alvo de crítica pela comunidade acadêmica. Marcada para essa sexta-feira (24), a eleição para a reitoria não é bem vista por professores, alunos e técnicos administrativos, que avaliam como um “atropelo” da atual gestão da Universidade.
 
Dentre as principais críticas está a mudança do peso dos votos de professores, alunos e técnicos administrativos. Antes, o voto de cada membro da comunidade acadêmica tinha o mesmo peso, agora o voto dos professores tem peso de 70%, restando 30% que é dividido de forma igual para os alunos e técnicos administrativos.

Articulação política
 
Segundo divulgaram, o senador Carlos Fávaro (PSD), o secretário de Estado de Saúde, Gilberto Figueiredo e ainda o deputado Delegado Claudinei (PSL) intercederam para que a UFMT acelerasse o processo, para que esses profissionais fossem rapidamente inseridos na linha de frente do combate do novo coronavírus, em razão da falta de profissionais nos hospitais, contudo, não obtiveram respostas concretas.

*Nome usado para o personagem foi alterado para preservar a identidade
 
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