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03/08/2020 às 16:33

Conselheiro tinha R$ 4,2 milhões em cheques de empresa ligada a lavagem de dinheiro

Camilla Zeni

Ação da Polícia Federal, na 16ª fase da Operação Ararath, encontrou mais de 30 cheques de posse do conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Waldir Teis. Desses, pelo menos 10 eram ligados a uma empresa envolvida em lavagem de dinheiro no município de Maringá, no Paraná, e movimentavam ao menos R$ 4,2 milhões.

Segundo o Ministério Público Federal (MPF), cinco cheques assinados em branco pela Conceitual Empreendimentos Imobiliários Ltda foram encontrados. A empresa, conforme as investigações, está envolvida com lavagem de capitais por meio de Cleyton Souza Andrade, que teria ligações diretas com Júlio Teis, filho do conselheiro. 

Da mesma empresa também foram encontrados canhotos de outros cinco cheques, sendo quatro deles com valor de R$ 100 mil cada e um com pagamento de R$ 3,8 mil. No total, as cinco folhas representavam R$ 4,2 milhões. Ainda segundo o MPF, outros canhotos sem anotações foram apreendidos. 

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"Um detalhe a ser observado é que o talonário foi confeccionado em 04/2020, o que demonstra que a utilização da empresa, envolvida em lavagem de capitais, é recente", observou o MPF.

Ainda de acordo com o órgão, foram encontrados 13 canhotos de cheques ligados a Emanoel Bezerra Junior, que também atua no escritório. Oito talões, assinados em 2019, somavam R$ 1,2 milhão, tendo sido usado para pagamento de R$ 155 mil a uma pessoa identificada como André. Além desse, outro cheque sozinho apontava a movimentação de R$ 3.980.000,00.

Ao todo, apenas dos cheques e canhotos identificados, foram localizados R$ 9,8 milhões. Nas buscas também foram localizados R$ 56 mil em espécie e um envelope com R$ 6 mil na sala de Teis, endereçada à Office Consultoria, empresa de Emanoel Júnior. Quanto aos canhotos de cheque da conta a Office Consultoria, tem-se que anotações de pagamentos que somam R$455.705,00.

As informações constam na decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, que na noite de sexta-feira (31) determinou a soltura de Waldir Teis

Conselheiro nervoso
Waldir Teis foi preso em 1º de julho, por decisão do ministro Raul Araújo, do Superior Tribunal de Justiça, acusado de tentativa de obstrução da Justiça.

Ocorre que, no dia anterior da prisão, em 31 de maio, Teis foi alvo de busca e apreensão da nova fase da Operação Ararath. Contudo, tentou se livrar dos cheques e canhotos em uma lixeira 16 andares abaixo de seu escritório, para onde desceu de escadas mas foi seguido por um agente da Polícia Federal. 

O MPF apontou, ao propor o pedido de prisão, que Teis estava bastante nervoso e chegou a tremer ao deixar sala sala, durante as buscas, e se aproximar de um bebedouro de água. Ao perceberem o sumiço, os agentes da PF foram até ele e informaram que, se ele continuasse com a conduta, teria que ser revistado. 

"Dado o seu nervosismo, com as mãos tremendo, chegam a perguntar se ele estava passando mal e, na oportunidade, ele diz que não, mas que tinha um compromisso, sendo-lhe autorizado sair do local da busca", narrou o MPF. Apesar da autorização, após deixar o espaço, Teis foi seguido por um agente da PF que considerou suspeito o comportamento do conselheiro.

Apesar do crime ser considerado grave, o presidente do STF acatou o pedido de soltura, considerando que o conselheiro tem 66 anos e é do grupo de alto risco para o novo coronavírus, por ser hipertenso e sofrer de cefaleia, tontura e palpitações. Um atestado de um cardiologista foi apresentado.
 
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