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10/08/2020 às 16:40 | Atualizada: 11/08/2020 às 19:18

Mulher que guardou roupas das filhas de Cestari fala sobre outro incidente com 'pólvora' na casa

Eduarda Fernandes e Alline Marques

Na noite da morte de Isabele Guimarães Ramos, 14 anos, ocorrida em 12 de julho deste ano no condomínio Alphaville, em Cuiabá, a amiga da adolescente que assumiu a autoria do disparo tomou banho e trocou de roupa na casa do namorado da irmã, um vizinho da família. Essa casa pertence à empresária C.A.C., 44 anos.

Ela relatou, inclusive, que 
“ouviu dizer que em dezembro de 2019 houve um acidente com pólvora na casa da família Cestari". Porém, questionada se sabia da existência de arma na casa dos vizinhos, disse que desconhecia o fato. Apenas tinha conhecimento de que faziam curso de tiro por ter visto postagem no instagram de uma das adolescentes. 

A noite do crime


Logo após o crime, as três filhas do empresário Marcelo Martins Cestari, proprietário da residência onde Isabele foi morta, foram levadas até a casa de C. por seu filho. Ela encontrou roupas de duas das adolescentes na sala de sua casa um dia após o ocorrido. Guardou-as por nove dias então entregou para a polícia.

C. é citada no depoimento da mãe de Isabele, Patrícia Helen Guimarães Ramos. Leia a matéria aqui.

O depoimento foi prestado na manhã do dia 22 de julho, 10 dias após a morte de Isabele, ao delegado Francisco Kunze Júnior. C. iniciou contando que seu filho é muito amigo dos filhos de Marcelo e Gaby Cestari e, inclusive, há pouco tempo começou a namorar uma das filhas do casal, gêmea da que assumiu autoria do disparo. Ressaltou que, apesar disso, ela e seu esposo W. não têm relação de amizade com o casal e nunca frequentaram a casa deles.

No dia em que Isabele foi morta, C. lembra que depois do almoço seu filho disse que ia até a casa de um amigo e só tornou a vê-lo por volta das 17h, quando o encontrou no condomínio, chegando à casa da família Cestari.

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Por volta das 18h, relata que mandou mensagem ao filho dizendo que faria macarrão, perguntando se ele iria querer. Contudo, não esclarece se obteve resposta. Às 20h, o marido de C. ligou para o filho e pediu que ele voltasse para casa, mas não sabe o que ele respondeu ao pai.

C. também não soube pontuar a hora, mas narrou que seu filhou “abriu subitamente a porta de seu quarto aparentando desespero, passando o antebraço na testa e falando ‘mãe, aconteceu um acidente, aconteceu um acidente, foi a Bel mãe... as meninas estão aqui embaixo’”.

A mãe desceu as escadas e se deparou com as filhas de Cestari, também visivelmente apavoradas, e então perguntou o que havia acontecido. A filha mais velha, “puxando o fôlego para falar, respondeu: ‘é que lá em casa tem arma’”.

C. se recorda que uma das gêmeas, a que assumiu a autoria do disparo, chorava desesperadamente e respondeu “eu não sei, a maleta caiu”.

Passado algum tempo, Gaby Cestari, mãe das meninas, chegou à residência, aproximou-se da filha autora do disparo, segurou seus braços e falou: “Filha, ela morreu. Você tem que ser forte. Ela está morta”.

C. informou ao delegado que não se lembra exatamente a ordem cronológica dos fatos, mas mencionou que Marcelo Cestari esteve rapidamente em sua casa, “apenas lhe pediu desculpas, deu uma olhada e foi embora”. Além disso, contou que uma pessoa, que também não se recorda quem, esteve em sua casa e chamou pela adolescente, que teria atirado em Isabele, para ir embora, pois a polícia estava na casa onde o crime ocorreu.

Devido à movimentação de pessoas e da polícia, C. pediu que seu filho ficasse em casa e que, se fosse chamado, poderia ir. Mais tarde, seu filho foi chamado e permaneceu na casa dos Cestari até que todos fossem liberados.

Após seu filho retornar para casa, perguntou onde ele estava no momento do fato e ele respondeu que estava na parte de baixo da casa com a namorada.

Ações após o crime e as roupas encontradas

No dia seguinte, C. diz ter procurado orientação com a psicóloga que acompanha o filho e foi orientada a não fazer perguntas sobre o ocorrido, e deixar que ele falasse somente quando fosse convocado a prestar depoimento. Assim ela informou ter agido.

Também no dia seguinte, “a depoente encontrou na sala de sua casa algumas peças de roupas (uma blusa branca, uma saia longa e uma blusa preta) e as recolheu”. C. perguntou ao filho de quem seriam aquelas roupas e ele respondeu que a blusa preta era de sua namorada, e que a blusa branca e a saia eram da irmã dela, autora do disparo.

“A depoente guardou as roupas até o dia 21/07/2020, data em que a polícia as recolheu”, diz trecho do depoimento.

Armas na casa 

Ainda no depoimento, C. afirmou que sabia que a família Cestari participava de clube de tiro, pois já havia visto uma das filhas atirando, em publicação feita no Instagram. Pontuou que não sabia que as armas ficavam na casa da família, achou que ficavam no clube de tiro. Na sequência, relatou que “ouviu dizer que em dezembro de 2019 houve um acidente com pólvora na casa da família Cestari".
 
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