Imprimir

Imprimir Notícia

23/08/2020 às 08:45 | Atualizada: 23/08/2020 às 08:51

Custo Brasil, insegurança jurídica e burocracia afundam a competitividade, diz presidente da Fiemt

Edyeverson Hilario

Os efeitos do coronavírus foram devastador não apenas na área da saúde, mas também na economia e o presidente do Sistema Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso (Sistema Fiemt), Gustavo de Oliveira, falou com a reportagem do Leiagora sobre os desafios do setor, a política de incentivos, os gargalos da produção, além claro do impacto da pandemia na indústria, e seu futuro após a Fiemt. 
 
Para se ter uma do efeito da pandemia ao sistema, Gustavo estima que serão necessários de 3 a 5 anos para que se volte ao patamar que estava antes do coronavírus. O desenvolvimento de projetos, principalmente os que envolviam o encontro de pessoas, como as capacitações, foi um dos mais prejudicados, o que afeta diretamente a produção, já que um dos gargalos é justamente a falta de mão de obra qualificada.
 
À frente do Sistema Fiemt desde 2018, Gustavo segue no comando da federação até 2022 e, segundo ele, depois de encerrar o mandato, vai continuar contribuindo com a sociedade através do setor privado, sem pretensões políticas. 

Leiagora - MT é extremamente importante na produção agrícola do Brasil e com previsão de alta para os próximos anos. Já a indústria parece não acompanhar esse ritmo. Como você avalia o setor industrial do Estado e por que não acompanha esse crescimento?
 

Gustavo - A indústria de Mato Grosso cresce bastante e cresce em uma taxa vigorosa porque o Estado cresce de maneira muito vigorosa. A gente mesmo nessa crise, enquanto o Brasil está projetando uma queda no PIB, os números devem mostrar um crescimento no PIB de Mato Grosso no ano de 2020. Por dois motivos muito essenciais.

O primeiro são as vocações econômicas do Estado, claro, ligadas ao agronegócio, à mineração, à atração de investimentos em alguns setores industriais, como por exemplo, do etanol de milho, que está recebendo aí, mais de R$ 10 bilhões em investimento, em um intervalo de cinco anos. A vocação econômica do estado está em sintonia com produtos que têm alta demanda no mercado mundial.
 
Então, quando a gente fala do mercado de carne de Mato Grosso batendo recorde, isso ocorre porque o mundo está consumindo cada vez mais carne. Quando a gente fala de geração de energia, que Mato Grosso é campeão, isso é industrial, é porque o mundo está precisando cada vez mais de energia e energia renovável, então a gente produz isso aqui.

O que não se vê é a indústria de bens de consumo, a indústria voltada para o consumidor final e isso sim, acho que aí não é um problema da indústria mato-grossense, mas da indústria brasileira. A indústria brasileira tem perdido espaço no mercado mundial. Se por um lado a agroindústria aqui no Estado vai bem e cresce bem, é um fato que a gente não tem uma indústria de transformação, principalmente de bens de consumo se desenvolvendo aqui no Estado, como também não tem no Brasil.
 
Leiagora - Quais são os principais problemas que o setor industrial enfrenta no estado?
 

Gustavo - Você tem alguns problemas aí como o custo Brasil. Em um PIB de R$ 7 trilhões a gente tem quase R$1,5 trilhão, todo ano, que as empresas brasileiras, o conjunto delas, gastam com encargos trabalhistas acima do que se paga na média dos países da OCDE, em custo com insegurança jurídica, em custo com a nossa logística ruim, custo com energia mais cara, que acontece aqui no Brasil, e quando eu falo energia, não é só energia elétrica, mas combustível também, diversas outras formas de energia, como o gás.
 
Então esse custo Brasil afunda muito a competitividade das empresas brasileiras. Acho que o principal é o que chama aí do custo de fazer negócio no Brasil. Além da insegurança jurídica, tem burocracia, tem a dificuldade de marcos regulatórios, muito antigo no país. Empresários que vêm de fora, de outros países para cá, tem uma grande dificuldade de operar no Brasil, porque é uma dificuldade o ambiente de negócio brasileiro.
 
É uma agenda de reformas que o país precisa para que a gente possa ter mais competitividade frente a outros países do mundo, que sem dúvida, cresce mais. 
 
Leiagora - Como você avalia as ações do governo tanto federal, quanto estadual diante da pandemia?
 

Gustavo - O ideal seria que diante de um problema tão grande, nós tivéssemos uma unicidade não só na estratégia de enfrentamento da pandemia, mas também nas ferramentas de enfrentamento de apoio da população. Infelizmente não foi o que a gente viu. A gente viu um governo federal, com uma dificuldade muito grande de articular com os governos estaduais as linhas de ação.

A pandemia acabou virando pano de fuga para uma grande briga política no Brasil e essa briga política vai desde decisões econômicas de abrir e fechar segmentos econômicos até o uso de um remédio específico. A hora que a gente contamina decisões que precisam ser tomadas para o melhor do conjunto do país, a hora que elas começam a ser tomadas com viés mais político do que de efetividade, isso prejudica e prejudicou o país inteiro.
 
O destaque que eu penso, é que aqui em Mato Grosso, a gente apesar de ter um sistema de saúde pública principalmente com grande déficit de leitos hospitalares de leitos de UTIs, a resposta à construção dessa estrutura hospitalar foi muito positiva.

Em segundo momento, a gente teve a disseminação de estratégia de enfrentamento precoce. Porque como MT acabou ficando para trás no time  (tempo) epidemiológico, a epidemia chegou aqui depois de ter passado por outras cidades e outros estados, a gente acabou aprendendo bastante e a experiência de Manaus, Belém e outras cidades nos mostrou que é muito melhor e mais barato investir no tratamento precoce, ou seja, aos primeiros sinais da doença, do que esperar o desenrolar da doença para ver se a pessoa vai precisar ou não do atendimento hospitalar, com hospitais já sufocados.
 
Outra coisa que atrapalhou bastante foi a ideia que rapidamente se atingiria no país a imunidade, ou de que podia ter a solução de um remédio preventivo ou uma vacina. Muita gente se apegou a isso. A gente sabia que isso não ia acontecer nesse ano, como de fato não deve acontecer. Estamos chegando a setembro e ainda tem gente achando que a população vai ser vacinada esse ano. Esse tipo de coisa é ruim, eu acho que a gente precisa ser sincero.

Apesar de termos diversos acertos no meio do caminho, a falta de coordenação e a briga política atrapalharam muito o enfrentamento da epidemia no país inteiro.
 
Leiagora - De que forma a pandemia do coronavírus impactou o setor? Ocorreram muitas demissões? Já tem um levantamento do impacto financeiro que ela causou para as indústrias?
 

Gustavo - Primeiro, 90% das nossas indústrias são micro e pequenas indústrias. São indústria como de panificação, de reparação de automóveis e tantas outras, que dependem do negócio aberto, porque elas fazem venda direta ao consumidor final. Então, esses segmentos industriais foram muito afetados, porque sofreram com o fechamento das suas atividades para o público. Sofreram com a falta de financiamento e de capital de giro. Sofreram com a dificuldade de honrar seus compromissos, com tributos, com fornecedores e até mesmo com seus empregados. Pagar sua folha de pagamento, porque elas não têm um colchão de poupança e não houve uma estratégia suficiente de socorro financeiro nessas empresas. O resultado é que muitas delas hoje estão em dificuldade financeira, aliás, mais de 80% das indústrias do estado relatam que a situação financeira delas hoje é pior do que era antes da pandemia e nós vamos precisar, ao longo dos próximos meses de estratégias eficientes para socorrer esses empreendedores.
 
Como isso por acontecer? Por meio de apoio financeiro, como liberação de linhas de créditos, pode ser através de postergação ou cancelamento do pagamento de impostos, flexibilização das relações trabalhistas. Tem todo um conjunto de medidas que podem ser adotadas para que essas empresas possam readquirir fôlego financeiro. Voltar a operar dentro do que é possível nessa nova configuração social e econômica que a pandemia trouxe e a partir daí voltar a ter uma trajetória de lucro e sucesso.
 
Alguns setores me parecem que vai ter um impacto mais duradouro. Setor de eventos, por exemplo. Setor de transporte aéreo. São setores que preocupam muito, porque embora não seja setores industriais, eles dão apoio ao funcionamento do setor industrial. É impossível você ter, por exemplo, feiras para promover os produtos industriais, sem que o setor de eventos esteja funcionando.
 
É difícil fazer negócios há distância, a gente precisa do setor aéreo funcionando. A gente precisa de todo setor de hotelaria funcionando. Isso ajuda o ambiente de negócio como um todo. E aí é preciso que a gente entenda como é que vai ser o apoio e o socorro a esses setores, para que a economia possa girar dentro de uma normalidade possível em uma pandemia.
 
Leiagora - O governo confirmou que a empresa responsável por construir ferrovia (malha norte) vai ligar Cuiabá, Lucas do Rio Verde e Nova Mutum. Isto vai ter que alterar o projeto e pode causar atrasos? Enfim, os trilhos passarão mesmo pela capital? E quais são os benefícios dessa rota?
 

Gustavo - Primeiro, o maior atraso dessa ferrovia é o atraso burocrático, ficou presa muito tempo à renovação da malha paulista que era fundamental para ampliar a capacidade da ferrovia que chega a Mato Grosso e isso foi resolvido há poucos meses. Agora tem um problema, para que se possa agilizar a assinatura do Ministério dos Transporte da extensão dessa concessão, para que os trilhos que estão hoje em Rondonópolis, possam chegar em Cuiabá, Nova Mutum e Lucas do Rio Verde. Mas fundamentalmente o que nós precisamos entender é, se esses terminais, vamos chamar assim, vão trazer competitividade para as empresas locais.
 
As pessoas as vezes tem discussões muito presas, se a ferrovia vai passar por aqui ou por alí. Passar é secundário. O que é fundamental é que por onde ela passar, ela tenha terminais que tragam competitividade para as empresas que operam ali. Vamos olhar Rondonópolis, a operação de trazer combustíveis, por exemplo, de São Paulo, para cá, foi barateada porque as empresas puderam montar terminais de combustíveis lá onde a ferrovia chega hoje e se o Médio-Norte do Estado quiser também ter isso, a gente vai precisar desse investimento ali.

Se Cuiabá quiser ter um centro logístico para transporte, principalmente de cargas fracionadas, conteinerizada, tudo isso, a gente precisa de um terminal eficiente aqui em Cuiabá para movimentação de containers, com questão aduaneira resolvida, quer dizer, a gente poder importar mercadorias e fazer o desembaraço delas aqui no terminal de Cuiabá.
 
Enfim, tem uma série de questões que caminham juntos. Ter a ferrovia é fundamental, mas se todo esse conjunto de coisas não funcionar também, a ferrovia chega e a competitividade não chega junto. Então o que nós defendemos é infraestrutura para competitividade, essa é a agenda da Fiemt. Inclusive, os representantes da companhia, da Rumo, estiveram comigo em uma reunião e nós já definimos uma agenda justamente de estudos para que a gente garanta essa competitividade dos terminais que vão ser, com sorte, operados pela Rumo.
 
Leiagora - Vale lembrar que recentemente o TCU também liberou a Fico, mas a previsão é que ela ainda demore um pouco para sair do papel, qual é a expectativa do setor com esta ferrovia? E o quanto as ferrovias podem estimular a vinda de novas indústrias a Mato Grosso?
 

Gustavo - A gente entende que primeiro, para toda a região de Água Boa, a gente fala desse município, mas é para um raio de até 400km ao redor, essa ferrovia vai ser muito importante. Ela tem duas grandes vantagens. A primeira é que ela vai ser feita pela iniciativa privada. A Vale é que vai construir a ferrovia, então a gente não precisar de todo um processo de licitação, de construção com recurso público e o dinheiro para a construção dela já está em caixa, quer dizer, uma ferrovia que nasce com agilidade de construção e com recurso já depositado para fazer. Ela vai ser muito importante para toda aquela região. Não só para o desenvolvimento industrial, mas para o desenvolvimento socioeconômico de toda região, vai trazer muita viabilidade para as atividades econômicas diversas ali, e em uma segunda etapa, se futuramente ela também chegar a Lucas do Rio Verde, vai ser mais uma alternativa para o médio norte do Estado.
 
O que nós temos de certo é que ela hoje chega a Água Boa nessa primeira expansão custeada pela Vale do Rio Doce com recurso privado e isso em si, já é muito bom para o Estado.
 
Leiagora - O que podemos esperar da indústria mato-grossense nos próximos anos?
 

Gustavo - Primeiro um crescimento cada vez mais dentro do centro da vocação econômica do Estado. Produzir alimentos, produzir proteínas. A economia verde é algo que cada vez mais vai ter destaque na economia mundial, então, quaisquer que sejam os nossos produtos, seja eles de base florestal, carnes e proteína vegetal, ou tantos outros, eles têm que ter conformidade ambiental, tem que ter respeito ao que os nossos mercados consumidores pedem. E, principalmente, o que pode se esperar é uma indústria cada vez mais competitiva.
 
A gente já tem aqui uma indústria consolidada na produção de etanol que está em franca expansão. Biodiesel é uma grande oportunidade. Energia elétrica um potencial gigantesco ainda a ser explorado. Eu penso que nós temos aí, diversos segmentos industriais com cenário muito positivo, o que nós não temos é uma indústria voltada para o consumidor final aqui do Estado.

Somos um estado, com pouca densidade populacional, então cada vez mais o que vamos ver é essa pequena e micro indústrias se desenvolvendo, aonde o desenvolvimento socioeconômico acontecer, quer dizer, nos municípios que tiverem um crescimento maior no seu PIB nos próximos anos e as grandes industrias vindo para cá para aproveitar o potencial econômico do Estado.
 
A micro e pequena indústria vai se desenvolver para atender o mercado local, então ela se desenvolve onde tem crescimento socioeconômico e as médias e grandes indústrias vão aproveitar muito o fato de que Mato Grosso tem vocações econômicas muito alinhadas com o crescimento da demanda por produtos no mundo inteiro. Respeitando as regras de produção socioambiental consistente e fazendo um bom trabalho de produtividade, a indústria tem um cenário muito produtivo para os próximos anos.
 
Leiagora - Em maio o sistema teve que demitir quase 200 funcionários, devido aos cortes do governo. Há uma previsão para o retorno das atividades nas unidades do Sesi e Senai, e contratar novos funcionários? Há uma previsão para a retomada dos cursos do Senai que estão paralisados?
 

Gustavo - Basicamente, com a pandemia, nós tivemos que reduzir a atuação da nossa instituição desse ano, mais ou menos, ao nível da produtividade de 2007. Isso estou dizendo para você, porque foi um retrocesso de 13 anos no tempo. A gente imagina que para 2021, parte desse caminhar para trás, vamos chamar assim, vai ser recuperado. Não vai ser inteiro em um ano, isso não é fato. Mas a gente espera que em um horizonte de quatro, talvez cinco anos, a gente esteja além do que estávamos antes do começo da pandemia.
 
Mato Grosso cresce muito. A indústria tem uma boa performance, então é natural que a gente volte a desenvolver a instituição. Então eu diria para você que num intervalo de 3 a 5 anos a gente retoma ao ponto aonde a gente estava antes da pandemia. Pode parecer muito tempo, mas não é tanto se a gente olhar o sofrimento econômico, que o país foi submetido durante essa pandemia.

Nossa esperança é rapidamente voltar a crescer, crescer depressa, de maneira consistente e continuar a trajetória de abrir novas unidades, contratar novos profissionais e cada vez mais apoiar a indústria. É isso que a gente precisa retomar logo, tão logo esse dano econômico passe.
 
Leiagora - Uma pauta recorrente entre o setor da indústria e o governo é com relação aos incentivos fiscais. Recentemente houve mudanças na legislação. Qual foi o impacto para o setor e qual seria a política ideal de benefícios para estimular a vinda de indústrias para Mato Grosso?
 

Gustavo - Bom, primeiro o que a gente defende é que seja reduzida a diferença competitiva da empresa industrial instalada em Mato Grosso, em relação a que está instalada em outros Estados da federação. A gente precisa reduzir o custo logístico e para isso, por exemplo, a chegada das ferrovias é fundamental, que esses projetos ferroviários funcionem. A gente precisa baratear o custo da nossa energia e para isso a gente tem conversado com a concessionária de energia, com a Energisa, com a MT Gás, que fornece gás, que é outra forma de energia aqui para os contribuintes industriais de Mato Grosso, para os empreendimentos industriais. A gente tem conversado com o setor de combustíveis. Nós precisamos de energia mais barata de uma maneira geral.
 
Precisa de mão de obra mais qualificada, pessoas realmente capacitadas para operar equipamentos que hoje são muito modernos, que tem aí uma tecnologia embarcada muito grande e as pessoas que vão operar, que vão dar manutenção nesses equipamentos, eles têm que saber extrair o máximo desses equipamentos, isso vai desde os mais simples, mais clássicos como tratores, carregadeiras, colheitadeiras, até plantas industriais inteiras automatizadas, a chamada Indústria 4.0. Então trabalhar a questão de uma mão de obra capacitada também é fundamental.
 
Quando a gente fala de incentivo, incentivo nada mais é do que uma compensação por desvantagem que um empreendedor tem para ficar naquele lugar. Eu acho que se a gente tiver uma agenda muito forte de melhoria de gargalos, vamos chamar assim, que é isso que eu te falei, em pouco tempo, a gente pode migrar de um modelo no qual hoje a gente precisa para reduzir a diferença competitiva para um modelo onde o estado ofereça condições tão competitivas aos empresários que escolherem vir para cá, que o conjunto de incentivos vai existir naturalmente, a gente não vai precisar mais de incentivo fiscal. A gente vai ter incentivo real no campo dos negócios. Com logística barata, com mão de obra bem produtiva e com empresas modernas aqui.
 
Leiagora - Em breve vai ocorrer as eleições municipais, qual é o perfil de representante que você avalia como ideal para auxiliar na chegada de indústrias para a cidade? Quais as vantagens para o gestor municipal em ter uma política de atração de indústrias?
 
Gustavo - Até um tempo atrás você ser um agente público desenvolvimentista significava você usar recurso público para tomar as ações, construir infraestrutura, fazer qualificação e tudo isso. No cenário de hoje, no qual as contas públicas estão muito apertadas e até mesmo deficitária em muitas regiões do país, como no próprio governo federal, o gestor público precisa ser um indutor do desenvolvimento. Ele precisa criar o ambiente para que o investidor privado possa, ele sim, ser um grande motor do desenvolvimento.
 
A era do desenvolvimento com o gasto público acabou no país. Os gestores que tentarem cair por esse caminho, eles rapidamente vão ser percebidos pela população como vendedores de ilusão, não tem conta pública que suporte isso, a gente já viu esse desastre acontecendo em muitos municípios do país e esse ano, essa vai ser a grande discussão.

Como é que o gestor pode promover o desenvolvimento na sua cidade? Principalmente porque é eleição municipal, apesar de termos eleição suplementar para o Senado, mas, como é que pode promover o desenvolvimento municipal usando o mínimo de recurso público e fazendo o máximo de parceria com instituições e empresas privadas, para gerar o melhor retorno por real aplicado, vamos chamar assim?
 
Leiagora - Vamos vê-lo concorrendo algum cargo político em breve?
 

Gustavo - Não, eu entendo que já trabalhei por três anos para o setor público. Eu entendo que a minha melhor contribuição para o país e para o desenvolvimento do Estado pode ser feita do setor privado. Hoje tenho compromisso aqui com a Fiemt até o final de 2022, então nem nesse pleito desse ano, nem no próximo sou candidato a nada e a tendência é que depois de encerrada a minha presidência aqui na Fiemt, em novembro de 2022, eu continue contribuindo através do setor privado.
 
Acho que instituições e organizações onde a gente têm espaço para fazer essa contribuição existem muitas no país e eu posso daqui do setor privado dar minha contribuição de maneira muito efetiva. Não precisa ocupar um cargo público, não precisa sentar em uma cadeira de gestor público para fazer o melhor para o conjunto do país. É nisso que eu acredito. Então, te digo com toda tranquilidade, não está nos meus planos. Não é algo que eu desejo e queira. Não é algo que eu deva fazer porque meu planejamento de vida, de carreira, está muito ligado ao setor privado. É onde eu entendo que eu entrego o melhor resultado para a sociedade
 
Leiagora - O senhor foi secretário do governo do estado, mas agora representa o setor das indústrias. Como o senhor avalia as tomadas de decisões do governo com relação ao setor e aos incentivos às indústrias?
 

Gustavo - Primeiro, é preciso reconhecer, eu fiquei durante 3 anos no setor público e lá fiz o melhor que eu pude pelo setor público. Hoje eu tenho um mandato para defender a indústria de Mato Grosso e sempre digo isso claramente ao governador, aos secretários de estado. A minha posição é em defesa das indústrias. Nesse sentido, eu entendo que o governo tem alguns acertos importantes.
 
O equilíbrio das contas públicas é fundamental porque se o estado não tem saúde financeira para honrar seus compromissos, muitas empresas vendem para o estado, fazem negócios com o Estado, não recebem e com isso têm problemas. Equalizar os incentivos, ou seja, ter o mesmo nível de incentivos fiscal e tributário para empresas do mesmo segmento foi fundamental. A gente tinha distorções competitivas causadas, porque uma empresa do mesmo ramo tinha muito mais incentivos do que outra. E a simplificação de acesso. Hoje uma empresa não precisa fazer um projeto. Ela pode entrar no sistema do governo online, cumprindo as regras do programa, ela já tem o benefício no mês seguinte à sua concessão. Então, tudo isso foi muito importante, mas é preciso avançar rapidamente nessa agenda estruturante, que eu digo, de logística, energia barata, tudo isso, de maior produtividade para as empresas. E o governo precisa se engajar mais.
 
Esse ano foi muito difícil por causa da pandemia, teve muita dificuldade de tocar projetos, principalmente que envolviam o encontro de pessoas, capacitação e tudo isso. As empresas estão com dificuldades financeiras para fazer investimentos esse ano, mas não tem como a gente passar mais um ano, 2021 sem enfrentar essa agenda de maneira muito forte. Então o governo, ao meu ver, tem muitos acertos sim, é importante a gente ressaltar isso, mas tem desafios numa proporção muito maior do que os acertos que teve até hoje. Nós vamos apoiar e cobrar para que esses desafios sejam enfrentados.
 
 Imprimir