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10/10/2020 às 14:04 | Atualizada: 10/10/2020 às 14:28

Defesa de Gerson classifica como corporativismo arquivamento de sindicância contra promotores

Camilla Zeni

Os advogados que patrocinam a defesa do agora sargento PM Gerson Luiz Corrêa Junior, Neyman Monteiro e Eurolino Reis, afirmaram que não viram surpresa na decisão da Corregedoria Geral do Ministério Público de Mato Grosso em arquivar sindicância aberta contra quatro promotores.

Gerson é peça-chave na revelação do esquema de escutas clandestinas orquestrado no governo de Mato Grosso e trouxe à tona, durante as investigações do caso, uma série de irregularidades e crimes que eram cometidos por membros do governo. Ele também apresentou acusações contra promotores de Justiça que participaram do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), do qual chegou a fazer parte por 14 anos.

Contudo, no início do mês a Corregedoria decidiu arquivar as investigações abertas em cima das revelações de Gerson. O corregedor-geral adjunto, João Augusto Veras Gadelha, apontou falta de provas e, em outros casos, alegou que Gerson e outras testemunhas teriam faltado com a verdade. Ele ainda determinou que o sargento seja investigado e responda criminalmente por atos já confessados.

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Em nota encaminhada à reportagem, os advogados de Gerson afirmam que estão insatisfeitos com a decisão, “porém sem nenhuma estranheza”.

Os advogados afirmaram que Gerson esteve à disposição do Ministério Público e da Justiça desde o início do escândalo, que veio a ser conhecido por Grampolândia Pantaneira. Ainda, lembraram que o militar tentou celebrar acordo de colaboração premiada, mas que os termos impostos pelo órgão não foram aceitos pela defesa.

Conforme a defesa, depois que o militar citou a participação de promotores de Justiça no esquema ilegal investigado, a postura do Núclo de Ações de Competência Originária (Naco) mudou, “restando mais evidente e caracterizado, na opinião deste advogado, que também deve ser respeitada, o chamado corporativismo, sempre com o devido respeito que este profissional mantém pelo Ministério Público mato-grossense”, observaram.

A nota seguiu observando que Gerson já passou por um julgamento na 11ª Vara Criminal de Cuiabá, especializada em crimes militares. Nela, o sargento conseguiu o perdão judicial. Os advogados avaliam que, se esta foi a decisão da Justiça, foi porque ele “teve coragem, atitude, respeito a sociedade e à Justiça, que queriam saber o que de fato ocorreu. Não teve medo de ninguém e disse somente a verdade, como todos sabem dos fatos revelados”.

Por fim, concluíram ser “esdrúxula” a justificativa do Ministério Público para o arquivamento da sindicância sem resolução do caso. 

“Os fundamentos trazidos pelo corregedor do MPE para justificar cada um dos fatos arquivados são esdrúxulos. Certamente que uma investigação imparcial, realizada por outro órgão externo, remeteria a novas denúncias criminais de membros do Ministério Público de Mato Grosso, e quiçá condenações pela justiça”, escreveu a defesa.

Cabe destacar que, na época do escândalo, o Ministério Público abriu nove investigações com base nas declarações de Gerson, sendo que, até o momento, apenas uma delas resultou em denúncia. Trata-se do caso envolvendo o promotor Marco Aurélio de Castro, que foi coordenador do Gaeco. Conforme o MPE, teria ficado comprovado que o defensor cometeu ilegalidade ao vazar informações sigilosas colhidas pelo grupo.
 
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