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08/11/2020 às 10:10

Ao custo de R$ 16 milhões, entenda como é a logística para as eleições

Camilla Zeni

A uma semana das eleições de 2020, que serão realizadas no próximo domingo (15), o Leiagora conversou com o diretor-geral do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso (TRE-MT), Mauro Sérgio Diogo, para saber a logística e toda a operação que envolvem a realização das eleições em um estado de proporções gigantescas como Mato Grosso.

Segundo o gestor, foram necessários locar R$ 1 milhão em carros, 109 aparelhos de transmissão via satélite, para o envio dos votos realizados nos lugares mais remotos do Estado, e mais de 178 mil máscaras descartáveis para prevenção da pandemia da covid-19. Ao todo, as eleições terão custo de R$ 16.751.000 milhões, o que - acreditem - representa uma economia de quase R$ 3 milhões em relação à eleição anterior, que elegeu dois senadores e um governador.

Abaixo, confira parte da entrevista:



Leiagora - Como funciona a preparação da Justiça Eleitoral nesse período de eleições?

Mauro Diogo - A gente sempre brinca aqui que é igual escola de samba: acaba o desfile num dia e no outro já está pensando no outro. Porque a eleição envolve vários aspecto. Temos que começar a planejar com muita antecedência, no mínimo um ano, porque Mato Grosso é muito grande, muito completo. Tem aldeia indígena, zona rural, local distante, é muito complicado mesmo. Temos que planejar muito antes até as contratações, licitações, fazer o pedido do orçamento. É uma tarefa que começa bem antes. E esse ano a gente teve um fator que fez a gente se desdobrar mais ainda, que foi a pandemia. A gente estava, há até pouco tempo atrás, com essa indecisão se seria a eleição em outubro ou novembro, e agora estamos na reta final. As EPIs, máscaras, face shield, álcool em gel, álcool líquido, marcadores de são, tudo já foi distribuído. A mesma coisa com as urnas eletrônicas, baterias, tudo já foi distribuído.


Leiagora -  As eleições em Mato Grosso demandam quantas urnas? Como elas são preparadas?

Mauro Diogo -
Todas as urnas eletrônicas são do TRE-MT e saem de Cuiabá. A gente tem um contrato de transporte em relação a isso. Essa semana foi a fase final de conferência e lacre das urnas. Todos os cartórios fizeram. Checar se todos os candidatos estão na urna, checar fotos, número, nome do partido, coligação, enfim, e tudo isso deve terminar até sábado. Tivemos uma quantidade grande de processos. Esse ano o número de candidatos aumentou muito. Para se ter uma ideia, na última eleição municipal foram 10 mil candidatos e nesta foram 14 mil. 

Todas as urnas são preparadas e  checadas se estão funcionando, teclas, baterias. Além disso, a gente checa também a lista de eleitores e de candidatos, então tem que ser conferida urna por urna. Ao todo são 6.633 urnas para as seções eleitorais e temos mais 1.070 para contingência. Elas são compradas pelo Tribunal Superior Eleitoral, numa licitação até internacional.


Leiagora - O senhor mencionou contratações e licitações antes. O que é contratado para esse período?

Mauro Diogo -
Dos principais é que a gente loca veículos para todos os cartórios eleitorais e não é um contrato barato. É mais de R$ 1 milhão. Também licitamos transmissões via satélite. Mato Grosso tem 109 locais de transmissão e é mais de R$ 1 milhão também. A própria alimentação dos mesários, que são mais de 28 mil em Mato Grosso. Temos que dar alimentação para todos, o que é um custo alto. O transporte de urna é mais de R$ 900 mil. Material gráfico também, locação de aeronave. Esse ano locamos 11 aeronaves para levar urna, mesários, colaboradores e juízes. Tem juiz que sai de Cuiabá e vai para lugares que não têm sede de zona eleitoral. A gente manda principalmente na véspera, para ajudar. No primeiro semestre aproveitamos bastante que estávamos em trabalho remoto, por conta da pandemia, e aceleramos bastante os trabalhos administrativos. 


Leiagora - O senhor também mencionou há pouco a questão dos mesários. Quantos serão neste ano e qual é o total de trabalhadores? Como ficaram os equipamentos de proteção individual.

Mauro Diogo -
São quase 28 mil mesários, mas contando com todos os colaboradores, policiais, juízes, enfim, todo mundo que auxilia no dia a eleição, são 40 mil. É a maior operação logística que a gente tem no estado e no Brasil. Sobre as EPIs, são 178 mil máscaras, um número bem grande. São 34 mil face shield, 34 mil frascos de álcool em gel individual, são mais de 30,9 mil frascos de álcool em gel para os eleitores em cada seção eleitoral. Quase 30 mil adesivos de marcadores de chão, poster, cartazes para manter o distanciamento.


Leiagora - Em relação a essa questão de sanitização, vocês pediram para os eleitores levarem suas canetas de casa. Mas quem não levar terá caneta individual ou será uma coletiva?

Mauro Diogo -
Essas EPIs foram doadas por empresas que fizeram parceria nacional com a Justiça Eleitoral. Fizemos parceria também com institutos e órgãos como o Hospital Sírio-Libanês, e foram eles que apontaram um protocolo de segurança. Foi feito um laboratório e a primeira coisa que eles identificaram de risco muito grande foi da biometria. Todo mundo pegando no mesmo terminal. Por isso também em relação às canetas. Lógico que teremos algumas. A licitação nossa foi para canetas dos mesários, então o volume que vai ter ali é muito pequeno. Se o eleitor não levar, é o risco dele.


Leiagora - Ainda falando da pandemia, a situação da covid-19 se mostrou mais controlada aqui em Mato Grosso no último mês. No entanto, os especialistas apontam que as eleições podem trazer uma segunda onda de infecção. O senhor acha que a divulgação desta situação pode atrapalhar o cenário das eleições?

Mauro Diogo -
A eleição, por si só, é um risco. Isso foi debatido por meses, não só pela Justiça Eleitoral como pelo Congresso Nacional, que bateu o martelo em relação a isso. Mas, realmente, acompanhamos nos Estados Unidos em relação a isso, e mesmo com a pandemia e números altíssimos, o povo foi votar. É lógico que não queremos e não desejamos expor ninguém a risco, e é lógico que a saúde está em primeiro lugar, mas a gente está fazendo de tudo para que seja da forma mais segura possível. Então daí a gente ter todo esse protocolo e esses aplicativos de acompanhamento de resultados, de boletim de urna, e-título, tudo isso para facilitar o acesso e a justificativa, para não dar aglomerações. 

Realmente é um movimento muito grande e, por isso, fizemos várias ações. Antecipamos também em uma hora o horário de votação, e colocamos hora de prioridades, fizemos a distribuição de EPIs. Enfim, a nossa parte vamos fazer, mas não há dúvidas que a eleição gera um movimento muito grande. Agora, também temos visto na rua um movimento maior de carros, pessoal trabalhando, em bares e shoppings. É lógico que o mundo não parou e não deve parar. Mas estamos adotando todas as cautelas.


Leiagora - E em relação à logística, qual é o cartório eleitoral mais distante que temos em MT? E como é feita a logística nas aldeias?

Mauro Diogo -
A gente tem Rondolândia, que é muito distante, na divisa com Rondônia. O juiz que vai pra lá, inclusive, vai sair de Várzea Grande e pegar um voo para Porto Velho (RO). Antes tinha voo para Ji-Paraná, que era mais perto de Rondolândia, mas em razão da pandemia a Azul suspendeu esse voo. Então o juiz, por exemplo, vai ter que sair daqui, pegar o voo para Porto Velho. Lá, pegar um carro para ir para a cidade. É uma logística específica em cada caso. Eu tenho a impressão que lá será o mais distante nesse ano em virtude disso. Mas temos também Colniza, Vila Rica, enfim, Mato Grosso é bem complicado.

Já em relação aos indígenas temos feito inúmeras reuniões, desde julho, com o GGI, o Gabinete de Gestão Integrada, e temos discutido bastante a questão do índio, principalmente por conta da pandemia. A ideia nossa é que, quem vai entrar na aldeia, faça teste de covid-19 antes, mas isso vai depender do Ministério da Saúde. Estava certo até essa semana, mas não sei o que está acontecendo. Mas o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do TSE, tem cuidado muito da questão do índio, então estou confiante. Já para chegar, alguns vão de avião, outros de carro traçado, alguns de barco. Tem lugares, como Cláudia, que anda um trecho de barco e outro de carro, então temos vários tipos de logística para esse público. Temos que dar acesso para todos, o voto é universal, mas se colocar na ponta do lápis, esse é o voto mais caro.


Leiagora - Falando nas prioridades, como irão funcionar? Os eleitores prioritários da Justiça Eleitoral não são os mesmos previstos em leis, certo?

Mauro Diogo -
Esse prioritário que foi definido pelo TSE sãos os idosos. Pedimos que essa faixa, acima de 60 anos, compareça para votação entre 7h e às 10h. Não é um horário exclusivo, mas eles têm a prioridade nesse horário. Eles podem votar ao longo de todo dia, mas é o horário especial reservado para eles, igual em alguns supermercados. Não era possível incluir outros do grupo de risco da pandemia porque é muita gente que é hipertenso, gestante, com alguma deficiência. Aí não teria sentido.


Leiagora - Foi anunciado para este ano o uso de drones pela Polícia Federal, para evitar crimes como a questão da boca de urna. Como vai funcionar?

Mauro Diogo -
Realmente, é uma inovação deste ano, de uma parceria com a polícia. São 100 drones para o Brasil inteiro e são para monitorar também algumas rodovias. Aqui em Cuiabá, por exemplo, se está tendo uma grande aglomeração na Avenida do CPA, esse drone vai ajudar nesse sentido, e até com flagrante de crimes como compra de voto. Vai ajudar bastante a questão de transporte regular de eleitores. Mas é todo monitorado pela Polícia Federal, uma parceria para nos auxiliar.  


Leiagora - E como funciona com as denúncias que vocês recebem pelo aplicativo Pardal, por exemplo?

Mauro Diogo -
No primeiro momento ela é encaminhada para o cartório eleitoral. Aí o juiz e o promotor, principalmente o promotor, vai observar se tem algum fundamento para que faça diligência. Se ele identificar que realmente é um caso suspeito, ai ele determina um oficial de Justiça ou policial para que vá até o local.


Leiagora - Agora, as eleições estão um pouco mais virtuais, até para evitar a aglomeração por conta da pandemia. Então, qual é o impacto dessa mudança?

Mauro Diogo -
Olha, tem um impacto orçamentário, mas acreditamos que o orçamento que solicitamos vai ser suficiente. Embora tudo aumentou de preço, conseguimos reduzir bem. A eleição de 2018 custou R$ 19 milhões, mas no caso de 2020 é de R$ 16,7 milhões. Só o aluguel do Centro de Eventos do Pantanal, onde acontecia a contagem de votos, por exemplo, tem uma economia de R$ 200 mil, somando os dois turnos. Então vamos fazer tudo no TRE-MT neste ano, praticamente a custo zero.
 
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