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15/11/2020 às 08:15 | Atualizada: 15/11/2020 às 09:11

Médica fala sobre preconceito do exame do toque e importância da prevenção contra câncer de próstata

Luzia Araújo

O câncer é a segunda causa de morte mais comum no país após as doenças cardiovasculares. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), 75 mil casos de câncer de próstata já foram registrados no Brasil em 2020, logo em seguida estão o câncer de mama, do colo do útero, pulmão e colorretal. 

Em relação ao estado de Mato Grosso, 2.235 casos de câncer de próstata foram registrados no Hospital de Câncer, de janeiro a outubro deste ano. No ano passado foram 4.400 casos. Porém, o que atrapalha nos casos de diagnóstico precoce da doença, que pode ser ainda maior, é o preconceito que alguns homens possuem em relação ao exame de toque retal.

Neste mês ocorre em todo o país a campanha Novembro Azul para conscientizar os homens sobre os cuidados com a saúde, principalmente em relação ao câncer de próstata. A campanha é essencial, contribui para quebrar tabus, além de divulgar informações importantes sobre a doença. Para falar sobre o diagnóstico, tratamento, prevenção  e outros assuntos acerca do câncer de próstata, o Portal Leiagora conversou com a médica Radio - Oncologista do Hospital de Câncer de Mato Grosso e da Santa Casa de Cuiabá, Manoela Regina Alves Corrêa.

Leiagora - O que é a próstata? Que órgão é esse no corpo do homem e quando ele precisa se preocupar com a doença e procurar um especialista para não ser pego de surpresa com o diagnóstico do câncer de próstata?

Manoela Regina – A próstata é uma glândula masculina, que fica localizada perto da bexiga e na frente do reto, por isso fazemos o toque retal, pela proximidade. Dentro da próstata passa a uretra e quando ela fica inchada, pode comprimi-la, levando para uma diminuição do jato urinário. Então, o paciente que perceber essa mudança tem que procurar um especialista. Outro exemplo, pode ser a dor no momento de urinar, ardência, infecção urinaria repetitiva. Essas são algumas manifestações clínicas mais sutis que o paciente pode estar com algum indício da doença. 

Leiagora - O câncer de próstata atinge alguma faixa etária especifica? 

Manoela Regina – A faixa etária mais frequente do câncer de próstata é acima dos 50 anos, mas os pacientes que já possuem histórico da doença na família é importante fazer essa avaliação a partir do 45, 47 anos. 


Leiagora - O homem diagnosticado com a doença precisa ficar preocupado com o câncer? Existe cura para doença? Como é o tratamento?

Manoela Regina – O paciente tende a ficar muito preocupado quando se fala a palavra câncer. Já existe esse estigma na sociedade. Isso é muito ruim, porque nem todo o câncer vai levar ao óbito. O câncer de próstata tem cura, principalmente nos casos mais iniciais, por isso é muito importante esse diagnóstico precoce. Ele não precisa ficar desesperado. Obviamente, o paciente precisa conhecer sobre a doença e quanto antes ele fizer o diagnóstico, mais fácil será o tratamento e, com certeza, o homem vai conseguir o que procura, que é a cura. O tratamento se baseia em alguns pilares. Dependendo do nível da doença, o paciente pode fazer uma cirurgia, ou ele pode fazer a radioterapia exclusiva ou pós-operatória e a hormonioterapia, que é feito por um oncologista clínico.  

Leiagora - Existem fatores que contribuem para doença? Como prevenir?

Manoela Regina - A principal causa do câncer de próstata é o fator hereditário, mas existem outros fatores que contribuem como a dieta rica em gordura e a obesidade. O paciente precisa ter uma dieta saudável e realizar uma atividade física regular, que irão ajudar no manejo dele.
  
Leiagora - Como combater o preconceito relacionado ao exame de toque, um dos principais métodos utilizado para fazer o diagnóstico da doença?

Manoela Regina – Principalmente o conhecimento. Ele é a base de tudo. Quando não sabemos o que é a doença ficamos com medo. Então, converse com um médico, ele vai explicar tudo e o preconceito quanto ao toque retal vai diminuir, com certeza. 

Leiagora - O exame de sangue pode substituir o exame de toque? Qual a diferença entre eles?

Manoela Regina – Um não substituiu o outro. Eles são complementares. A próstata pode estar aumentada por diversos fatores. Então, o paciente vai fazer o exame de PSA (exame de sangue) e ele pode dar elevado. Na verdade, quando o médico faz o exame de toque ele consegue avaliar a particularidade na anatomia, como o endurecimento ou modulações. O exame vai direcionar o médico para solicitar uma biopsia, ou um exame complementar. 

Leiagora - O machismo é um dos vilões para o diagnóstico precoce do câncer de próstata?

Manoela Regina – Isso é uma coisa que já está mudando muito. Realmente, vivemos em uma sociedade machista, mas o paciente precisa saber o que quer. A melhor prevenção é o conhecimento e o melhor método para combater o machismo é através dele. Depois disso, vem a maturidade dos homens: “Eu vou preferir fazer o exame com um especialista ou ficar ruim e ir a óbito?”. Com certeza, precisamos exterminar esse medo do toque retal.   

Leiagora - Quanto a campanha Novembro Azul, ela contribui para a conscientização dos homens ? Existe um aumento na procura pelo exame por isso?

Manoela Regina – É importante divulgarmos a doença. Não deveria ser apenas o Novembro Azul ou determinado mês, como temos o Outubro Rosa. O mais importante é a divulgação para ajudar o paciente a perder o medo e conhecer sobre a doença. Quanto mais conversamos com a população fica mais fácil para ela entende-la e com isso aumenta a procura pelo diagnóstico precoce. 

Leiagora - O paciente de câncer de próstata pode passar por radioterapia. Como ela funciona? 

Manoela Regina – A radioterapia é um tratamento com radiação usada com fins terapêuticos. Como se fosse a mesma radiação de um raio-x, porém muito mais potente. É um tratamento indolor, que o paciente vai ser submetido a sessões diárias. Não é agressivo, e ele não sofre nenhum corte ou sangramento. A sessão dura em média 10 minutos e geralmente tem a duração de 37 dias. É um tratamento que está sendo disponível tanto pela rede privada quanto pela pública. No Hospital de Câncer estamos com um equipamento novo, chamado Energy, que foi adquirido através de uma parceria da unidade com o Ministério Público do Estado de Mato Grosso, por meio de um Termo da Ajustamento de Condua (TAC), para atender a população mato-grossense e de fora do estado no tratamento do câncer. Além disso, estou disponível no instagram @radioterapia_sem_medo para esclarecer dúvidas sobre a radioterapia e o tratamento do câncer.  

Leiagora – O que pode acontecer com o paciente que não procurar atendimento?

Manoela Regina – O paciente que não procura o atendimento pode ter uma progressão de doença, ou seja, a doença vai piorando. Ela pode espalhar localmente ou disseminar a distância. O tratamento fica mais restrito com a avançar da doença, por isso é muito importante o diagnóstico precoce, para o paciente poder evitar essa disseminação. Não precisa ter medo de procurar um médico, porque quanto mais soubermos sobre o câncer melhor será. Informação é tudo. 
 
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