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06/12/2020 às 21:14 | Atualizada: 06/12/2020 às 21:15

O produtor que não entrar na tecnologia está fadado ao fracasso, diz Aldo Telles

Edyeverson Hilario

Pai, avô e apaixonado pela pecuária, tendo o gado da raça Nelore como seu principal trunfo, Aldo Rezende Telles, de 70 anos de idade chegou em Mato Grosso em 1994 e fez sua história aqui. Conquistou propriedades, aumentou significativamente sua produtividade no campo e é um dos pecuaristas mais respeitado do Estado.
 
Arrojado, comprou sua primeira terra em Goiás. Foram os seus primeiros 75 hectares e 50 cabeças de gado. Suficientes para o fazer chegar aos 7,5 mil hectares e 5 mil cabeças de gado e um armazém, na mesma região.
 
Com um trabalho pujante ele se tornou um dos maiores pecuaristas da cidade, chegou ao posto de presidente do Sindicato Rural de Porangatu, interior de Goiás. Período que quis devolver a cidade, parte do que conquistou. Fez 24 construções que transformou o parque de exposições da cidade. Recebeu um título de cidadania da câmara municipal e era cotado como um forte candidato à prefeitura. “Tinha de 60 a 70% de chance de ganhar a eleição”, relata.
 
A aprovação da cidade e o sonho de ser prefeito só não foi maior que a sua avaliação de não valer a pena. Ele conta que sempre avalia se a escolha será um bom ou mal negócio. Nessa reflexão concluiu que a política não é viável para homem sério. Decidiu que não iria mexer com política e se mudou para Mato Grosso para provar a si mesmo que tinha capacidade.
 
"De tijolo a tijolo foi multiplicando”. Mas não foi fácil, chegou a pegar malária em Porangatu e viu seus dois filhos serem acometidos pela mesma doença, em Brasnorte. Hoje ele possui sete fazendas no Estado, comando 26 mil hectares e 20 mil cabeças de gado.
 
 
Leiagora - Você é senhor, avô e super arrojado na parte de tecnologia, intencionado em modernizar os trabalhos no campo. De onde vem essa criatividade e desejo?
 
Aldo - Sou de Barretos e lá é um lugar de pecuária. É perto de Uberaba e essas duas cidades eram os polos da genética do Brasil. Depois Barreto caiu um pouco, mas tem a festa do peão e Uberaba tem o melhor Zebú do Brasil. Então por a gente ser dessa região, pode ser isso, a procedência. Pode ser isso que deu essa coragem na gente. Hoje estou com energia solar. Uma usina está terminando, não terminou ainda. Uma de 150kVA e uma 112kVA e agora comprei um pivô para 150 hectares que é para poder produzir mais para pecuária, para fazer feno. Nós usamos feno a mais de 15 anos e fazemos confinamento, semiconfinamento, criamos gado P.O, então fazemos um trabalho geral.
 
Uma coisa muito importante que nem todos fazem e eu fiz. Eu sou só fazendeiro. Eu consegui os resultados que fiz na minha vida com muita dedicação, coragem e visão.
 
Sempre vendi o melhor que eu tenho e procuro comprar o mais barato, que recupero e valorizo. Eu fui fazendo essas trocas e coincidiu de a gente ir crescendo.
 
Leiagora - Nesses 27 anos em MT o que o senhor percebeu de mudança na pecuária?
 
Aldo - Eu falo que Mato Grosso para o pecuarista e para o agricultor, no rio, estamos de rio a baixo. Na subida, nós estamos na descida e no vento, nós estamos a favor. A natureza do Estado é perfeita. Aqui você produz duas safras, três e as vezes até quatro, se você tiver irrigação. Então, a natureza do Mato Grosso tem sido muito favorável, com exceção desse ano. Além da pandemia, nós vimos perda de plantio por todo lado, mas isso depois de 27 anos. Tivemos a natureza em nosso favor por 26 anos e esse ano, não está bom. Estou com uma fazenda no Pantanal que comprei no final do ano e lá está na seca até hoje. Todas as represas secas e o pasto totalmente seco e já estamos em dezembro. Então esse ano não está sendo tão bom quanto ele sempre foi.
 
O clima sempre favoreceu a gente. Fica fácil. Você planta, colhe bem, o seu pasto sai bem, chove bem. Então, se o clima é favorável, tudo fica mais fácil. Se o clima é contra, aí você começa a ter dificuldade. De rio acima, de morro acima, contra o vento, é mais difícil de trabalhar e na maioria dos Estados é assim.
 
Em MT, o pessoal fazia safrinha que no ano passado virou safra e são duas safras poderosas. São poucos lugares que fazem isso. Por isso Mato Grosso se desenvolveu dessa forma, não foi por outra coisa. A natureza é bem favorável em Mato Grosso.
 
Leiagora - O confinamento, semiconfinamento, integração lavoura-pecuária são trabalhos que não existem em todas as propriedades do Estado, e as fazendas que adotam esse sistema potencializam a produção. Esses trabalhos foi o que determinou a sua chegada até onde o senhor está hoje?
 
Aldo - Nós estamos com a parte da lavoura na fazenda há oito anos. A gente já vinha crescendo, mas depois que a gente passou a fazer integração, eu acho que ajudou no crescimento. Tem mais fartura dos alimentos e a sua terra, apesar da terra do Estado ser produtiva, ainda falta fósforo. Então colocando calcário com adubação aí você melhora a produtividade da terra.
 
Leiagora - Temos o maior rebanho do país e esse tipo de trabalho ainda não chegou na maioria das fazendas. Como o senhor imagina os próximos anos com o crescimento desses tratos com os animais?
 
Aldo - O que a gente tem ouvido em várias palestras e várias reuniões que participamos, é que o produtor que não entrar na tecnologia está fadado ao fracasso. Porque o que acontece com grande parte dos produtores. A fazenda vai deteriorando e ele vai perdendo a quantidade de gado, aí vai perdendo a renda e aí ele é praticamente obrigado a vender a fazenda. A tecnologia é essencial para o sucesso do pecuarista e do agricultor.
 
Leiagora - Ainda há muitos produtores rurais que tem um certo preconceito com tecnologias, ou isso não existe?
 
Aldo - Existe. Eu tenho um exemplo: faço feno na minha fazenda. Sempre procuro tecnologia, coisas que tem eficiência e custo. Eu vejo que o pessoal, grande parte, faz a silagem de milho. E para isso você tem que comprar um saco de milho que custa R$500, comprar o adubo que custa caro também. Você tem que colher e jogar no monte para depois você ir lá procurar. Fazemos feno o ano inteiro.
 
A silagem é um produto de melhor qualidade, não estou discutindo qualidade. O feno substitui em um custo muito menor, mas não tem a mesma qualidade, contudo, tem facilidade no trabalho. Você não precisa de máquinas caras, você não precisa de colher, armazenar, depois ir pegar. A gente vem produzindo e utilizando. Trabalha lá dois ou três dias, faz o feno e aí quando ele está acabando, fazemos novamente.
 
Faz 15 anos que eu estou fazendo isso e eu tenho impressão que em Mato Grosso não tem 10 produtores que fazem. Então parece que o pessoal não enxerga. É falta de enxergar.
 
Em outros países que já visitei, um cara que tem 140 cabeças é o rei do gado. É tudo muito pequeno. Eles produzem um monte de coisas, mas é uma coisa muito pequena perto do nosso potencial que é muito grande. Então nós temos que levar os produtores em fazendas produtivas aqui no Estado em Goiás e São Paulo, nessas fazendas tops que estão com tecnologias e levar o pessoal para ver se alguém aproveita o que o estão fazendo, para ver se passam a aplicar na sua fazenda.
 
Leiagora - Hoje o senhor está à frente da Nelore, instituição que representa a raça com o maior rebanho bovino do Estado. De que forma o senhor pode auxiliar os pecuaristas para que eles consigam ser mais produtivos em suas fazendas?
 
Aldo - Primeira coisa: precisamos que essa pandemia de uma minimizada. Antes da pandemia, praticamente toda semana, Breno e Mario Cândia trazia uma palestra. Isso é muito importante. Para você ver, não tivemos condições de fazer a posse. Se Deus quiser, daqui para março resolva esse problema, aí vamos fazer uma campanha para aumentar os sócios. Eu já pesquisei na ABCZ há 750 criadores de gado P.O e hoje só tem 89 produtores. A primeira coisa que a gente precisa fazer é dobrar o número de associados para ficar uma associação mais forte e mais representativa.
 
Leiagora - Todas as vezes que ocorrem um grande problema começam as discussões políticas para evitar que ocorra o mesmo tipo de situação, como é o caso do fogo no Pantanal. O senhor pensa que pecuaristas precisam começar a discutir a forma de fazer política e forma de trabalhar para que evitar contratempos, ou caso ocorra, tenha como solucionar?
 
Aldo - No Brasil temos as leis ambientais muito pesadas e complicadas, então tudo que você for fazer ambientalmente não sai. O pessoal do Pantanal está dizendo, que eles têm que deixar colocarem o gado lá. O fogo no Pantanal faz parte, é uma ferramenta. Só que o fogo frio precisa ser colocado em uma época em que você controla ele. Aí se você queimou uma parte, você faz uma barreira. O que aconteceu? Estava tudo em um padrão só e veio um fogo muito forte. Esse ano foi de pouca chuva. Quando vem o fogo, é impressionante que vem o vento junto, aí ficou incontrolável.
 
Quem sabe, com esse prejuízo que matou bichos e mostrou para o Brasil todo, possa ter uma mudada na parte ambiental para poder fazer algum trabalho. Se não, vai continuar do mesmo jeito. Outra coisa importante é que o rebanho do pantanal foi diminuindo com essas leis ambiental.
 
Primeira coisa é aumentar a quantidade de gado. Segunda coisa, deixar formar o pasto. Não é derrubar as matas, que são as cordilheiras, mas tem aquelas partes mais limpas, que poderia plantar o capim para o gado.
 

Leiagora - Esse ano Mato Grosso exportou um volume de carne acima da média. A China, principalmente, precisou de muita carne, qual é a visão do senhor para o próximo ano?
 
Aldo - No início do ano, fizeram uma previsão do preço da arroba que a gente ia terminar vendendo. A previsão era de R$180. Mas os nossos três últimos negócios foram de R$270 e R$266. Está quase 40% acima do normal. Subiu a carne, dobrou o milho e dobrou o caroço do algodão. Antes, a tonelada do caroço de algodão era R$420, hoje está R$1200. O milho que era uma média de R$35, hoje está R$70. Então, os alimentos do boi subiram mais do que a arroba.
 
Nós estamos pensando no próximo ano, até junho nós temos comida. Então para nós está bom. Como eu sou agressivo, comprei 50 mil sacas de milho. Nós estamos com milho até junho. Para nós que estamos estocados estamos bem, mas não é todo mundo que tem estocado.
 
O grande problema da tecnologia é que ela é exigente. Então você compra um vagão de 10 toneladas e trabalha por cinco anos. De repente você precisa de um de 20, aí aquele mesmo trator que tocava o de 10 toneladas, não toca mais. Aí você tem que trocar o trator também. Então é uma coisa que vai exigir. É barracão, é estrutura, senão você não consegue trabalhar. Você precisa de uma infraestrutura grande para rodar o negócio.
 
Leiagora - Esse é um caminho sem volta?
 
Aldo - Eu acho que não tem volta não. Tudo indica que sim, enquanto tiver margem. Só vai ser ruim a partir do momento que você produzir uma arroba a R$250 e vender por R$ 220, R$230, aí vai perder, vai inviabilizar. Mas eu não acredito que chegue a isso não. Acho que até empatar é viável, porque antes a gente matava um boi de três anos e meio, quatro anos e hoje estamos abatendo, quando é um boi de qualidade, com dois anos, dois anos e pouquinho.
 
Eu fiz um confinamento em 1986 que a gente tratava de carroça engordei 215 bois e comprei 870 cabeças de gado. Isso assim, tratando de carroça, não tinha armazém, tudo bem simples e ainda foi positivo.
 
Leiagora - O que podemos esperar para o próximo ano?
 
Aldo - Por causa dessa pandemia estou meio preocupado com o Brasil. Estou vendo um descontrole muito grande no custo. Para mim está bom, mas se para a maioria está ruim não é bom. Não estão falando em inflação. Estão falando em subir o salário em R$50, entendeu? Estou preocupado com a situação do assalariado. O mundo virou de ponta cabeça. No ano que vem a gente não sabe o que vai acontecer. Tem uma interrogação muito grande por causa desse descontrole.
 
Para você ver, o Bolsonaro, todo lugar que ele vai, é bem recebido, bem tratado, porque o povo está satisfeito, mas se daqui a pouco o povo começar a passar fome, ter dificuldade, aí muda tudo. Esse trem para mudar é daqui para ali. Eu estou achando que esse economista do Bolsonaro não está tendo a eficiência que precisa.
 
Outra coisa que não estou gostando dele é que todas as vezes que ele fala, cria problema, ele é muito polêmico. Eu acho que o cara da economia tem que falar pouco e não criar polêmica. Todas as vezes que esse homem fala, ele cria polêmica. Já basta o presidente, ele não pode falar. Se ele falar já cria polêmica. Agora seu braço direito, o homem da economia também cria polêmica, aí fica difícil. Estou bem preocupado com o nosso futuro.
 
Leiagora - Quais são as principais dificuldades que os pecuaristas enfrentam no Estado? Essa pandemia evidenciou algumas delas?
 
Aldo - Eu acho que nessa pandemia nós fomos bem. Quer dizer, veio a pandemia e o mal tempo. Na pandemia fomos bem, foi surpresa. Se você fizesse essa pergunta lá no ano passado, eu esperava esse ano ser maravilhoso. A gente estava totalmente eufórico. Eu dizia que o ano que vem seria uma maravilha. Acabou sendo, mas de uma forma que não estamos felizes. Veio essa pandemia e você não pode sair. Agora ano que vem que a gente não sabe.
 
O pessoal está trazendo a ferrovia e nós precisamos. Parece que o Bolsonaro está enxergando isso. Tem o problema da distância, tem o problema dos impostos. A gente participa de um grupo muito forte de Goiás e o pessoal reclama demais, e a gente sempre teve um crescimento tão bom que não vê essa dificuldade.
 
A gente trabalha com economia, por exemplo: eu sai da fazenda e a gente não tem nenhum gerente. Meus dois filhos estão lá. Então temos sido muito felizes e em um crescimento sempre contínuo. As dificuldades que os outros tem, a gente praticamente nunca teve. Não sei se é a maneira da gente trabalhar. Gasto uma fortuna, mas só gasto naquilo que volta e naquilo que a produz. Naquilo que a gente sabe que vai ter retorno. O foco nosso é trabalho, não é conversa, é pura realidade. Então a gente nunca teve essa dificuldade. Para mim o imposto está caro, mas está bom. A gente tem só crescido.
 
Nós vivíamos um momento que o pessoal não estava nem recuperando as estradas, agora parece que o Mauro Mendes está conseguindo. As estradas estão melhores. Estão terminando essa pista dupla chegando aqui em Cuiabá. Precisava do resto de pista dupla. Você tem dificuldade de andar, mas anda. Se saísse uma pista dupla daqui para Sinop não melhorava muito? Mais aí é um conforto a mais.
 
Agora essas ferrovias que estão falando, que são para chegar em Lucas [do Rio Verde], pode baixar o custo e melhorar mais ainda. Você leva um produto mais barato e vem o produto que você usa mais barato. Tem muita coisa que vem de fora. Nesse ponto eu não sou bom de dar opinião porque nós sempre fomos para frente. Tem gente que tem mais dificuldade.
 
Leiagora - O medo é o pior inimigo do pecuarista?
 
Aldo - É uma questão de visão. O pecuarista tem que ter visão para a pecuária, porque não adianta você ter coragem e fazer um mal negócio. Você tem que saber. Por exemplo, meu maior parceiro até hoje é o Banco do Brasil. Minha conta é desde 1972. Eu sempre devi o banco. Se ele me der mais crédito eu vou pegando, desde que seja um crédito com juros acessível. Eu não vou pegar com juros caro para perder dinheiro. Ninguém faz milagre. Você ganha dinheiro se você tiver dinheiro, tiver coragem e aplicar. Cada ano que passa fica mais fácil.
 
Leiagora - Como ter visão para aumentar a produtividade na fazenda. Ter muito dinheiro é o que determina isso?
 
Aldo - Até você sair do chão, é muito difícil. Você é confiável quando você compra, paga, trata a compra. Vamos dizer, eu tenho um capital de R$100 mil e eu quero fazer uma dívida de R$1 milhão. O banco não vai me emprestar, a maioria das pessoas não vão confiar em mim. Eu falo que eu cresci de tijolo e tijolo, só que depois de uma determinada altura, fica tudo mais fácil.
 
Agora vou te dar um exemplo de visão. Vou te dar um exemplo. Em 94, comprei uma fazenda de 8600 hectares, toda de mato. Era toda bruta, não tinha nenhum hectare aberto. Aí eu cheguei em Goiás, ainda morava em Porangatu e, contei que tinha achado a terra prometida. O asfalto ia até antes de Campo Novo do Parecis, era poleiro, tanta coisa. Aí um amigo meu, um forte comerciante de gado, não teve coragem de falar para mim, mas falou para minha mulher: ‘Marinez, o Aldo está tão entusiasmado com essa terra lá e eu só aceitaria ela de presente, com uma condição, que eu pudesse vender ela sem nem ir lá’.
 
Quer dizer, eu achando que tinha achado a terra prometida e para o outro, como se eu tivesse comprado uma merda. Ele era um grande comerciante de gado e ele achou que eu estava fazendo um mal negócio. Tanto é a terra prometida que é terra superprodutiva. É um lugar que estourou. Quando isso acontece, não tem distância.
 
A gente ainda trabalha com problema de logística. Porque lá você compra um produto um pouco mais caro e vende um pouco mais barato. Mas isso é uma coisa que você tem que superar, não tem o que fazer. Pode melhorar com as ferrovias.
 
Leiagora - Qual conselho o senhor daria para alguém que assumiu a fazenda da família, ou que quer começar na pecuária e não tem muito conhecimento?
 
Aldo - Contratar uma empresa, se não tiver muita noção, para você ter uma orientação para saber aquilo que você gasta e aquilo que você ganha. Foi uma coisa muito boa que nós fizemos. Hoje o meu gado tem um chip na orelha. Nós sabemos quantos quilos ele está pesando. Você coloca ele no confinamento e faz uma estimativa, por exemplo, daqui a tantos dias você vai ter tantos bois para matar, daqui a tantos dias você tem tantas vacas para matar. Isso tudo foi tecnologia.
 
Nós sabemos quanto o boi está comendo, quanto está custando e que ele está comendo. Esses dias nós tivemos um problema. O gado não estava ganhando aquilo que nós esperávamos. Aí foi um técnico lá e ficou vários dias na fazenda e achou que era o feno. Por isso estamos comprando uma máquina para triturar o feno. Então, acho que precisa de uma assessoria, se não tiver muita habilidade no negócio.
 
Leiagora - O senhor é muito experiente e mesmo assim contratou uma empresa para te auxiliar na gestão da fazenda. Não existe um certo tipo de orgulho nos demais pecuaristas que impede deles terem esse tipo de iniciativa?
 
Eu sou uma pessoa muito maleável. Eu ficava na fazenda 60 dias, 30 dias, aí o pessoal da consultoria perguntou: Você vai dar conta de não ir na fazenda? Falei que sim. Esse ano estou indo lá agora, essa semana. É a terceira vez. Eu deixei por conta dos filhos mesmo. Só que ainda assim, deixei em partes. Os abates, eles me passam quantas cabeças tem para o abate, a gente que marca. A gente que vende. Eu que compro. Eles estão mais na parte da administração da fazenda, com os funcionários. A minha mulher que é a tesoureira. Ela que faz o pagamento. Então a gente entregou, mas ainda tem o domínio do negócio.
 
Qual que foi o objetivo disso aí? Eu já comprei mais de 10 propriedades de viúvas, então pensei que eu precisava contratar uma empresa para ensinar meus filhos, para não acontecer isso que você falou. Por exemplo, se eu morrer hoje eles vão tocar tranquilo os negócios. Pode ter um problema dos dois brigarem. Ainda tem esse problema. Os dois tem um pouco de diferença, aí pode atrapalhar. Mas se os dois não brigar, eles vão tocar o negócio muito tranquilo. Morri, morreu. Agora se o cara não tiver tocando o negócio, o pai morre aí fica na dificuldade, o que vai fazer, o que não vai fazer.
 
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