Imprimir

Imprimir Notícia

22/12/2020 às 17:25

Pagamento de propinas milionárias foi uma das causas da rescisão do VLT

Leiagora

O esquema de corrupção envolvendo a contratação do Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT), ocorrido na gestão do ex-governador Silval Barbosa, foi uma das causas da rescisão do contrato entre o Governo do Estado e o Consórcio VLT e, mais recentemente, para a substituição do modal pelo BRT – ônibus movidos a eletricidade.
 
As minúcias sobre o escândalo da obra inacabada da Copa constam nos relatórios técnicos (e nas ações cíveis e criminais oriundas do caso) que subsidiaram a decisão do Governo de Mato Grosso em solicitar a troca pelo BRT. O pedido ainda deverá ser analisado pelo Ministério do Desenvolvimento Regional, Caixa Econômica Federal e Conselho Curador do FGTS.

Por conta do esquema, o Governo de Mato Grosso rescindiu ainda na gestão passada o contrato com o Consórcio VLT, decisão que foi mantida pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso e pelo Superior Tribunal de Justiça, uma vez que ficou comprovado que o descumprimento do contrato foi ocasionado por culpa do próprio consórcio. 

Desta forma, as empresas que integram o consórcio foram consideradas inidôneas, ou seja, não podem mais contratar com o Poder Público, incluindo a CAF Brasil, que é a fornecedora dos vagões e materiais rodantes, inviabilizando a continuidade da obra.

De acordo com os relatórios, as irregularidades já começaram na escolha da modalidade de coletivo urbano que atenderia às demandas da Copa do Mundo de 2014. Os pareceres técnicos e as recomendações dos Ministérios Públicos Federal e Estadua, na época, eram todos favoráveis ao BRT. 

Porém, por pressões políticas do grupo comandado pelo ex-governador, foi escolhido o VLT como o modal a ser construído no eixo Cuiabá-Várzea Grande. A licitação para a construção foi vencida pelas empresas que integravam o Consórcio VLT e, desde o início, já levantavam suspeitas.

Cartas marcadas

Os estudos demonstraram que o Consórcio protocolou em 18.06.2012 o Ofício n. 001/2012, recebido às 17h pelo Presidente da Comissão de Licitação, postulando “correções e inclusões na minuta de contrato”, “com o objetivo de viabilizar a assinatura do contrato”.

O documento pedia mais de 30 alterações nas cláusulas do contrato a ser assinado. Apesar da complexidade da solicitação, a assessoria jurídica da extinta Secretaria Extraordinária da Copa (Secopa), analisou toda a documentação e emitiu parecer favorável no mesmo dia, homologado pelo então secretário Maurício Guimarães, “com celeridade certamente incomum na Administração Pública”. 

“Ignorou-se a excepcionalidade de alterações em contrato administrativo em momento posterior à licitação e antes da assinatura do contrato, para estabelecer dispositivos que ensejam benesses financeiras e jurídicas ao Consórcio VLT, em evidente afronta ao interesse público”, diz trecho do relatório. 

Essas e outras irregularidades levaram o MPF e o MPE a ajuizarem, em novembro de 2014, uma ação civil públia contra as empresas, o secretário Maurício Guimarães e o governador à época Silval Barbosa, “postulando pela a indenização por dano moral coletivo suportado em razão de supostos atos ilícitos, no valor de R$ 74.011.731,45, que teriam sido praticados pelos réus por ocasião da escolha do modal VLT, bem como a imposição de multa punitiva (punitive damages), no montante de R$ 74.011.731,45, totalizando R$ 148.023.462,905”. 

Pelos mesmos fatos, em julho de 2016 o Estado de Mato Grosso e o MPE ingressaram com uma segunda ação contra o grupo, além de outros participantes das ilicitudes, por conta dos “graves prejuízos aos cofres públicos, causados pela prática do chamado jogo de cronograma, distorções no cronograma físico-financeiro e alterações no contrato firmado, em benefício das empresas contratadas”.

Propina milionária

Com a deflagração pela Polícia Federal da Operação Descarrilho, em agosto de 2017, todo o esquema foi descortinado com base nas delações do ex-governador Silval Barbosa e do ex-secretário de Estado Pedro Nadaf. 

Nadaf contou ao MPF que quando estava no Governo fez uma viagem à Suíça na condição de membro da Confederação Nacional do Comércio. Antes de embarcar, segundo ele, Silval Barbosa perguntou se ele sabia como funcionava o sistema financeiro na Suíça.

O motivo do questionamento foi feito, segundo Nadaf, porque Silval disse que tinha para receber, somente de sua parte, 8 milhões de euros de propina da empresa espanhola CAF, "responsável pela venda dos vagões do VLT ao governo".

O ex-governador foi intimado pelo MPF a esclarecer a questão e confirmou o esquema. 

De acordo com Silval, antes mesmo de assumir o Governo, em 2010, já havia a definição de que o modal de mobilidade urbana para Cuiabá e Várzea Grande durante a Copa de 2014 seria o BRT. 

Porém, após tomar posse, foram iniciadas discussões sobre a possibilidade de mudar o modal para o VLT. Para isso, foi organizada uma viagem a Portugal, para que os representantes dos Poderes Executivo e Legislativo conhecessem a empresa Ferconsult, "especialista em projetos de transportes públicos".

Na comitiva também estava presente o empresário de factoring Ricardo Bourbon Neves e o lobista Rowles Magalhães, "representante do fundo Infinity que, mais a frente 'doaria' o pré-projeto de implantação do VLT ao Governo do Estado".

Com a mudança e a realização da licitação, que teve o Consórcio VLT como vencedor, Silval disse que seu grupo procurou as empresas que compunham o consórcio para exigir propina. 

No depoimento, Silval disse que após a homologação da licitação, pediu para o então secretário da Secretaria Extraordinária da Copa (Secopa), Maurício Guimarães, conversar com o representantes do consórcio para negociar a propina.

"Eu tinha a intenção de usar tais recursos para quitar uma dívida oriunda de um empréstimo [no valor de R$ 29,5 milhões] que havia sido contraído perante o Banco Rural, por intermédio da empresa Todeschini Construções e Terraplanagem Ltda, representada por João Carlos Simoni".

Conforme o ex-governador, o empréstimo havia sido contraído para quitar uma dívida da campanha de 2010. Silval contou que Maurício Guimarães conversou com o então diretor da CR Almeida e, nessa reunião, ficou definido o percentual de 3% sob o valor de R$ 600 milhões do contratos, ou seja, R$ 18 milhões em propina.

 
Informações da Secom
 
 Imprimir