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27/01/2021 às 08:16 | Atualizada: 27/01/2021 às 08:17

Baixa oferta de gado para abate segue em 2021 e preço da carne deve subir ainda mais

Edyeverson Hilario

Em dezembro, os frigoríficos de Mato Grosso utilizaram apenas 62,82% da capacidade de operação. As atividades das plantas alcançaram o menor patamar visto desde setembro de 2010. De acordo com o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) o cenário é resultado da queda na oferta de animais às indústrias, em conjunto com o aumento das exportações de animais.
 
A queda na ocupação das indústrias frigoríficas representou uma diferença de 12,85% na utilização média anual, redução que deve perdurar neste ano, haja visto que tudo indica que não haverá mudanças no número de animais disponíveis para o abate.
 
Ciente dessa tendência, as indústrias terão que se adaptar para passar por essa situação. Segundo o presidente do Sindicato das Indústrias de Frigoríficos do Estado de Mato Grosso (Sindifrigo), Paulo Bellincanta, “não há como ir contra uma lei de mercado. Oferta e procura. As empresas terão um abate menor durante esse ano. Essa diminuição de abate é uma questão de equação de volumes. Cada empresa deverá se equacionar para um custo e um abate menor”, relata.
 
Bellincanta explica que a baixa oferta dos animais prontos para o abate não é “nada que comprometa o abastecimento. Não há risco de falta de carne para o consumidor. Não é suficiente para você criar nenhum alarde de falta de produto. Quando você fala de falta de produto é uma palavra muito carregada, muito pesada”.
 
Contudo, adiantou que “essa diminuição vai impactar o preço. Teremos preços maiores, talvez, preço histórico por algum tempo”.
 
O representante das indústrias frigorificas comentou que a pecuária é cíclica e, por isso, é difícil prever em quanto tempo esse cenário de preços altos e baixas ofertas de animais prontos para o abate pode mudar. Contudo, assegurou que certamente vai durar o ano todo.
 
Por outro lado, descreveu que não há “nenhuma catástrofe a caminho. Apenas uma pressão de preço por um tempo. Uma equação de mercado. Uma competição com o mercado internacional. Uma adequação de consumo”.
 
Outro fator que agrava a situação dos frigoríficos é a tendência de redução no consumo de carne. Análises de mercado feita pelo setor indica que o consumo não será um fator de pressão sobre os preços, uma vez que a pandemia avança e, ainda há muitas pessoas desempregadas, a economia começa a dar sinais de recuperação agora e tudo indica que o auxílio emergencial não vai continuar. Fatores que vão influenciar de forma direta o consumo da carne vermelha.
 
Por esse motivo, a pressão de consumo será bem menor do que ano passado. Dessa forma, a equação entre o que falta de boi e quanto o consumo será menor só vai ser constatado nos próximos dois ou três meses.
 
Apesar de mencionar o que deve ocorrer nesse ano, o representante dos frigoríficos, avalia que pode haver um cenário contrário ao desenhado por ele. O que pode ser ainda pior para a indústria, caso, a procura por carne fique inferior ao volume ofertado pelos frigoríficos.
 
“A grande pergunta é se a demanda não vai cair mais do que está caindo a oferta do produto. Quando eu falo em aumentar preço, falo em a demanda continuar qual foi o ano passado e, a oferta ser menor, mas nada está me garantindo que essa demanda não possa cair ainda mais do que a oferta. A oferta se reduz, mas a demanda mais ainda, aí você vai ter uma condição exatamente inversa daquela que eu estou dizendo, e os preços poderão abaixar”, explica.
 
Preços devem permanecer elevados
 
De acordo com o consultor técnico da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Amado de Oliveira Filho, as chances do preço da carne bovina se manter elevada até 2023 são grandes. Situação que segundo ele, já era percebida desde o final do ano passado.
 
Apesar da previsão, Amado relata que mesmo com o cenário negativo, “havia expectativa de regularização do ciclo chuvoso e isso não está acontecendo. Dessa forma, teremos em 2021 sérios problemas de elevar a oferta de animais gordos. Em função da dificuldade de manutenção e terminação de animais engordados a pasto, e certamente, verificando ainda preços elevados e matérias primas para o arraçoamento de bovinos”.
 
Outro fator abordado por ele é o fato de que o mundo continuará demandando a carne brasileira, especialmente a China, o que contribuirá para a manutenção dos preços do mercado interno e externo em alta. “Já em 2022 deverá sofrer poucas alterações no cenário deste ano e mudanças mais significativas só serão percebidas a partir de 2023, quando a pecuária bovina deverá experimentar um novo ciclo econômico”, finaliza.
 
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