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31/01/2021 às 10:00 | Atualizada: 31/01/2021 às 10:25

Secretário fala dos desafios na Educação e aposta em aula presencial para reduzir evasão

Camilla Zeni

Secretário de Estado de Educação (Seduc) desde novembro de 2020, quando passou de adjunto ao posto principal, Alan Porto avalia que o ano que passou deixou sequelas na educação, seja mato-grossense ou mundial, como efeito negativo da pandemia da covid-19. Segundo ele, a taxa de evasão escolar foi muito maior em 2020, uma vez que os estudantes não se adaptaram à modalidade de ensino à distância.

Ao Leiagora, Alan Porto também afirmou que as unidades já estão prontas para o retorno das aulas, e informou, inclusive, a reforma de algumas escolas durante o ano que passou. De acordo com o gestor, a Secretaria de Estado de Saúde confeccionou uma cartilha e um protocolo de segurança para a volta das aulas nas instituições.

Ainda segundo o secretário, a expectativa da Seduc é de que a partir de março as escolas possam iniciar com o sistema híbrido de ensino, ou seja, com 50% da capacidade de lotação. Nesse caso, o secretário ressaltou que os pais não serão obrigados a aderirem à modalidade, e que os alunos que não estiverem confortáveis poderão continuar com as aulas online. 

Abaixo, confira trechos da entrevista com o gestor:


Leiagora - Secretário, a Seduc informou nessa semana a abertura de uma investigação contra diplomas fraudados, apresentados por professores contratados para a contagem de pontos. 

Alan Porto -
Isso. Nós temos em torno de 45% dos nossos professores por contratos temporários. Todo ano a gente faz o processo seletivo, que é a contagem de pontos, e chegam denúncias aqui na secretaria. E toda denúncia que chega em relação a falsificação de diplomas e esses tipos de coisas, vamos apurar. Então estamos tomando as providências para checar se realmente houve ou não algum candidato que entrou com documento falsificado. Foi uma denúncia pontual.

Leiagora - O senhor mencionou agora que os contratados somam 45% do quadro de professores. Como fica o processo de atribuição de aulas para 2021, considerando que em 2020 muitos ficaram sem os contratos?

Alan Porto -
2020 foi um ano atípico. Teve a pandemia e foi um ano eleitoral, então tivemos problemas nas contratações dos professores, porque no período eleitoral você não pode fazer a contratação, mas em 2021 não teremos esse problema. Todas as turmas terão professores. É natural a gente fazer a atribuição primeiro dos efetivos, depois dos remanescentes efetivos a gente inicia a atribuição dos contratos temporários. 

Leiagora - Há alguma previsão se deve haver diminuição no número de contratados esse ano, considerando que houve o chamamento de novos concursados em dezembro?

Alan Porto -
A questão é as turmas. Em 2019 nós tínhamos em torno de 380 mil alunos, hoje estamos na casa de 340 mil. Até o dia 8 de fevereiro, quando inicia as aulas, deve aumentar bastante o número de matrículas, e assim que for formando as turmas a gente vai fazendo a contratação de professores. O que houve foi uma queda de matrículas, e eu só posso contratar professor quando houver turmas formadas, não posso contratar professor a mais. Conforme for montando as turmas, vamos contratando os professores. 

É importante dizer que em dezembro de 2020 nós chamamos 342 professores efetivos. Estamos esperando finalizar a contratação, a posse desses professores, e assim que finalizarmos a atribuição desses professores a gente vai tirar o retrato atual de quais são as vagas livres para a gente chamar os professores da segunda etapa do concurso, que foi realizado em 2017.

Leiagora - Ficou definido pela Seduc o retorno remoto das aulas para 2021. Apesar disso, o sistema híbrido está preparado para o funcionamento? Quando deve entrar em vigor, na melhor das hipóteses? 

Alan Porto -
O governo de Mato Grosso decidiu que as aulas retornam no dia 8 de fevereiro, no sistema não presencial, por causa dos números de covid-19, que aumentaram muito nesta semana. Então, nesse momento, a gente está, sim, preocupado com a saúde do professor e da família desses alunos, porque na sala de aula, além de envolver essa quantidade de professor e alunos, a gente tem que se preocupar com o transporte público, o transporte escolar e toda essa movimentação. Estamos falando de mais de 20 mil professores, apoio técnico.. É uma grande quantidade de pessoas circulando e isso poderia vir a aumentar a quantidade dos casos de covid. 

Então, nesse primeiro momento decidimos não presencial. Toda semana vamos estar avaliando com os especialistas da saúde todo esse crescimento da curva pandêmica e, quando tivermos a segurança dentro da escola, e para os nosso professores, para os nossos alunos, vamos retornar de forma gradativa, no modelo híbrido, ou seja, com 50% da capacidade de ocupação da escola. Temos uma previsão aí de março, e alguns municípios já têm manifestado isso, como Cuiabá e Várzea Grande. A Undime também informou que 51 municípios vão iniciar as aulas em fevereiro já na modalidade híbrida.

Mandamos recursos para as escolas no final do ano passado para a aquisição de termômetros, máscara, álcool em gel, tapete. Foi emitida uma cartilha para todos os diretores e feita formação com todos eles no início do ano para que, no retorno, na modalidade híbrida, a gente não tenha nenhum problema nos cumprimentos dos protocolos de segurança.

Leiagora - Nesse retorno, as crianças serão submetidas a testes de covid-19? Haverá distribuição de máscaras?

Alan Porto -
Não, eles não serão testados. Na acolhida vai ter um servidor que vai aferir a temperatura deles, vai passar álcool em gel, fazer a desinfecção, e ele vai para a sala de aula. Dentro da sala terá o distanciamento entre as cadeiras de, no mínimo, um metro e meio, e em toda a ambientação, como vai ser no refeitório, na diretoria, na coordenadoria, na secretaria escolar, respeitando todos os protocolos, que foram elaborados pela Secretaria de Saúde.

Tem um plano de contingência, também, para todas as escolas. Então, em relação a isso, hoje nossas escolas se prepararam para todas as modalidades, tanto no sistema remoto quanto híbrido. Preparadas e orientadas de como proceder.


Escolas foram adaptadas e possuem dispensers com álcool para higienização das crianças / [Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil]

Leiagora - E esse sistema híbrido vai ser obrigatório ou os pais que não se sentirem confortáveis podem deixar de enviar seus filhos à escola?

Alan Porto -
Isso já está nas orientações do Conselho Nacional de Educação. O Conselho Estadual de Educação nos trouxe e nós acatamos. No momento em que retornar com o sistema híbrido, o pai que não tiver interesse de enviar seu filho para as escolas assina um termo de compromisso, informando que o filho dele não vai estar na modalidade híbrida, e ele vai receber um material. Se não tiver internet, um material apostilado. Caso ele tenha internet, temos a plataforma Google For Education, que é um ambiente virtual mais adequado, é uma sala física transformada em uma sala virtual. Aí tem essa opção para o pai, caso ele não deseje que o filho vá até a escola. Ele fica recebendo as aulas de forma remota.

Leiagora - A Seduc apontou que a maior parte dos estudantes pedem o retorno das aulas presenciais por não terem conseguido se adaptar às aulas em 2020. A aprendizagem ficou prejudicada. Como a Seduc pretende recuperar esse ano que passou?

Alan Porto -
Esse é um problema que vem acontecendo no Estado de Mato Grosso infelizmente, e no Brasil inteiro. Recentemente, a gente conversou com os nossos alunos, o Fórum Nacional de Educação, para entender quais eram as dificuldades que enfrentaram em 2020, e muitos deles não aproveitaram as aulas remotas. Informaram que é muito cansativo você ficar tanto tempo na frente do computador. Muitos informaram, também, que é muito tempo dentro de casa e problemas como ansiedade e depressão. A gente fez uma enquete e 70% dos estudantes querem retornar a modalidade presencial. Os pais também manifestaram, os professores, e ficou 50% para cada lado: uma parte deseja retornar para a escola e outra parte quer que mantenha o sistema remoto.

Nós vivenciamos um problema ruim na Educação, por conta da pandemia. Eu tenho falado nas minhas entrevistas que foi uma tragédia educacional o ano de 2020, mas aprendemos com esses erros e tentamos minimizar. Alguns especialistas já estimam que vai levar de dois a quatro anos para recuperar isso. Mas tem a agenda do [Programa] Mais MT, que prevê um investimento de mais de R$ 930 milhões, tem a captação de recurso que o governo vem fazendo com o Banco Mundial, de um empréstimo de mais de U$ 100 milhões, um investimento muito grande que vai acontecer no ano de 2021 e 2022. Esse investimento vai para a parte de infraestrutura e tecnológica. Estamos executando uma licitação de 12 mil notebooks, estamos comprando chromebooks para os alunos. Vai vir uma plataforma educacional onde esse computador funciona de forma online e offline. 

Vamos trabalhar com aula de reforço, com laboratório de aprendizagem, material didático estruturado, que é o mesmo das escolas particulares e eles podem levar para casa. É um grande investimento. Vamos trabalhar com formação dos nossos professores, em parceria com os municípios, com avaliação para medir o nível de aprendizado que eles estão hoje e onde temos que melhorar. Então, vamos trabalhar com um currículo diversificado, focado na recuperação da aprendizagem dos nossos alunos. 

Leiagora - Conforme a Seduc, 20% dos alunos deixaram as escolas em 2020. O senhor acredita que as aulas remotas tenham peso nisso? Será que se o retorno fosse presencial a evasão seria menor?

Alan Porto -
Não tenho dúvida. Muitos dos alunos ainda não fizeram a matrícula porque as aulas não são presenciais. E muitos deles tiveram problemas. Eu já falei que 20% dos nossos alunos não tiveram acompanhamento de aula online e nem apostilada. Eles receberam material, mas evadiram no ano de 2020. Então, eu não tenho dúvidas que a gente, retornando de forma gradativa, no sistema híbrido, a procura de matrícula será, com certeza, maior. A gente sabe que essas ferramentas tecnológicas são um meio, mas não substituem os professores dentro de sala de aula. Vamos recuperar mesmo o aprendizado vai ser com escola funcionando, professor dentro da sala de aula e nossos alunos. Aí sim vamos começar a virar o jogo de 2020, que foi um ano muito ruim.

Em 2020 com certeza a evasão foi muito maior por conta da modalidade. Modalidade remota é o que os alunos não querem. Nós tínhamos em torno de 380 mil alunos e hoje temos 340 mil, então temos em torno de 40 mil alunos que não fizeram as matrículas para o ano de 2021 ainda. A gente espera que até o dia 8 de fevereiro, quando começa o ano letivo, boa parte desses alunos vai efetivar sua matrícula. 

Leiagora - Na sua visão, como os pais devem lidar com mais um período de aulas remotas? Considerando que parte de 2020 foi vivido em home office por parte dos pais e agora a rotina já retornou completamente.

Alan Porto -
Não. Eu trabalho com indicadores. Nós ouvimos os pais e os profissionais da educação. Em torno de 50% concorda que tem que retornar no sistema híbrido e a outra metade no sistema remoto. Mas os estudantes, 70% desejam retornar no sistema presencial. Mas em relação a onde vão deixar os filhos, ou como ficam os trabalhos, esses dados a gente não têm.

Leiagora - Anteriormente o senhor citou o programa Mais MT, que prevê grandes investimentos na Educação. Quais serão os mais imediatos?

Alan Porto -
Nesse primeiro semestre vamos entregar 15 escolas novas. Somente em Cuiabá serão três, Várzea Grande, Rondonópolis, Sinop, Tangará da Serra, Jaciara, Barra do Bugres. São mais 30 quadras poliesportiva e 340 escolas irão passar por manutenção corretiva e preventiva, além de 300 escolas que serão climatizadas até o final de 2022. 

Nós estamos muito preocupados com a ambiência, porque é valorizar o professor e o aluno. Uma sala bem iluminada, climatizada, com mobiliário adequado, os índices já disseram isso para nós, melhora a aprendizagem dos nossos alunos. Não tenho dúvida de que isso é muito importante e fundamental o investimento na infraestrutura dessas escolas. 

Leiagora - Durante a pandemia haviam pedidos para que a Seduc promovesse a reforma das unidades, aproveitando a ausência das pessoas no ambiente. Isso aconteceu? Quantas escolas chegaram a ser reformadas nesse período? 

Alan Porto -
Sim, o período foi muito bem aproveitado. No ano de 2020 investimos na faixa de R$ 10 milhões em 45 municípios. Ao todo, 98 escolas passaram por manutenção. São reparos na parte elétrica, na parte sanitária, principalmente na parte de banheiro e refeitório, principalmente na parte molhada, já para adaptar à essa nova realidade da pandemia.
 
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