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23/02/2021 às 10:03 | Atualizada: 23/02/2021 às 10:53

Antonio Joaquim engaveta aposentadoria e diz ser vítima de uma 'trama rancorosa e maldosa'

Alline Marques

O conselheiro Antonio Joaquim garantiu que o projeto de aposentadoria foi engavetado e irá seguir o trabalho no Tribunal de Contas do Estado. Em seu retorno, após 3 anos e 5 meses afastados do pleno, o conselheiro disse ter sido vítima de “uma rancorosa e maldosa trama” armada tanto pelo ex-governador Silval Barbosa quanto pelo também ex-governador Pedro Taques (SD).

“Há dias, desde quinta quando soube da decisão, me debato com dois sentimentos distintos, quase antagônico, alívio por receber a notícia de que a justiça começa ser restaurada. O segundo não é tão bom, é um sentimento de revolta por ver escancarada uma certeza que sempre tive, ao longo desses 3 anos, ser vítima de uma rancorosa e maldosa trama”, declarou.

O primeiro teria sido motivado por vingança diante da atuação dele diante das obras da Copa do Mundo. Antonio Joaquim relembrou que chegou a fazer 12 relatórios apontado as irregularidades e alertando para o fato de que não ficariam prontas a tempo. Já Taques agiu para evitar que tivesse o conselheiro como adversário político na eleição de 2018.

“De um lado uma vingança ardilosa do ex-governador Silval Barbosa contra minha atuação vigilante contra sua gestão, apontei em mais de 12 relatórios as mentiras que eram contadas, Somente a este fato deduzo ter sido citado na sua delação. Do outro lado, pesou a mente raivosa do então governador Pedro Taques em conluio com seu ex-colega de procuradoria, Rodrigo Janot. Não mediu consequências para se livrar de um possível adversário”, apontou.

Antonio aproveitou para elencar uma ordem cronológica dos fatos e lembrou que em 2017, no dia 29 de agosto, chegou a anunciar sua aposentadoria para disputar as eleições, mas dois dias depois foi alvo da operação que resultado em seu afastamento. Ainda assim, diante da certeza de que seria inocente, ele chegou a protocolar o pedido de aposentadoria no dia 12 de setembro, mas acabou barrado pelo então governador Pedro Taques.

De volta ao TCE, o conselheiro foi categórico em afirmar que Taques agiu em conluio com o então procurador Geral, Rodrigo Janot, que inclusive foi seletivo em apurar as denúncias feitas na delação de Silval Barbosa, na qual Antonio Joaquim afirma ter delatado cerca de 200 pessoas entre físicas e jurídicas.

“A cronologia reforça minha convicção de que fui alvo de tamanha violência pela ousadia de deixar um cargo vitalício para me submeter ao crivo do voto popular. Uma sequência de fatos que provam que foi o grande crime que cometi e fui duramente injustiçado. Subestimei a mente maldosa do Pedro Taques – um erro que espero não cometer mais na minha vida. Minha satisfação é de que na eleição o povo conferiu a ele o devido tamanho com uma votação inferior aos brancos e nulos. Numa eleição de 3 adversários, ficou em 4º lugar”.

O conselheiro destacou que o próprio Taques chegou a ser citado na delação de Silval, mas sequer foi aberto inquérito para apurar o fato. Outra delação que foi ignorada por Janot foi a do empresário Alan Maluf que apontou um esquema de pagamento de propina envolvendo o ex-governador.

Reafirmando sua inocência em vários momentos de seu discurso, de aproximadamente uma hora, Antonio Joaquim apontou que acabou sendo o motivo do afastamento dos demais colegas.

“Não cometi nenhum crime, nenhuma ilegalidade – sou absolutamente inocente. No âmbito do processo que ainda não existe, porque não fomos nem denunciados formalmente, discutiu-se a questão do afastamento, se eu for chamado no processo, porque diferentemente do que se disse e noticiou, e do que se falou, eu sempre fui o conselheiro que contradizia o governo da época, apresentei uma dúzia de relatórios e várias coisas contra, como o caso da Land Rover, do teleférico, várias licitações suspensas e tantas e tantas outras coisas que estão ai para ser pesquisada”.

CONTRAPONTOS DA DELAÇÃO

Antonio Joaquim aproveitou também para explicar o fato de ter sido citado na delação de Silval. De acordo com ele, o nome dele aparece em dois momentos, um deles se refere à venda de uma fazendo ao empresário Vanderlei Torres, de quem Silval seria sócio oculto. No entanto, o conselheiro alega que desconhecia o fato, assim como diz não saber que o recurso usado para pagar a propriedade seria oriundo de propina.

Ele diz que o próprio empresário teria explica que nunca informou o conselheiro de que era sócio de Silval e que o dinheiro era de propina. “Cabe a mim explicar os dois momentos da delação. Em 2012 eu vendi uma fazenda para um empresário que na época era respeitado, como era o então governador Silval Barbosa. Naquela época não havia nenhuma denúncia contra o então governador. Vendi para o empresário respeitado, depois surgiu essa história de que ele era sócio oculto do cara que comprou minha fazenda. Uma propriedade que está no meu imposto de renda, ele me paga em 3 vezes e foi tudo declarado no meu imposto de renda. Como posso ser penalizado? É uma coisa estapafúrdia”, afirmou.  

O conselheiro alegou que Janot colocou a venda da fazenda como algo criminoso, uma venda que seria legal e não tem nada a ver com o TCE, uma negociação particular. “Não se pode falar em lavagem de dinheiro, operação aberta e declarada recebida em conta bancária, ainda assim foi considerado um crime o que eu fiz e foi motivo do meu afastamento. A base foi a palavra do ex-governador, mais nada, não teve o cuidado de pelo menos ouvir o empresário”, afirmou.  

O segundo momento em que é citado é que ele teria, supostamente, participado de um esquema de corrupção. “É falado que eu teria estado com um colega que propôs uma propina e seria um dos beneficiários. Eu não estive com ele, e novamente, isso foi motivo do meu afastamento: sua palavra, mais nada”.

INJUSTIÇA

Uma das palavras mais citada por Antonio Joaquim é injustiça. Ele alega que os conselheiros foram os únicos punidos antecipadamente dos mais de 200 citados na delação de Silval. “Ficamos em estado permanente de investigação”, afirmou.

Ainda com rancor de Taques e Janot, o conselheiro não mediu as palavras para falar de ambos. “Duas figuras – Janot e Taques – que se merecem e se completam. Janot ignorou, fingiu de morto, um fato de que o Taques estava na mesma delação do Silval, de que estaria conversando com o então candidato para pedir dinheiro. É verdade? Não sei, mas por que sequer não abriu inquérito? A mesma omissão, a mesma inércia ocorreu coma delação de Alan Maluf contra o Taques, ele engavetou a denúncia contra o Taques”, questionou.
 
Frustrado, decepcionado, impotente foram algumas palavras para descrever o que ele chamou de abusos de autoridade. “Foram 3 anos de 5 meses de uma reputação arrebentada, sentindo o gosto amargo da injustiça. Cansado, porém, em pé, com a cabeça erguida. (...) Portanto,  mesmo com ombro dolorido e as costas cansada de aguentar o peso das denúncias descabidas, sigo acreditando na polícia federal, nos Ministérios Público Federal e Estadual, porque para mim a atitude de desvio de conduta de um membro não contamina a  reputação da instituição”, afirmou.

“Enfim, fui colocado em condição de pária na sociedade com o afastamento e o impedimento de me aposentar. Eu estava vivo, porém como deletado, em liberdade mas como enclausurado. É uma forma de prisão. Enclausurado por um suposto crime que nunca cometi, porém, já pré-julgado, condenado e socialmente condenado. Até para sair na rua você tem temor de ser abordado. Sempre entendi que uma das maiores violência é a injustiça. Por isso ao longo desses 3 anos e 5 meses, bem longe da função de julgador de contas públicas, me senti ainda mais violentado por esse monstruosa injustiça, sem ter sido até hoje denunciado por um suposto crime, que, insisto, nunca cometi”.

EFEITO CASCATA

Antonio alegou ainda não há como deixar de reconhecer que os demais colegas acabaram sendo vítima da “ousadia dele em anunciar candidatura ao governo”. “Se não fosse a minha ousadia de dar voz a uma candidatura, teria acontecido diferente, com mais imparcialidade, prudência, justiça e igualdade de tratamento. Como foram tratados os outros personagens citados que até hoje não foram penalizados. Nenhum anunciou pré-candidato a governador”.
 
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