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16/04/2021 às 17:57

Senadores pedem a Joe Biden que não dê dinheiro ao Brasil caso desmatamento não reduza

Por G1

Um grupo de 15 senadores do Partido Democrata dos Estados Unidos enviou uma carta ao presidente americano nesta sexta-feira (16) em que reclamam da falta de medidas para preservar o ambiente por parte do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. Os políticos dos EUA também pedem para que Biden condicione qualquer apoio à preservação da Amazônia a um progresso nas ações brasileiras.

A carta foi assinada por senadores como Patrick Leahy, líder do comitê que aprova os gastos de dinheiro do governo; Bob Menendez, do comitê de relações exteriores e Bernie Sanders, que foi pré-candidato à presidência dos EUA.

Há expectativa de um encontro entre Biden e Bolsonaro, além de outros líderes internacionais, para falar sobre o clima.

Aparentemente, a carta tem como objetivo evitar que Bolsonaro consiga se reposicionar como um líder disposto a cooperar para a preservação do ambiente só para garantir um repasse de bilhões de dólares.

Na carta, os senadores também afirmam que se o ritmo de desmatamento não melhorar, eles não vão aprovar o pedido do Brasil de ingressar na OCDE, uma espécie de clube de países ricos (esse é um dos objetivos de Bolsonaro).

“A retórica e as políticas do presidente Bolsonaro efetivamente deram um sinal verde para que os perigosos criminosos que atuam na Amazônia, que permitiu a eles expandir suas atividades”, afirma a carta.

Eles também citam abusos relatados pela ONG Human Rights Watch.

Honrarem os compromissos

Uma parceria entre EUA e Brasil “só pode ser possível de a gestão de Bolsonaro começar a levar os compromissos com o clima do Brasil a sério –e só se eles protegerem, derem apoio e se engajarem significativamente com os brasileiros que podem ajudar o país a honrarem esses compromissos”, afirmaram os senadores.

Durante a campanha presidencial, Biden propôs que um grupo de países pudessem doar US$ 20 bilhões ao Brasil para combater o desmatamento e que, caso o país fracasse, enfrente consequências.

Naquela ocasião, Bolsonaro classificou os comentários de Biden como desastrosos.

Conversas bilaterais sobre o clima com o Brasil começaram no dia 17 de fevereiro. O responsável por elas foi John Kerry, o enviado especial para o clima dos EUA.

Os dois lados têm mantido encontros técnicos que antecedem a cúpula marcada para os dias 22 e 23 de abril, que acontecerá por transmissões pela internet.

O Brasil tentará mostrar que mudou, e que não está fazendo discursos vazios.

O presidente Bolsonaro enviou, no dia 14 de abril, uma carta de 7 páginas para o presidente Joe Biden, em que reconheceu que o governo precisa melhorar seu desempenho para impedir o desmatamento ilegal.

Ele também afirmou que apoia o desenvolvimento sustentável com alternativas econômicas para os moradores pobres da região, e que ele se comprometia a acabar com o desmatamento ilegal até 2030.

Para atingir esses objetivos, ele afirmou que o Brasil via precisar de recursos externos. Ele afirmou que uma ajuda do governo dos EUA seria “muito bem-vinda”.

Tom de Bolsonaro

Rubens Barbosa, um ex-embaixador do Brasil nos EUA, afirmou que ainda é preciso ver se o tom da carta de Bolsonaro vai ser repetido em seu discurso no encontro de cúpula.

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou recentemente que busca US$ 1 bilhão em assistência estrangeira para apoiar os esforços para diminuir o desmatamento entre 30% e 40% em 12 meses. Sem esse dinheiro, ele disse que não conseguirá atingir essa meta.

O gasto do Brasil para proteção da Amazônia tem caído há anos. Sob a gestão de Bolsonaro, ele diminuiu ainda 25% neste ano. É o nível mais baixo em duas décadas.

Os senadores dos EUA argumentam que Biden precisa ver melhoras antes de assinar um cheque.

Eles argumentam que Bolsonaro já ridicularizou a agência ambiental e que sabotou os esforços dos órgãos que protegem os territórios indígenas, desprezou ambientalistas e resiste a conter a ilegalidade que alimenta a destruição do ambiente.

“Qualquer ajuda dos EUA ao Brasil ligada à Amazônia deveria ser condicionada a um progresso significativo e sustentável em duas áreas críticas: reduzir o desmatamento e acabar com a impunidade para crimes ambientais e violência contra os defensores da floresta”, afirmaram os senadores.

Os especialistas em clima já avisaram que se o desmatamento prosseguir, a Amazônia passará de um ponto em que não poderá voltar a se recompor. Com isso, serão emitidos bilhões de toneladas de dióxido de carbono. Com isso, dificilmente as metas do Acordo de Paris serão alcançadas.

No entanto, o Brasil se mostrou incapaz de diminuir o desmatamento no passado. O melhor ano foi 2012. De lá para cá, o desmatamento só piorou e explodiu no primeiro ano da gestão de Bolsonaro. No ano passado, houve uma segunda alta histórica.

Em 2019, depois reclamações de líderes da Europa e ameaça de desinvestimento de fundos institucionais, Bolsonaro empregou o exército no combate ao desmatamento.

Dados iniciais indicam que o desmatamento começou a cair, mas ainda está muito acima da média da última década.

No entanto, há críticas de especialistas que afirmam que os soldados não são treinados para isso e o valor disso é muito alto.

O vice-presidente Hamilton Mourão anunciou que o programa do exército vai acabar no fim de abril, e que as agências encarregadas da prevenção vão retomá-lo.

Daniel Wilkinson, que dirige o programa ambiental da Human Rights Watch, afirma que “as autoridades brasileiras têm se esforçado para apresentar o Bolsonaro como um aliado do governo Biden nas questões climáticas, mas que sua nova retórica favorável ao clima simplesmente não pode - e não deve - ser levada a sério na ausência de resultados reais”.

Momento da carta

Essa carta dos senadores dos EUA foi enviada ao mesmo tempo em que pessoas, no Brasil, tentam mostrar como Bolsonaro é um negociador de má-fé.

Mais de 200 organizações não-governamentais e redes assinaram uma carta para dizer que as negociações com os EUA e outros governos estrangeiros acontecem longe do público, e que não dá para contar com nenhuma solução para a Amazônia em negociações a portas fechadas. Eles também ressaltam que as conversas não deveriam prosseguir se não houver melhoras nos índices de desmatamento.
 
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