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28/04/2021 às 10:19 | Atualizada: 28/04/2021 às 10:20

Defensoria pede que agressor pague R$ 1,7 milhão a morador de rua que levou tapa na cara

Camilla Zeni

A Defensoria Pública de Mato Grosso entrou com ação para garantir a indenização por danos morais e coletivos em razão da agressão e humilhação sofridas por Anderson Luis da Silva Zahn, de 26 anos, em abril de 2020. O rapaz era morador em situação de rua em Sinop (500 km de Cuiabá), onde, iludido atrás de ajuda financeira, acabou sendo agredido pelo empresário Adonias Correia de Santana. 

Além de Adonias, também foi acionado judicialmente Hildebrando José Pais dos Santos. Ele dirigia o carro quando o empresário parou para abordar o então pedinte. Na ocasião, Anderson segurava uma placa com os dizeres "Tô com fome. Você pode me ajudar?".

A dupla mostrou uma nota de R$ 20 e começou a conversar com Anderson, até que, de repente, Adonias passou a agredi-lo e disse: "Vai trabalhar, vagabundo, filho da puta". Depois, ainda perguntou se o rapaz queria apanhar mais. As cenas foram gravadas pelos próprios envolvidos e viralizaram nas redes sociais, causando comoção e indignação nacionalmente.

Na ação, a Defensoria cita a necessidade de "reparação dos danos sofridos por um cidadão em situação de rua e, junto com ele, de toda uma coletividade de pessoas que se encontram nessa mesma situação jurídica, em virtude dos desprezíveis atos perpetrados pelos requeridos que, sem qualquer razão e justificativa, desferiram violência verbal, física e psicológica em desfavor".

"Tais atos acabam por legitimar e estimular outras condutas preconceituosas, segregadoras e violentas da sociedade em relação às pessoas em situação de rua, eis que permanece a sensação de impunidade diante da ‘invisibilidade’ desta coletividade vulnerável cuja vida não tem valor, pode ser desprezada”, diz trecho da ação.

O pedido é para que a indenização por danos morais seja de R$ 700 mil, em nome de Anderson, e R$ 1 milhão a título de danos coletivos. O segundo valor seria destinado ao Fundo Estadual de Defesa das Pessoas em Situação de Rua. Também foi feito pedido liminar para arresto dos bens dos acusados, para impedir que eles transfiram o patrimônio para não pagar a indenização. 

Vida nova

Por meio do telefone, Anderson conversou com a Defensoria Pública e relatou que se sentiu humilhado com a situação vexatória que passou. Segundo ele, foram cerca de oito anos morando nas ruas e dependendo da ajuda da população. Contudo, sempre que aparecia a oportunidade de trabalho, ele aceitava. 

"Muitas vezes, quando eu estava pedindo no sinal ou no mercado, aparecia uma pessoa que tinha um serviço para oferecer e eu fazia, um quintal para carpir, por exemplo, sem problema algum”, disse o rapaz. Ele também revelou que era casado e, dois anos atrás, se separou em razão da vida nas lutas e da dependência das drogas. 

Após a repercussão do caso, Anderson foi procurado por um advogado que ofereceu ajuda. Ele contou que, no mesmo dia, iniciou tratamento contra a dependência em uma clínica particular de Cuiabá e confessou que teve dificuldades no início. 

"Depois foi entrando na minha cabeça. Quando eu saí, meu cunhado me arrumou um serviço de servente. Depois que saí da clínica, não parei de trabalhar e nunca mais usei drogas. Agora, estou trabalhando como pedreiro", revelou.

Em janeiro deste ano, Anderson se casou novamente e, com o novo emprego, passou a morar de aluguel. “Quem me vê agora nem acredita que era eu naquele vídeo, magro, malvestido. Hoje, se eu encontrar uma pessoa na rua, vou fazer o possível para tirar aquela pessoa de lá”, disse.

 
Com informações da assessoria
 
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