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09/05/2021 às 10:06 | Atualizada: 09/05/2021 às 10:07

Mãe de gêmeos, Vanessa relata a superação da covid e a angústia de dias longes dos filhos

Luzia Araújo

“EU VENCI A COVID”. A frase em letras maiúsculas foi escrita pela fisioterapeuta Vanessa Tomizawa, na sua página no Instagram, ao deixar o Hospital Regional de Sorriso, na última segunda-feira (3), após tratamento contra o coronavírus. 

A felicidade só não foi completa, porque a moradora de Sinop (500km distante de Cuiabá), deixou os dois filhos gêmeos, recém-nascidos, internados na unidade hospitalar. Ela estava gestante de Henrique e Gabriel quando foi diagnostica com a covid-19 e precisou ser submetida a uma cesariana de emergência, na 30º semana de gestação.

Vanessa explicou que o parto foi necessário para que a equipe médica conseguisse trata-la sem causar sofrimento fetal aos bebês. “Como eu estava gestante, eu não conseguia tomar um monte de medicamentos. Então, a equipe médica só conseguiria me tratar se fosse feita a cesariana”. 

Após o parto, mãe e filhos iniciaram uma luta pela vida. Vanessa para vencer a Covid-19. Já os gêmeos foram para a UTI Noenatal do hospital, para se recuperarem do parto prematuro. A princípio, a fisioterapeuta foi encaminhada para a ala de pacientes com Covid, mas não reagiu ao tratamento, foi intubada e transferida para Unidade de Terapia Intensiva (UTI). 

“Eu estava consciente esse tempo todo. Estava tentando fazer a fisioterapia, mas aí passei de um cateter de oxigênio para uma máscara, de uma máscara para uma bolsa e eles foram vendo que fui decaindo muito, sem responder a medicação. Então, fui comunicada que seria intubada”, relembrou Vanessa. 

Antes de ser intubada, a mãe contou que sentiu medo, enfrentou dias difíceis e que chegou a ver pessoas com covid morrendo ao seu lado. “Quando percebi que estava piorando com uma cesariana, tossindo, não conseguindo respirar e comer e vendo pessoas morrendo ao meu lado, passou muita coisa na cabeça, principalmente na hora da intubação. É difícil virar para o seu marido, abraçar e se despedir. É entregar na mão de Deus e confiar”, contou.  

Ela foi intubada no dia 13 de abril. Com o tempo, Vanessa apresentou melhora no seu quadro e teve o primeiro contato com os filhos por fotos e vídeos, no dia 21 de abril, quando saiu da intubação e recebeu autorização para continuar o tratamento no quarto. Três dias depois, a fisioterapeuta viu os filhos pela primeira vez, pessoalmente, com as crianças ainda na UTI Neonatal. 



Outras gestantes com Covid não tiveram a mesma sorte que Vanessa e morreram da doença, antes de conhecer o filho, depois do parto. Em Mato Grosso, há registros de 2.152 gestantes com covid-19 e 48 óbitos ocorridos em razão da doença. Os dados são da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MT), no período de 2020 a maio de 2021. 

Atualmente, os pequenos Henrique e Gabriel fazem tratamento para reverter uma alteração cardíaca e precisarão passar por uma cirurgia, em Cuiabá, nos próximos dias. Vanessa lamentou que não vai passar o Dia das Mães com os filhos. “A equipe médica tentou reverter a alteração cardíaca com medicamentos, mas a médica me falou que eles não tiveram a evolução e que, provavelmente, vão para cirurgia. Então, o meu Dia das Mães vai ser um pouquinho tumultuado”, explicou a mãe. 

Enquanto isso, a fisioterapeuta vem se recuperando das sequelas deixadas pelo coronavírus. Além da dificuldade para respirar, ela contou que perdeu quase 20 quilos com o parto e os dias que ficou intubada na UTI. Além disso, como teve 70% dos pulmões afetados, Vanessa está fazendo fisioterapia para recuperação pulmonar.  

“Saí do hospital bem debilitada, porque foi uma cesariana mais covid, com período de intubação, exigindo muito do meu organismo”. 

Com os vários casos de mães que não resistem a covid-19 após o parto, a recuperação de Vanessa foi considerada um “milagre” pelos profissionais do hospital. De acordo com estudos da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, gestantes infectadas pelo coronavírus tem risco 62% maior de internação em UTI e 88% mais chances de precisar de ventilação mecânica invasiva. 

Na última segunda-feira (3), Mato Grosso iniciou a vacinação contra a doença em gestantes e puérperas com comorbidades. Para este grupo, estão sendo aplicadas as vacinas da fabricante norte-americana Pfizer. A princípio, as doses do imunizante ficarão exclusivamente em Cuiabá. 

Porém, outros municípios também iniciaram o cadastramento de grávidas com comorbidades para receber as doses de vacinas como a Coronavac e Astrazeneca. As gestantes foram incluídas no grupo prioritário da vacinação contra a covid-19. 

Para a fisioterapeuta a vacinação de gestantes é importante para evitar novas perdas. “Se eu estivesse grávida hoje e pudesse tomar a vacina, com certeza, iria ser a primeira da fila. Falo isso, não pelo o que passei, mas é pelo momento que estávamos vivendo. A covid-19 é uma doença muito nova. Esta segunda onda é uma mutação do vírus e podemos pegar de novo. Eu posso pegar de novo e se eu for infectada, novamente, não sei se vou resistir, porque já tenho um comprometimento pulmonar deixado pelo que eu enfrentei anteriormente e que vai ficar para o resto da minha vida”. 

Além da imunização para todas as gestantes e puérperas, Vanessa espera estar com os filhos gêmeos em casa, o quanto antes. “Se eles precisarem fazer a cirurgia, espero que ela seja tranquila e que encontremos profissionais abençoados como aqueles do hospital de Sorriso. Quero eles aqui em casa logo, porque, é muito difícil estarmos com todo um quarto arrumado e com as roupinhas montadas sem eles aqui”. 
 
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