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Artigos / Colunas / Glaucia Amaral

08/03/2023 às 07:00

8 de março de 2023 é uma praça fechada

O 8 de março não é secundário, não é celebração e ainda há muito sobre o que falar e fazer. Afinal, mulheres vêm se reunindo e refletindo sobre sua condição social há décadas. 

Muitos (e muitas!) afirmam que a igualdade já existe. Que diferenças entre homens e mulheres são coisas do passado. 

A revogação da legislação que estabelecia superioridade de homens sobre mulheres produziu a igualdade como efeito? 

A resposta trazida pelos índices de violência doméstica contra a mulher, violência política, de desigualdade salarial, de diferenças nos cargos de liderança, esses e tantos outros números dizem que a desigualdade ainda é real. 

As mulheres foram para o espaço público, mas os homens não vieram para o espaço privado. Mulheres vivem sobrecarregadas com a total responsabilidade sobre os filhos (mesmo tendo um companheiro), gestão e trabalho profissional, e gestão e trabalho em casa. 

Como ser igual no mercado de trabalho se o seu companheiro ao lado conta com uma verdadeira assessoria de gestão de vida, e nós ainda precisamos gerir a nossa própria e da família? 

A desigualdade mudou. A mulher estuda e trabalha, mas ainda é submetida a um código moral e oportunidades diferente do aplicável aos homens. Convivemos com a desigualdade, especialmente a chamada divisão sexual do trabalho, como se essa divisão fosse natural. 

Uma pergunta para Mato Grosso: quantas agricultoras pobres chefes de família existem? E qual o percentual de mulheres dentre os maiores empresários do assim chamado Agronegócio. 

É fruto de uma construção social que a maioria dos políticos sejam homens e que a maioria das empregadas domésticas, babás, telefonistas sejam mulheres. Que a maioria das enfermeiras são mulheres, e a maioria dos médicos são homens. Professoras são maioria no jardim de infância e homens maioria de professores universitários. 

Os exemplos são vários, que demonstram que ainda vivemos sob crenças e hábitos do passado. E que precisamos refletir sobre eles. 

Reflexão para que não sejamos meras reprodutoras de um comportamento ensinado. E possamos fazer nossas próprias escolhas, sejam elas quais forem. 

Mas especialmente para que os poderes constituídos tomem providências para corrigir distorções que perpetuam a exploração e a submissão. 

A real modificação das relações só virá por meio de uma transformação cultural de homens e mulheres e na forma como enxergamos nossos papéis sociais.  

E precisamos ficar vigilantes, pois enquanto timidamente avançamos, na internet e outros organismos pouco responsáveis, vicejam cursos de submissão, inferiorizando as funções da mulher e, portanto, porta aberta para a violência e todo tipo de discriminação negativa. 

8 de Março de 2023 é uma praça fechada. Um ano atrás uma mulher de 41 anos de idade foi vítima de estupro em uma praça em Cuiabá. Essa praça continua fechada até hoje. Isso não previne o estupro, não trata a vítima, e não pune o estuprador. 

Assim é o 8 de março: já vimos o problema. Precisamos cuidar das vítimas e avançar para a igualdade. 

Glaucia Amaral

Glaucia Amaral
Glaucia Anne Kelly Rodrigues do Amaral é presidente da Comissão da Mulher Advogada da OAB-MT e Procuradora do Estado.
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