Mato Grosso é o terceiro estado do país com mais conflitos por terra e o primeiro do Centro-Oeste. A informação consta na 35ª edição do relatório Conflitos no Campo Brasil 2020. A publicação reúne dados sobre os conflitos e violências sofridas pelos trabalhadores e trabalhadoras do campo brasileiro, bem como indígenas, quilombolas e demais povos tradicionais do campo, das águas e das florestas.
De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 2020 aconteceram 169 ocorrências de conflitos por terra, um aumento de 96% em relação ao ano de 2019, quando foram registrados 86 casos. A Pastoral também registrou o total de 13.029 famílias envolvidas neste tipo de conflito.
O Centro de Documentação da CPT Dom Tomás Balduino (CEDOC) documentou e sistematizou 1.608 “Ocorrências de Conflitos por Terra” em 2020 no Brasil, o maior número registrado desde 1985, quando o relatório começou a ser publicado. Esse número também é 25% superior a 2019, e 57,6% a 2018. Esses conflitos envolveram 171.968 famílias. As “Ocorrências de Conflito por Terra” referem-se a casos de pistolagem, expulsão, despejo, ameaça de expulsão, ameaça de despejo, invasão, destruição de roças, casas e bens.
Houve uma diminuição nas ações de expulsão, despejos judiciais, ameaças e tentativas de despejos comparados ao ano de 2019, entretanto a CPT observa que essas ações foram mais violentas, reflexo disso é o número de destruição de casas, que chegou a 324, um aumento de 101%. O número de roças destruídas chegou a 419, aumento de 498%; a destruição de bens chegou ao número de 1.151, acréscimo de 2%, e, por fim, o número de invasões de territórios saltou de 2.288, em 2019, para 6.916, uma alta de 202%.
Pistolagem e conflito por água
Em Mato Grosso, a Pastoral da Terra também computou 719 ações de pistolagem contra os povos do campo; os casos de grilagens de terras públicas foram de 869, um aumento de 13% em relação a 2019; o número de famílias ameaçadas por despejos judiciais foi de 1.184; e as famílias que sofreram ameaças de expulsão de seus territórios foram 1.238; e o total de despejos judiciais no estado foi de 474.
Outro tipo de conflito que teve grande aumento no Mato Grosso em 2020 foram os pela água, que também deixaram o estado em primeiro lugar no Centro-Oeste. O número passou de quatro, em 2019, para 22 no ano passado, o que impactou 3.091 famílias.
Em 2019, o quantitativo de famílias envolvidas havia sido de 311. Com isso, verifica-se um crescimento de 893% entre esses dois anos. Esses dados também colocam o Mato Grosso em primeiro lugar no Centro-Oeste. Em todo o Brasil foram registrados 350 conflitos por água com 56.292 famílias envolvidas.