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06/12/2021 às 08:26

Mercado financeiro prevê inflação acima de 5% em 2022 e estouro da meta pelo segundo ano seguido

Informação consta do relatório 'Focus', divulgado nesta segunda (6) pelo BC. Meta de inflação de 2022 é de 3,5% e será cumprida se oscilar entre 2% e 5%; mercado já projeta 5,02%.

Do G1

Mercado financeiro prevê inflação acima de 5% em 2022 e estouro da meta pelo segundo ano seguido

Foto: Kelly Oliveira / Agência Brasil

O mercado financeiro passou a prever que a inflação oficial do país, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ficará acima de 5% em 2022, o que, caso se confirme, representará o estouro da meta pelo segundo ano consecutivo.

A informação consta do relatório "Focus", divulgado nesta segunda-feira (6) pelo Banco Central (BC). As projeções foram colhidas na semana passada com mais de 100 instituições financeiras.

A meta central de inflação para o ano que vem, definida pelo Conselho Monetário Nacional, é de 3,5% e será considerada formalmente cumprida se ficar entre 2% e 5%.O mercado financeiro, porém, já projeta 5,02%.

Inflação de 2021

Em 2021, o centro da meta de inflação em 2021 é de 3,75%. Pelo sistema vigente no país, será considerada cumprida se ficar entre 2,25% e 5,25%.

Mas, com a inflação superando 10,7% em doze meses a prévia de novembro, o próprio BC já admitiu oficialmente que a meta não será cumprida neste ano.

Instrumentos

O principal instrumento do Banco Central para conter a propagação da alta de preços é a taxa básica de juros, que é definida com base no sistema de metas de inflação. Quando a inflação está alta, o BC eleva a Selic, e a reduz quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas predeterminadas.

A instituição também pode atuar no mercado de câmbio, vendendo dólares nos mercados à vista e futuro, para impedir uma contaminação dos preços pela alta da moeda. Entretanto, o BC tem informado que suas atuações no mercado de câmbio visam apenas corrigir distorções e prover liquidez, não tendo como objetivo oficial conter a inflação.

Autoridades do BC afirmaram em diversas ocasiões, nos últimos meses, que seguem mirando na meta de inflação de 2022, ou seja, calibrando a taxa Selic para atingir o objetivo fixado para o próximo ano.

E, para isso, o Comitê de Política Monetária (Copom), que se reúne a cada 45 dias, tem optado por uma estratégia de gradualismo: aumento sucessivo dos juros em doses menores, ao invés de uma puxada maior de uma vez na taxa Selic.

O Copom começou a subir os juros em março de 2021, quando a taxa avançou para 2,75% ao ano (a primeira elevação em quase seis anos). Em outubro, na sexta alta seguida, a taxa avançou para 7,75% ao ano. O mercado prevê, até o momento, que a taxa avançará para 9,25% ao ano em dezembro, na última reunião do Copom em 2021, e para 11,25% ao ano até o fim de 2022.

BC independente

A previsão do mercado financeiro de que a instituição não será capaz de entregar, pelo segundo ano seguido, a inflação nas metas determinadas acontece logo no início da gestão do BC independente, aprovada no fim do ano passado pelo Congresso Nacional após um período de 30 anos de discussão.

A nova lei confere liberdade para o presidente e diretores da autoridade monetária subir os juros, se necessário, da forma como julgarem necessário. Isso porque o texto aprovado estabelece mandato de quatro anos para o presidente do BC e os demais diretores. Todos eles podem ser reconduzidos ao cargo, uma única vez, por igual período.

Cenário difícil

Analistas consultados pelo g1 avaliam que o cenário para a inflação está mais complicado desde a eclosão da pandemia da Covid-19, que gerou alta de preços de "commodities", como alimentos e petróleo (combustíveis) não só no Brasil, mas pela economia mundial, além da falta de insumos e dificuldades de transporte. Outro fator que tem pressionado a inflação é a crise hídrica, com reflexo de alta no preço da energia elétrica.

Fatores políticos, por sua vez, também têm impulsionado os preços, pois pressionam o dólar. Nesse caso, os economistas citam a proposta, em discussão no Congresso Nacional, de rompimento do teto de gastos por meio da PEC dos precatórios que viabiliza o Auxílio Brasil e outros gastos. O texto passou no Senado Federal na semana passada, retornando à Câmara dos Deputados.

Segundo o economista-chefe da Necton, André Perfeito, esse é um "péssimo início" para um mandato independente do BC, que possui espaço para ser "bastante incisivo na politica monetária [definição de juros]". Ele avaliou que o corte dos juros para 2% no ano passado foi um "experimento que talvez tenha sido ousado demais".

Perfeito admitiu que elevações na taxa de juros, o principal instrumento do BC, não tem efeito sobre a alta dos preços dos alimentos, dos combustíveis e da energia, principal peso neste ano, e que a inflação também se ressente das tensões políticas para se gastar em um ano eleitoral - envolvendo o novo programa social, entre eles.

Mas avaliou que o BC poderia ser mais claro e direto em seus comunicados com as indicações sobre próximos passos da taxa de juros. "Talvez o instrumento não seja a taxa de juros, mas sim o comunicado. Passou o fiscal [gastos públicos] daqui, vou ter de reagir desse jeito. Se você governo fizer tal coisa, vou ter fazer tal coisa. Passou nessa linha vai ser tiro, porrada e bomba", concluiu ele.

Para ex-diretor do Banco Central, Alexandre Schwartsman, será uma derrota para equipe econômica como um todo se a inflação ficar acima do teto de 5% em 2022, como projeta o mercado financeiro. Ele avaliou que isso também mostra que a credibilidade do BC "foi muito afetada".

"Me parece muito claro que essa deterioração [das expectativas de inflação] acompanhou as perspectivas de piora do lado fiscal [contas públicas] (...) O problema não é o ano [de 2021], mas a perspectiva que vamos ter um quadro fiscal pior daqui pra frente. A gente não aprovou nenhuma reforma importante desde a previdenciária. Isso acaba levando a percepção que teremos problema com inflação à frente e os mercados antecipam, até na remarcação de preços", disse.

Para o economista, os últimos indicadores inflacionários — como a alta no chamado índice de difusão (quantidade de itens afetados pela alta de preços), dos núcleos de inflação (que buscam captar tendência de preços, desconsiderando alguns itens, como alimentos e energia) e da inflação de serviços —, mostram que o período caracterizado principalmente por um choque de oferta (ausência de produtos por conta da Covid-19) passou e que a ideia de que uma alta de juros não pode trazer a inflação para baixo está equivocada.

"Olhando em retrospecto, o BC errou sim. Mas eu tive o mesmo erro. Minha leitura do processo inflacionário no final do ano passado e começo desse ano, e que foi a do BC, é que era um choque de oferta que seria transitório e que morreria em algum momento. Bastaria que os preços parassem de subir. É sempre mais fácil falar em retrocesso. Houve um erro, e o BC saiu correndo atrás [subindo o juros básico]. A ver se consegue entregar a inflação dentro do intervalo [das metas]", disse Schwartsman.
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