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19/02/2023 às 14:38

Conheça 8 povos tradicionais que vivem em Mato Grosso

As comunidades ajudam a manter a manter a floresta em pé e auxiliam em práticas que permite a produção associada à conservação

Alline Marques

O estado de Mato Grosso conta com 238 comunidades formadas por povos tradicionais que vivem no estado. O mapeamento foi feito pelo Ministério Público federal e são povos que aliam harmoniosamente a produção agrícola com o local onde vivem, ajudando a manter a floresta em pé. Essas comunidades fazem uso dos recursos naturais, não apenas para seu sustento, mas também para reprodução cultural, social e religiosa.

De acordo com a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT), eles são “grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam os territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas geradas e transmitidas pela tradição”.

Entre os povos tradicionais de Mato Grosso, estão os indígenas, os quilombolas, as comunidades tradicionais de matriz africana ou de terreiro, os extrativistas, os ribeirinhos, os pantaneiros e outros.

O governo de Mato Grosso, por meio do Programa REM MT, apoia projetos que trabalham com os povos tradicionais reconhecidos em Mato Grosso. O REM é uma premiação por resultados de projetos e instituições que possuem ações em prol da redução de emissão de gases do efeito estufa, oriundas do desmatamento. É um incentivo à conservação da Floresta Amazônica, à redução do desmatamento e à adoção da agricultura de baixo carbono. 

O programa é financiado por meio de uma parceria internacional dos governos da Alemanha e do Reino Unido, que beneficia aqueles que contribuem com ações de conservação da floresta como as comunidades tradicionais, povos indígenas e agricultores familiares. 

Conhecça um pouco mais sobre os povos tradicionais de Mato Grosso: 

As informações desta matéria foram retiradas do livro “Diagnóstico de povos e comunidades tradicionais em Mato Grosso”, publicado em 2021, a partir de estudo realizado pelo IPAM, em parceria técnica e financeira com a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ).

1.       Quilombolas

O termo “quilombo” é originário da etimologia banto, que significa “guerreiro da floresta”. Esse termo era usado pelos portugueses para designar as povoações construídas pelas pessoas escravizadas que fugiam. Atualmente, as comunidades são conhecidas pelas fortes relações de parentesco, vínculos de solidariedade, vizinhança e religiosidade.

Ainda hoje, quilombolas e remanescentes precisam continuar lutando pela conquista e reconhecimento legal das terras ocupadas e cultivadas para sua moradia e sustento.

Ao todo, 27 municípios de Mato Grosso possuem registro de comunidades quilombolas, entre certificadas e em processo de identificação e titulação no INCRA. Poconé é a cidade que lidera com mais quilombolas, contando com 28 comunidades certificadas.

A produção agroextrativista dos quilombolas é bastante diversificada e essencialmente voltada para consumo próprio. Eles produzem para seu sustento e vendem o excedente, fazendo o manejo rotativo e contribuindo para a manutenção da floresta em pé.

Os principais produtos produzidos por eles são a mandioca, banana, animais pequenos e cana de açúcar. Além disso, também costumam produzir derivados, como farinhas, doces, conservas e outros.

Quilombolas dos municípios de Nossa Senhora do Livramento, Poconé, Barra do Bugres e Cáceres recebem apoio do Programa REM MT, por meio do projeto “Muxirum Quilombola”. Eles produzem cumbaru, pequi, bocaiuva e babaçu. 

2.       Retireiros e retireiras do Araguaia

Os retireiros e retireiras são conhecidos por viver nas áreas úmidas do rio Araguaia, possuindo semelhanças com comunidades ribeirinhas. As suas produções são voltadas exclusivamente ao ecossistema típico da região, acompanhando as cheias e secas do rio Araguaia.

O nome “retireiro” se relaciona tanto a prática de se retirar da várzea junto com o gado durante o período chuvoso, como também as habitações em que vivem na várzea, que é uma casa simples coberta de palha, com curral, cisterna e piquete.

Em Mato Grosso, essas comunidades se concentram em Luciara e Santa Terezinha, contudo, há relatos de famílias retireiras em São Félix do Araguaia e Novo Santo Antônio.

A principal atividade produtiva das comunidades retireiras é a pecuária de corte e criação de bezerros, contando também com plantios e artesanato. O uso do pasto é coletivo e os trabalhos no território são feitos de forma solidária e recíproca.

A venda do gado de corte é feita individualmente pelas famílias, diretamente para o mercado privado, como o açougue local. No entanto, as famílias podem se juntar para vender os bezerros de forma coletiva.

3.       Pantaneiros

Pantaneiros e pantaneiras são as pessoas que fazem parte das comunidades que vivem no bioma Pantanal, e que apresentam aspectos peculiares de coexistência com a dinâmica das águas. Além de fazer do Pantanal a sua morada, fazem dela a sua identidade e cultura.

Uma das maiores planícies alagadas do mundo, o Pantanal se estende por Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bolívia e Paraguai.

No território mato-grossense, o Pantanal abrange os municípios de Barão de Melgaço, Cáceres, Curvelândia, Itiquira, Nossa Senhora do Livramento, Poconé e Santo Antônio do Leverger.

Eles praticam atividades de pesca tradicional e artesanal, se organizando em colônias de pescas. Também há registros de pecuária de corte e plantação de banana, mandioca e verduras.

4.       Morroquianos

Morroquianos são agricultores familiares que vivem na Morraria, região entre os arredores da Estação Ecológica da Serra das Araras, em Cáceres. Também ficam entre Nossa Senhora do Livramento, Poconé e Porto Estrela. Esse nome se dá por conta das diversas serras, morros, bocainas e córregos do lugar.

Os morroquianos possuem diversas percepções no cuidado do campo, roça, quintal, pasto, recursos madeireiros, áreas de uso comum e recursos naturais.
Portanto, a produção das comunidades morroquianas é bastante diversificada. Entre elas, destaca-se a “chacra”, muitas vezes associada a quintais e roças. A chacra fica próxima da casa do agricultor, podendo ter entre 0,43 a 2 hectares. A produção é voltada para consumo próprio, podendo haver eventual venda para o comércio como a farinha, produzida com mandioca.

Na chacra ainda são cultivados: quiabo, melancia, laranja, jabuticaba, goiaba, gergelim, coco da bahia, cará, batata doce e abóbora, milho, arroz, mandioca, feijão, abacaxi, banana, rúcula, couve, cana, pimentão e pepino.

Contam também com produção de espécies nativas, como paratudo, barbatimão, angelim e outras.

5.       Extrativistas (e seringueiros)

O extrativismo é a atividade de gerar bens em que os recursos naturais são extraídos diretamente da sua área de ocorrência natural. Ou seja, famílias e comunidades que moram na região extraem os produtos, utilizando baixas tecnologias e saberes populares.

Os produtos coletados são frutos, plantas medicinais, madeiras, resinas, óleos, látex, tintura e outros. As finalidades são diversas, podendo ser alimentares, medicinais e matéria prima para confecção de bens e serviços.

De maneira geral, são colhidos mel, cumbaru, bocaiuva, babaçu, pequi, mangaba, copaíba, castanha do Brasil, poaia e látex.

Os extrativistas estão em 36 municípios mato-grossenses, sem contar com a Reserva Extrativista Guariba-Roosevelt, localizada entre Colniza, Aripuanã e Rondolândia.

A extração da borracha, por sua vez, pode ser praticada em florestas naturais ou plantadas. O segmento de seringueiros é marcado principalmente pelas práticas de extração do látex.

Por meio do Programa REM MT, famílias de extrativistas da Associação de Coletores da Castanha-do-Brasil do Assentamento Juruena (ACCPAJ), também contam com o projeto “Cutiando - Castanha e Sustentabilidade na região noroeste de Mato Grosso” e o Pacto das Águas.

6.       Ribeirinhos e pescadores artesanais

Como o nome sugere, ribeirinhos vivem à beira de rios. A atividade predominante desses povos é a atividade pesqueira, com suporte da agricultura de várzea e de terra firme. Também desenvolvem economia de subsistência, com cultivo de hortaliças, frutas, raízes e grãos.

O rio e sua dinâmica fazem parte literalmente da vida dessas comunidades, integrando sua cultura e características econômicas. Por conta da riqueza hidrográfica de Mato Grosso, esses povos vivem em 70 municípios no território.

Costumam formar associações e colônias de pesca, mas também cultivam melancia, limão, laranja, poncã, manga, goiaba e produtos da sociobiodiversidade, como mel, cumbaru, bocaiuva, babaçu, pequi e outros.

7.       Povos de terreiro/raizeiras 

Povos de terreiros formam comunidades de raizeiros, parteiras, umbandistas e candomblecistas. A base da religião é a manutenção da floresta em pé e da biodiversidade, já que nenhuma das atividades culturais e religiosas é desenvolvida sem usar folhas e ervas.

As casas de terreiros são responsáveis por muitas atividades sociais nas comunidades, como atendimento à saúde, oficinas de reciclagens e doações de mudas. Atuam também na manutenção da cultura, religião e saberes tradicionais, bem como a gastronomia ameríndia e afro-brasileira.

Possuem pequenas hortas e viveiros para produzir mudas de plantas nativas, que servem para doação ou reflorestamento. Cultivam ainda plantas sagradas para os trabalhos do terreiro e plantas medicinais.

Artesanatos como tigelas de cerâmicas, atabaques e outros fazem parte da sua renda. Esses povos estão em 19 municípios mato-grossenses.

8.       Ciganos

Existem várias comunidades entre os ciganos, com histórias diferentes. No entanto, todas se autodenominam andarilhas. Em Mato Grosso, são majoritariamente da identidade Kalon, vivendo no estado há mais de 100 anos.

Estão em sua maioria nos municípios de Alto Garças, Cuiabá, Juscimeira, Guiratinga, Juara, Pedra Preta, Rondonópolis, São José do Povo, Sinop, Lucas do Rio Verde, Tangará da Serra e Várzea Grande.

O nível de consumo dos ciganos é baixo, visto que costumam migrar com frequência. O uso dos meios naturais ocorria apenas para sobrevivência, sem desenvolvimento de degradação ambiental e poluição.
Com informações da assessoria
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