O primeiro concurso de beleza do país completa 100 anos nesta semana. A finalista, considerada a ‘Mais bela do Brasil’, morava em Santos, no litoral de São Paulo. Maria José Leone, conhecida como Zezé Leone, tinha 19 anos quando venceu o concurso em abril de 1923. Ao todo, 319 mulheres participaram da disputa, realizada no Rio de Janeiro, que à época era a capital do país.
Zezé morava em um sobrado localizado na Avenida Senador Feijó, no bairro Vila Mathias, junto com os pais italianos, Francisco Vanni Leone, alfaiate que trabalhava no Porto de Santos, e Dona Perpétua, que atuava como organista [tocava órgão] na Beneficência Portuguesa, e a irmã Leonor Leone.
A filha de italianos, que nasceu em Campinas, no interior de São Paulo, e mudou-se para a cidade portuária aos três anos se inscreveu em outubro de 1921 para o concurso 'A Mais Bela do Brasil', promovido pela Revista da Semana e o jornal A Noite, do Rio de Janeiro. Ela foi eleita em abril de 1923, entenda abaixo.
Concurso
De acordo com o historiador e jornalista Sergio Willians, a ideia era anunciar a vencedora do concurso durante a abertura das comemorações do centenário da Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1922, mas, por conta da quantidade de candidatas, o processo se estendeu até 1923.
No final de março de 1923 foram escolhidas as quatro finalistas, sendo: Orminda Ovalle, de Ipanema (RJ); Dorothildes Adams, de Porto Alegre (RS), Hilda Luz de Castro Lima, de Salvador (BA) e Zezé Leone, de Santos (SP). Em 3 de abril, o júri determinou a vencedora: Maria José Leone.
“O ilustrador especialista em anatomia humana, Raul Pederneiras [um dos jurados], atentou-se à leveza dos traços da candidata santista. Para ele, Zezé era dona da aparência mais delicada, ao mesmo tempo que sedutora”, acrescentou o historiador.
Fama
Após vencer o concurso, Zezé ficou conhecida em todo o país, mas também foi contaminada por uma gripe que a deixou acamada. Mesmo doente, a ‘miss Brasil’ foi assediada pela imprensa.
“Um dos que tiveram acesso à jovem foi Oswaldo de Andrade, redator de A Tribuna, responsável pela produção da primeira entrevista com a recém eleita Rainha da Beleza Nacional. A partir daquele momento, Andrade atendeu uma solicitação do jornal A Noite e encaminhou uma entrevista para o Rio de Janeiro, publicada esta em 16 de abril”, afirmou Willians.
Zezé também começou a ser procurada para fazer comercias, desde remédios a maquiagens, além de um filme que contou sobre a sua trajetória. Umas das propagandas, segundo Willians, foi para uma marca de roupas masculinas. “A ideia era vender ternos aos moços interessados em cortejar a mais bela entre as brasileiras, acrescentou.
Casamentos e envolvimento com jogador de futebol
Em 1924, Zezé se casou com Lincoln Feliciano, eleito prefeito de Santos em 1945. Ela, no entanto, não chegou a ser primeira-dama santista, pois se divorciou de Feliciano em 1927.
De acordo com Sérgio Willians, entre os motivos para a separação: o fato de que ela não poderia engravidar, além de um relacionamento com um jogador de futebol.
Na capital paulista, Zezé teria se escondido da mídia, sendo a representante da beleza nacional até 1929. Neste ano, conforme explicado pelo historiador, foi quando o jornal A Noite conseguiu organizar um novo concurso, pela primeira vez chamado de Miss Brasil.
Anos depois, ela casou novamente, desta vez com o advogado Marcos Ribeiro dos Santos, que segundo Willians, era filho de um secretário do Governo do Estado de São Paulo. Zezé também se separou do segundo marido, ficando sozinha e longe da vida social.
Morte
Longe da fama, Maria José Leone morreu na casa da irmã, em 30 de novembro de 1965, um dia antes de completar 63 anos, após sofrer um segundo derrame cerebral. O primeiro, havia tido um mês antes da morte.
Sérgio Willians contou que Zezé estava tomando banho na casa de Leonor, que havia saído para comprar os ingredientes do bolo de aniversário que faria para a irmã, quando teve o derrame fatal. Segundo o historiador, quando Leonor voltou para casa, encontrou Zezé morta e nua no chuveiro.
“Zezé acabou se envolvendo emocionalmente o goleiro santista Athiê Jorge Coury. O caso foi descoberto e virou um escândalo na cidade, a ponto da ex-miss decidir se separar de Lincoln, abandonar Athiê e deixar Santos, indo morar em São Paulo com a irmã”, contou o historiador.
