Há mais de 523 anos, os indígenas que viviam no Brasil foram colonizados pelos portugueses que aqui chegaram, sendo obrigados a mudar seus costumes, língua e até mesmo sua fé. E, aos que resistiam, restou-lhes serem vítimas de massacres, que colocaram até mesmo em risco a existência desses povos.
Porém, séculos depois, eles ainda hoje são alvos de preconceitos, discursos de ódio e vistos apenas como figuras folclóricas. Mas eles são povos que merecem respeito, possuem direitos e brigam para serem ouvidos pelas autoridades, sejam elas municipais, estaduais ou federais.
Entre avanços e retrocessos, a diretora do Instituto Yukamaniru de Apoio às Mulheres Indígenas Bakairi, Darlene Yaminalo Taukane, faz uma fala da qual é preciso refletir. “Eu penso assim, que nós, os povos indígenas, ainda é visto de um forma folclórica. A gente é legal, parceiro, quando vai representar na parte cultural, quando vai com nossas vestimentas, mas quando a gente quer falar dos nossos desafios, das nossas demandas, aí o governo não abre as portas para os povos indígenas”, ponderou.
Atualmente, Mato Grosso conta com 42 povos indígenas, com uma população aproximada de 50 mil. Darlene destaca que houve um aumento nos últimos anos devido também à autodeclaração. Com isso, é também avançar nas demandas para que seja proporcional ao crescimento da população indígena e com isso atender os desafios da atualidade.
“Temos escolas nas aldeias estaduais e também municipais. Temos os pólos de saúde. Mas queremos a manutenção e um olhar com cuidado à inclusão das nossas demandas tanto em nível estadual, municipal, quanto federal. O acampamento quer dar visibilidade às nossas demandas no estado de Mato Grosso”, comentou Darlene que é integrante do Acampamento Terra Livre, que ocorre desde o início da semana no canteiro central da Avenida do CPA, em Cuiabá.
O objetivo é justamente chamar atenção tanto da população em geral quanto das autoridades para as suas demandas que passam principalmente por ser consultados sobre empreendimentos que estão sendo construídos no entorno de terras indígenas e alguns que até mesmo atravessam seus territórios.
“O acampamento tem todo um contexto no nosso estado e aldeias, empreendimentos que nos impactam, nos entornos também, com mercúrio, grilagem de territórios indígenas, pensamos nesse acampamento para falar sobre isso e ouvir as lideranças que sofrem com isso. Este acampamento é importante para reforçar nossas lutas, nossas demandas, trazendo demandas para o Estado, para conversar com instâncias do governo e com parlamentares”, comentou Darlene.
A diretora lembra também que desde 1988, ano da promulgação da Constituição Federal, os povos indígenas passaram a ter direitos adquiridos e devem ser ouvidos conforme a Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre Povos Indígenas e Tribais.