Executar o que é humanamente impossível, aumentar a escala e melhorar a produtividade. Eis os desafios apresentados e superados pelos sistemas de inteligência artificial (IA) desenvolvidos para o agronegócio. Na pecuária, drones monitoram o desempenho da pastagem, apresentam relatórios sistematicamente e dão ferramentas precisas para a tomada de decisão mais assertiva.
O resultado vem com o aumento da produtividade, maior fixação de carbono no solo e redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE), um combo que alinha sustentabilidade econômica e ambiental.
Essa nova tecnologia foi apresentada a um seleto grupo de consultores da pecuária que atuam no Brasil e em países vizinhos, como Paraguai e Bolívia, durante o 1º Encontro de Consultores da Pecuária Intensiva, realizado pela Koneksi Agro em parceria com a Incubadora Tecnológica da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz/Universidade de São Paulo (Esalq/TEC) e com o Centro de Inovação do Agronegócio (CIag), em Piracicaba (SP).
Cerca de 30 consultores participaram de um dia de atividades com professores e pesquisadores do projeto que desenvolveu o KonectPasto, sistema de inteligência artificial que utiliza drones para coleta de imagens e estimar a altura das plantas e orienta as decisões para otimizar o uso da pastagem e aumentar a produtividade.
Os resultados do uso da ferramenta em 18 propriedades de Mato Grosso surpreendem. O ganho médio de peso dos animais com uso da ferramenta foi de 0,915 kg/animal.dia. Um ganho 27% maior, em comparação com animais em locais onde a ferramenta não foi utilizada. Com relação à suplementação, houve redução de 54% no consumo de ração.
De acordo com o professor e pesquisador do Departamento de Zootecnia da Esalq/USP, Dr. Flávio Portela, a eficiência da pecuária está além do ganho de peso, é preciso analisar os custos de produção e fazer a conta. “Não podemos analisar o resultado apenas sob a ótica da produção de carne por hectare, é preciso analisar os custos. Se a produção aumenta a partir do consumo de ração, não significa necessariamente que houve ganho produtivo. Produtividade é resultado da gestão eficiente dos recursos disponíveis, principalmente do manejo adequado da pastagem e uso racional da suplementação”.
Para o professor doutor Sila Carneiro, também do departamento de Zootecnia da Esalq/USP, o principal benefício desta ferramenta é a precisão dos dados para a gestão do rebanho. “O aumento do desempenho animal está diretamente ligado à quantidade de massa forrageira disponível. Se este volume aumenta ou diminui além do que é recomendável, a produtividade começa a cair e os animais ganham menos peso. Com informações precisas sobre o estoque de pastagem disponível, é possível fazer o manejo dos animais para extrair o máximo de nutrientes possíveis sem prejudicar o desempenho da planta”.
O consultor Rodrigo Paniago, sócio da Boviplan, elogiou a iniciativa do evento e destacou o uso da tecnologia. “A programação do evento foi muito assertiva, em muito pouco tempo realizamos várias interações que resultaram em uma rica troca de ideias. Ficou claro que as dores são comuns e que várias delas podem ser sanadas através de soluções tecnológicas, em especial as da área digital”.
O CEO da KoneksiAgro, Roberto Aguiar, afirma que a tecnologia veio para proporcionar melhores resultados para a pecuária e o desafio está em saber como utilizar essas ferramentas para alcançar vantagens competitivas. “Este projeto teve início em 2018, a partir da conexão entre iniciativa privada e a pesquisa pública, para trazer soluções aos produtores e profissionais que atuam na pecuária intensiva. E a tecnologia tem essa função, não veio roubar o emprego de ninguém, vem para agregar melhores resultados a quem sabe utilizar”.
Para o diretor comercial e de marketing da Nutripura, Luciano Resende, a necessidade de investir em novas ferramentas tecnológicas surgiu do incômodo e da incerteza sobre o futuro da pecuária. “O sistema produtivo não é mais o mesmo, não há lugar no mercado para quem está preso nos modelos convencionais de produção. O pecuarista que não souber incorporar ferramentas tecnológicas para melhorar o desempenho de seu rebanho e os índices de sustentabilidade, vai perder a competitividade”.
Performance - O desenvolvimento do KonectPasto teve início em 2018 e, em 2022, foi utilizado em 18 propriedades localizadas em Mato Grosso. Desde 2018, foram mais de dois de milhões de imagens analisadas e, aproximadamente, 15 mil animais.
De acordo com Guilherme Portes, desenvolvedor do KonectPasto, a ferramenta foi desenvolvida não apenas para melhorar o resultado final dentro da propriedade, mas para proporcionar uma maior escalabilidade para os profissionais que atuam no campo. “Um dos principais desafios para os consultores de pecuária intensiva é justamente acompanhar o dia a dia de seus clientes, pois exigia deslocamento, treinamento de mão de obra e imprecisão nas informações. Com o uso do KonectPasto, o consultor pode acompanhar o desempenho da pastagem em tempo real e assim tomar as decisões corretas. Com isso ele consegue ampliar sua carteira de clientes e, ao mesmo tempo, com melhores resultados”.
Rodrigo Paniago destacou que as informações repassadas sobre o KonectPasto despertou interesse. “Conhecendo melhor a solução, fiquei ainda mais interessado em poder utilizá-la no meu dia a dia. Eu acredito que meus clientes também sairão ganhando, com a possibilidade dos ajustes mais frequentes na qualidade do manejo das pastagens”.
Entre os principais resultados identificados durante o período de teste do KonectPasto, estão a melhoria do resultado final dos produtores, mais rapidez em treinamento e eficiência dos consultores assistentes, a possibilidade de acompanhamento remoto de indicadores chave e, consequentemente, maior escalabilidade de atendimento.
.jpg)
