O produtor de leite Flávio da Cruz, de 43 anos, mora há quase 20 na Comunidade Japuranã, na zona rural de Nova Bandeirantes, no interior de Mato Grosso. Desde que ele começou a trabalhar com a pecuária, encontrou diversas dificuldades, mas foi apenas em setembro de 2023 que ele sentiu que suas demandas e anseios relacionados à sua produção estavam sendo ouvidos e acolhidos.
Isso porque foi nesse período que tiveram início as oficinas para construção e elaboração do Plano Municipal de Agricultura Familiar (PMAF) de Nova Bandeirantes. Na ocasião, agricultores e agricultoras familiares da região puderam debater e elencar as ações prioritárias para desenvolvimento do setor no município.
“Foi uma grande oportunidade que surgiu nesse sentido. Nós ficamos muito felizes em saber que agora estamos começando a desenhar aquilo que nós sonhamos. A chance de dizer aquilo que a gente sentia, as dificuldades que a gente passa, todo esse processo”, explicou Flávio.
As oficinas aconteceram nas comunidades Assentamento Três Cinco, Nova União, Serra Verde, e também no entorno da cidade. Ao todo, foram elencadas mais de 200 ações prioritárias dividas entre os eixos de produção sustentável, beneficiamento e comercialização, assistência técnica, regularização ambiental e fundiária e governança e partição social.
Conforme o gestor de projetos do Instituto Centro de Vida (ICV) Eriberto Muller, o principal objetivo dessas oficinas é criar um documento para orientar as ações e políticas públicas para melhoria da agricultura familiar no município até o ano de 2030. Todas essas informações são embasadas pelas vivências dos próprios trabalhadores do campo do município.
“Aqui em Nova Bandeirantes, por exemplo, as principais dificuldades que eles elencaram estão ligadas a assistência técnica, esse apontamento surgiu em todas as oficinas comunitárias. Sem assistência técnica, eles não conseguem dar um passo à frente na agricultura familiar. Esse é o principal gargalo observado, e também a comercialização, que foi outro ponto de atenção”, disse.
Dificuldades
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Nova Bandeirantes (STTR), Elodir Rudi Meyer, explicou que a predominância nas pequenas propriedades é a produção de hortifrúti. Já nos assentamentos mais afastados, o que domina é a pecuária tanto de leite quanto de corte.
Ele destacou que, por ser uma região distante dos grandes centros, o município tem dificuldades para encontrar assistência técnica que dê conta de auxiliar todos os agricultores e agricultoras. Os trabalhadores rurais, ainda, têm problemas na aquisição de insumos e sofrem com as estradas da região.
“Esse plano da agricultura familiar não está sendo construído por autoridades políticas, mas por pessoas. Não é uma coisa que está sendo empurrado ‘goela abaixo’. Foram os produtores que viram o que era melhor para eles e fizeram o plano da agricultura familiar. Eu espero que dê certo e tenho certeza que vai dar.”
Esperança
Para a agricultora familiar Eliane Gomes da Silva da Costa, que também atua na Secretaria de Agricultura do município, a construção do PMAF traz esperança para os agricultores e agricultoras, que conseguirão trabalhar sabendo que existe uma meta a ser seguida.
“Então esse plano traz para nós uma perspectiva de melhoria. Existe um papel para você seguir, isso é importante. Isso pode, por exemplo, fazer quem está desanimado acreditar que é possível produzir na agricultura familiar. É possível mesmo sendo pequeno. A gente trouxe essa questão da coletividade. Coletividade é juntar todo mundo e conseguir que esse plano seja cumprido”.
O secretário de Agricultura, Meio Ambiente e Tecnologia do município, Luiz Carlos Bernardino, destacou que a construção do plano foi possível apenas pelo intermédio dos parceiros envolvidos no processo.
“O plano vai ser a base para a construção de tudo o que vai ser trabalhado na região. A realização desse plano de trabalho, desse planejamento, foi feita em uma hora muito oportuna. Porque todo município deve elaborar o seu plano, mas da forma fomo foi feito, talvez nós não conseguiríamos fazer, porque não tínhamos disponibilidade, não tínhamos informações”.
O plano
Depois das oficinas comunitárias, as ações prioritárias elencadas foram discutidas também pelos agricultores durante uma oficina municipal. Agora, o documento deve ser redigido pelo Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS) e encaminhado ao poder Legislativo e Executivo para a aprovação.
A elaboração do PMAF de Nova Bandeirantes está em consonância com o Sistema Estadual Integrado da Agricultura Familiar (SEIAF), que prevê que cada município tenha sua própria legislação com diretrizes que impulsionem a agricultura familiar.
No caso de Nova Bandeirantes, a construção do plano teve realização do Instituto Centro de Vida (ICV), da Prefeitura de Nova Bandeirantes e do Walmart.org, além do apoio da Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer), e do do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Nova Bandeirantes (STTR).
Assessoria ICV