Cuiabá, sexta-feira, 26/04/2024
05:52:04
informe o texto

Notícias / Leia Rápido

17/07/2018 às 09:36

Crônicas do Cotidiano - FRIO, VENTO, CHUVA... AFINAL, ESTOU DE FÉRIAS!

Gabriel Oliveira

Senso comum: quando saímos de férias, procuramos sol, calor, uma brisa de clima agradável para relaxar, talvez à beira-mar curtindo a ?vibe? que só uma praia pode oferecer.

Mas, quando já se vive a vida ordinária num lugar que tem sol e calor a grande maioria do ano ? faltando somente a praia para completar o quadro acima, a fuga do cotidiano que o período de férias costuma representar exige um contexto um pouco diferente. E em especial quando as raízes possuem marcas profundas que não deixam mentir: é um gaúcho procurando sossego.

Assim, este gaúcho que vos escreve, saído de sua terra há uns bons anos e ambientado em diferentes partes do país, resolve deixar por duas semanas de julho o clima seco que Mato Grosso apresenta nesta época do ano e vem se esbaldar no clima apresentado na imagem acima. A foto foi tirada da orla da Laguna dos Patos, na cidade do Rio Grande, no extremo-sul do Rio Grande do Sul, numa manhã típica do inverno destes lados.

Aqui, onde as pradarias da campanha gaúcha encontram o Oceano Atlântico, onde sopra o Minuano ? nome dado ao vento frio, forte e constante que toma conta dos campos do sul no inverno e que faz um inconfundível barulho de assovio, onde a cidade está encravada entre o mar e a laguna, a dois metros acima do nível do primeiro, e onde qualquer buraco na terra com mais de um metro de profundidade começa a verter água, aqui escolhi passar parte das minhas férias, revendo familiares e amigos que um dia deixei.

Fazia algum tempo que não vinha, e encontrei uma cidade mais crescida, um tanto descaracterizada, bastante empobrecida. Poucos anos atrás houve um período de pujança, com o polo naval e a construção de plataformas de petróleo, tudo impulsionado pela então recém ? e promissora ? descoberta do pré-sal. Empregos, investimentos, sensível melhoria na qualidade de vida, crescimento. Mas durou pouco. Os sucessivos erros políticos, especialmente envolvendo a Petrobras, fizeram com que o sonho dourado se tornasse uma realidade crua, e cruel.

Mesmo frente a essa realidade, o imaginário infantil misturado ao ideário adolescente ? períodos em que aqui vivi ? criam um conjunto de lembranças e sensações que afloram a cada esquina, a cada rua, a cada local que ainda se mantém praticamente intacto com o passar do tempo. A memória atropela mesmo as tentativas de enxergar as coisas com olhos mais analíticos, e uma nostalgia acaba tomando conta de um gaudério há muito desgarrado do seu pago, que instintivamente procura por imagens, sons, cheiros, gostos, sentidos e sentimentos que ajudaram em muito a fazer dele quem ele é hoje.

A ode aqui não vai a nenhum discurso de suposta superioridade de uma cultura sobre outras. A ode vai às raízes que cada um de nós tem, e que necessariamente vão dizer muito mais de nós do que podemos imaginar. E mesmo que acabemos fincando essas raízes em outros lugares, elas continuarão sendo essencialmente aquelas que começaram a tomar forma em nosso nascimento e se arraigaram ao longo de nossa criação.

Por isso, essas férias de julho em meio ao frio, à chuva, ao céu cinzento, ao vento cortante, são férias de reencontro, de um olhar para dentro de mim mesmo e de buscar um equilíbrio que o cotidiano foi me tirando aos poucos. E, afinal, o motivo de ser de um período de férias não é esse mesmo...?

Clique aqui, entre na comunidade de WhatsApp do Leiagora e receba notícias em tempo real.

Siga-nos no Twitter e acompanhe as notícias em primeira mão.


 
 
Sitevip Internet