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Notícias / Leia Rápido

13/11/2018 às 12:39

Os órfãos de Stan Lee

Gabriel Oliveira

Já conversamos neste espaço sobre a importância dos mitos até mesmo para as narrativas fundacionais de nações. Diversas culturas se baseiam neles inclusive para justificarem sua existência.

Em nosso cotidiano, tendemos a eleger mitos como norteadores ideológicos, exemplos a serem seguidos e creditados. Tendemos a fazer isso com ídolos nos esportes, nas artes e na política, por exemplo. E, para poupar debates, nem vamos entrar no mérito da religião...

A necessidade do mito para organizar determinados assuntos, para neutralizar ou exterminar o perigo, para garantir uma segurança mais que humana é presença marcante ao longo da História, com feitios diferentes de acordo com tempo e espaço. Ao longo do século 20, a criação de super-heróis ?à imagem e semelhança? de um cidadão comum (ou quase) com poderes sobre-humanos que auxiliam a ordem estabelecida a se manter, combatendo males que vão desde a criminalidade tipicamente humana até supervilões que, de alguma forma, personificam um perigo a ser combatido se alastrou pela chamada cultura pop, aparecendo em narrativas fantásticas, depois em histórias em quadrinhos até invadirem o cinema e a televisão. Desde relativamente simples festas de aniversário infantis temáticas, passando por exposições de arte, comercialização de suvenires, chegando até a convenções milionárias que reúnem milhares de fãs, os super-heróis produzem e reproduzem narrativas, multiplicam dividendos e são a base de verdadeiros impérios. Os criadores, responsáveis pelo emaranhado verossímil que constrói o sentido dessas narrativas, tornam-se figuras pop do chamado mundo geek, ou nerd. Até o cotidiano ? numa perspectiva um tanto peculiar ? dos geeks cria narrativas de sucesso, como o quarteto da série americana ?The Big Bang Theory?, a dor e a delícia de serem como são. Este segmento cultural ontem perdeu um de seus ícones. Stan Lee era escritor, editor, publicitário, produtor, diretor, empresário, ator e o responsável pela criação de personagens como Homem-Aranha, Homem de Ferro, Hulk, Pantera Negra, Capitão América, Thor, X-Men e Quarteto Fantástico, dentre outras franquias que pertencem ao grupo Marvel, maior conglomerado americano de quadrinhos e mídia relacionada. A morte de Stan Lee foi notícia em boa parte da internet, motivando as mais diferentes homenagens. Figura pop de 95 anos, tinha como característica marcante fazer pontas ? aparições curtas ? nos filmes da Marvel e/ou em produções que tratam deste universo. Uma das inovações de Lee no mercado do mundo de super-heróis foram as criações para um público mais maduro, com histórias que traziam dramas vividos pelos protagonistas que os tornavam mais complexos e realistas, com impasses presentes na vida de qualquer mortal. O Homem-Aranha é o alterego de Peter Parker, um adolescente aspirante a fotógrafo com problemas de socialização na escola e financeiros na família. Na década de 1960, em meio ao movimento pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, Stan Lee foi uma das cabeças por trás da criação e lançamento dos X-Men, um grupo de mutantes marginalizados e hostilizados pelos humanos. Não só de sucessos é feita a carreira criativa de Stan Lee. Projetos como Nightcat e Stripperella não decolaram. Deslizes que não diminuem a grandeza de uma obra de valor incalculável, que ajudou a moldar os contornos de todo um segmento cultural que hoje movimenta um mercado gigantesco, e que cria universo(s) paralelo(s) onde é possível que mitos exibam traços humanos comuns a todos nós, mundos e relações que podem nos auxiliar a entendermos nosso mundo, nossas relações. Ontem, legiões de super-heróis ficaram órfãos. De certa forma, alguns seres humanos comuns também.
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