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Notícias / Política

31/01/2019 às 07:43

Bastidores: militares criticam decisão de Toffoli que autorizou Lula a se reunir com família

Rafael Costa

Causou enorme "perplexidade" entre militares das Forças Armadas a decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, que acolheu parte do pedido da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, autorizando que ele se deslocasse a uma unidade militar na região do ABC, em São Paulo, para se encontrar familiares após a morte do seu irmão, Genival Inácio da Silva, o Vavá.

A "surpresa" veio seguida de "alívio" com a decisão do próprio Lula de não viajar. A linha de ação que estava sendo desenhada no governo era de que Lula fosse levado de Curitiba para a Base Aérea de Guarulhos, que é uma unidade militar, onde se reuniria com familiares e apenas com familiares.

Seria um voo ponto a ponto, sem necessidade de uso de helicópteros, que dependeriam ainda de condições climáticas, o que tornaria a operação militar mais simples e com menos risco. Encerrado o encontro, Lula retornaria a Curitiba.

A segurança do deslocamento em Curitiba ficaria a cargo da Polícia Federal. Caso houvesse deslocamento em São Paulo, entraria no circuito também a Secretaria de Segurança do Estado.

O presidente Jair Bolsonaro, que reassumiu o comando do País na manhã dessa quarta-feira, foi informado assim que saiu a decisão de Toffoli e ficou preocupado com a operacionalidade da ação.

Antes de anunciar a decisão, Toffoli falou com os ministros da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, e da Justiça, Sérgio Moro. O objetivo era verificar como a operação poderia ser desencadeada. A decisão de uso de unidade militar para Lula se reunir com familiares foi do próprio Toffoli.

No Palácio do Planalto, auxiliares do presidente diziam-se "indignados" e "muito preocupados" com a possibilidade de a família de Lula ir para uma unidade militar no ABC paulista, por conta do tumulto que isso poderia gerar e a possibilidade de manifestações em porta de quartel. Depois, cientes de que o desenho para utilizar a Base Aérea de Guarulhos foi costurado entre os Ministérios da Defesa e da Justiça, a quem a Polícia Federal está subordinada, a preocupação diminuiu. Militares ouvidos pelo Estadão/Broadcast descreveram o uso de um quartel como uma "regalia descabida", que estaria sendo concedida a um preso. "Imagina se todos os presidiários resolverem entrar com pedido no STF para participar de velório de parentes e uma operação de transporte tiver de ser montada e uma unidade militar for oferecida para esse tipo de encontro?", questionou um dos oficiais-generais consultados pelo Estado.

"Imagina se o Marcola, que também tem bons advogados, ou Escadinha, resolverem pedir a mesma coisa? É uma regalia descabida", queixou-se um oficial-general, acrescentando que o procedimento seria complexo, teria altos custos e poderia gerar reação de militares.

Outro general disse que, quando Lula foi preso, no ano passado, seus interlocutores procuraram chefes militares solicitando que ele ficasse preso em um quartel e não na Polícia Federal. "Isso também era descabido, inaceitável e até ilegal, além da revolta que poderia gerar na tropa", observou um militar. A justificativa de Toffoli para utilizar uma unidade militar, de acordo com fontes ouvidas, era buscar um lugar menos vulnerável. O pior cenário, para os militares, era que esse encontro pudesse se dar em quartel no ABC paulista, berço político de Lula, onde manifestações poderiam ocorrer ao seu redor.

(Tânia Monteiro - tania.monteiro@estadao.com)

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