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14/02/2019 às 11:52

Quando a ordem natural é invertida...

Gabriel Oliveira

2019 está turbulento, em vários sentidos... O Governo de Mato Grosso alega não ter dinheiro e atrasa salários de servidores, algo presenciado em várias esferas Brasil afora. O Governo Federal não dá conta de apagar os vários focos de incêndio causados por denúncias e verborragias as mais variadas.

E, para além disso, ainda temos as perdas traumatizantes causadas pelo rompimento da barragem de rejeitos da Vale no Córrego do Feijão, tema da última coluna, e a sucessão dos ocorridos no centro de treinamentos do Flamengo, causando a morte de 10 adolescentes, a queda do helicóptero que vitimou o jornalista Ricardo Boechat e, por último, a morte da atriz Bibi Ferreira. Isso tudo, fora as chacinas e injustiças cotidianas... Tá demais!

Hoje, esta coluna, além de lamentar esse conjunto quase interminável de derrotas, se debruça sobre uma frase já ouvida várias vezes, e que sempre causa comoção especial a este autor. Trata-se da tal inversão da ordem natural, que diz que filhos enterram seus pais. Quanto os polos se invertem e uma mãe ou pai precisa enterrar um rebento, costuma-se presenciar uma dor de uma dimensão abissal. Perder pai ou mãe deve doer muito, mas perder filho ou filha deve beirar o insuportável...

Fui profundamente tocado pelo discurso de Mercedes Carrascal, mãe de Ricardo Boechat, ainda durante o velório do filho, a quem esta coluna presta profunda reverência. Melhor que escrever sobre é simplesmente ir à fonte. Transcrevo abaixo trecho da fala de Dona Mercedes:

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?Era um menino que os velhos gostavam muito, porque ele gostava de falar com as pessoas de idade, pequenininho assim, com 6 anos, perguntava as coisas e nós, velhos, gostamos de contar, como eu estou contando. Eu acho que ele ia ficar assombrado de ver a quantidade de gente que demonstrou carinho, porque ele não fazia as coisas solicitando recompensa, acredito, porque eu fiquei de boca aberta do depoimento das pessoas de todas as classes sociais sobre o meu filho. O que eu digo é que o caixão não era um ?caixão de Ricardo?, adorei do caixão com o táxi em cima (referência à homenagem que taxistas fizeram colocando um luminoso sobre o caixão), porque isso era Ricardo, entende? Não era um caixão de luxo ? agradeço à Band ou a quem tenha dado ?, porque vivemos num país e vivemos numa sociedade em que o aparente é importantíssimo, mas eu acho que aqueles coisas de táxi que botaram no caixão dele foram maravilhosos! Eu falei ?gente, agora sim é o caixão de Ricardo!?.

Então é isso. Eu tenho muito orgulho do homem que foi meu filho. Ser âncora ou não ser âncora era um aditivo, um adereço, mas do homem honesto, correto, sincero, o homem que tanto falava com o faxineiro, com o mendigo de rua, com o mesmo carinho que falaria com qualquer outra pessoa. Um homem que, pelo que eu vi e por algumas coisas que eu soube, fazia o tipo da verdadeira caridade sem demonstração.

Então, esse respeito à vida, esse respeito ao ser humano, esse respeito que todos somos iguais, que não há raça superior a nenhuma, e que tem tanto valor um porteiro como um médico porque, cada um no seu trabalho, se o desempenha com dignidade, é necessário e importante para todas as sociedades, entende? Que não se maltrate o pobre, o desvalido, ou o coitado ganhando 900 e poucos reais ou mil reais, como se isso não desse direito a essa pessoa comer decentemente. Que não vamos mudar os problemas sociais se não mudarmos as cabeças e se não exigirmos disso tudo que está lá em cima, disso tudo que querem mandar e que querem nos impor coisas, o respeito que o povo tem que ter, e que merece ter, porque todos nasceram nessa terra ? e nós que não nascemos, adotamos ?, temos direito a esse respeito, e eles têm a obrigação de nos dar esse respeito, não caridade pública.

Respeito!

Hospitais que nos atendam com decência. Colégios públicos que sirvam para as crianças irem aprender realmente a crescer. Trânsito ordenado. Não é porque meu carro é melhor que o teu que eu vou passar na frente. Tá entendendo? Então, eu acho que temos muito o que aprender, muito! E vocês me desculpem, eu já estou na reta final, mas vamos passar de dois séculos até que isso melhore.? +++++ O vídeo na íntegra por ser assistido aqui. Uma lição de cidadania e política em meio à dor. Este que vos escreve, bem como este espaço, se solidarizam com todos aqueles que sofreram essas perdas recentes, e espera com todas as forças que os dias vindouros possam ser melhores para todos nós!

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