A alta do dólar tem deixado os produtores de soja em alerta. Para alguns pode ser motivo de alegria, para outros, representa queda na arrecadação e até prejuízos. A divergência no resultado final se dá porque o valor da venda da oleaginosa, em reais, está bom, tanto da produção já estocada, quanto da venda futura. Contudo, o custo da lavoura é formado em dólar, o que gera preocupação para a maioria dos produtores, que foram pegos de surpresa pelos impactos causados pelo coronavírus.
O produtor rural e diretor-administrativo da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Lucas Costa Beber, explica que o a maioria dos produtores não vão conseguir aumentar suas margens, uma vez que grande parte da soja, já foi negociada durante a safra 19/20. “Sobrou pouco para o produtor negociar agora”, justifica.
Segundo ele, antes da ‘crise do coronavírus’, era esperado um movimento altista da soja na bolsa de Chicago, pois a quebra da colheita no sul do Brasil e também na colheita norte americana causaria uma valorização da oleaginosa, assim que os produtores terminassem a colheita.
Movimentação que tem gerado uma queda de, pelo menos, 10% na arrecadação dos produtores. Contrário do que estava previsto para este período do ano.
Lucas relata que no período de 30 de março a 30 de abril, os produtores pagam a maior parte dos insumos adquiridos para a produção da lavoura. Produtos como adubos, químicos e até financiamentos feitos em dólar. Por isso, muitos deixam para negociar sua produção na última hora, esperando uma valorização da commodity. Contudo, a valorização esperada não veio, causando prejuízo para esses produtores.
“Desde 2013, a saca tem um preço médio de US$ 16,5, em Nova Mutum. Esse ano a gente já tinha chegado a US$ 17,5, um pouco antes da safra. A tendência era subir, mas com a vinda do coronavírus, caiu. Então os produtores que tinham compromisso no dia 30 de março, deixaram de vender de última hora. Em Nova Mutum, por exemplo, acabaram vendendo por US$ 15,5. Isso é quase 15% a menos do valor. Fizeram venda para pagar o insumo, então o produtor acabou tomando prejuízo”, descreve Beber.
Impactos do coronavírus nas vendas futuras da oleaginosa
O cenário da venda futura da soja ainda é incerto. O diretor-administrativo explica que se o produtor for vender a soja, em dólar, para travar o custo de produção, o preço ainda está baixo. Diante dessa conjuntura, a tendência é que o sojicultor espere para travar os custos mais à frente.
Em relação à moeda brasileira, os preços estão bons, contudo ela representa “a menor fatia do compromisso que o produtor tem para pagar”. Uma vez que é usada apenas no pagamento de parcelas de máquinas e funcionários. Por isso, “o produtor precisa de melhoras em Chicago”, relata o produtor.
Quem lucra e quem leva prejuízo?
Devido a oscilação brusca do dólar, no momento, as empresas não estão trabalhando com a venda em troca, uma vez que os preços dos produtos são travados na hora da negociação. Movimentação que “empaca” a transação da maioria dos produtores, já que eles realizam o pagamento dos insumos com a produção.
Com esse mercado parado, somente os produtores que fazem compra direta, que paga em dólar, consegue fazer negociações, por isso, esse sojicultor está atento, acompanhando o mercado o tempo todo.
Costa explica que esse produtor avalia se é momento de fechar negócio tendo como base o seu histórico do custo médio da lavoura. Se alcançado, ele opta por travar a negociação em dólar ou reais. Segundo ele, quem tem condições de comprar “o produto à vista, está comprando e fazendo um bom negócio. Mas está negociando dentro da média. Agora, o produtor que depende de fazer a troca em uma trade ou em uma revenda, para esse está complicado. “A tendência é o custo da lavoura ficar mais alto”.
Alguns produtores aproveitaram a semana que passou para comprar produtos que estavam com bom preço em revendedoras. “Produtos que estavam em estoque”, explica. Com a alta da soja em reais, aproveitaram para travar a venda da soja pela moeda brasileira para comprar produtos. Mas são poucos os produtores que tem condições de comprar à vista.
Os que não fizeram assim, marcou de pagar daqui a três, quatro meses. Nesse período vai tentar buscar recursos no banco. “Ele sabe quanto custa o produto e faz o cálculo. Se está dando base de troca atrativa ou pelo menos na média, ele trava e tenta buscar o custeio, em reais. Ele pega esse custeio, já travado e pré-fixado no preço do ano que vem. Assim, já sabe quantas sacas de soja vai precisar para pagar esse produto”, explica como funciona o processo.