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11/10/2020 às 10:01

Mastologista fala sobre evolução no tratamento do câncer de mama

O especialista falou sobre prevenção e explicou a importância da preservação da mama durante o tratamento

Maria Clara Cabral

Outubro Rosa tradicionalmente é um mês que mobiliza entidades, órgãos públicos e profissionais da saúde para informar e conscientizar a sociedade sobre o câncer de mama.

A campanha torna-se ainda mais necessária em um ano marcado pela pandemia do novo coronavírus que, segundo dados da Sociedade Brasileira de Mastologia, reduziu em 70% a procura aos exames preventivos e tratamentos nos hospitais públicos brasileiros, entre março e abril de 2020.

Em uma live transmitida pelo Playagora, o mastologista e cirurgião oncológico Dr. Luis Fernando, membro da Sociedade Brasileira de Mastologia e atuante do Hospital do Câncer de Mato Grosso há mais de 10 anos, falou sobre prevenção e as evoluções no tratamento do câncer de mama.

O profissional explicou os diferentes tipos de exame para diagnostico e rastreamento da doença e elucidou questões sobre o processo de restauração da mama em pacientes que passam por cirurgia de retirada dos nódulos.

O bate-papo foi mediado pela presidente da Rede Feminina de Combate ao Câncer, Maria Carmem Volpado.

Confira os principais trechos da entrevista:



Qual a importância do autoexame para prevenção do câncer?

É fundamental, porque a mulher tem que conhecer a sua mama para saber quando acontecem alterações, que podem ser um câncer de mama. Porém, o que eu sempre friso muito é que o autoexame normal não deve deixa-las relaxadas do ponto de vista da mastologia, porque existem situações em que é necessário fazer exames de screening (rastreamento) exames que são feitos sem sentir nada.

Então não é porque eu faço o autoexame que eu não tenho que fazer outros.

Sim. No diagnóstico precoce do câncer de mama, as vezes nem o mais experiente mastologista pode detectar algumas alterações.

Quais seriam os outros exames necessários para o diagnóstico?

O screening do câncer de mama é realizado através da mamografia. De forma geral, ela é realizada uma vez ao ano em mulheres a partir dos 40 anos de idade. Mas existem exceções, que são mulheres que tem histórico familiar de câncer de mama e podem realizar a mamografia a partir dos 35 anos. Uma mulher jovem também pode lançar mão do ultrassom para ver melhor toda mama, mas é um exame diagnóstico e complementar e não para screening de mama. Outro exame que vem ganhando muita atenção é a ressonância nuclear magnética, que pode identificar alterações que a mamografia e o ultrassom não identificam.

Sobre o exame do Pet Scan, que é um exame caro, que custa em torno de R$ 7 mil, e difícil de conseguir. Qual a importância desse exame?

O Pet Scan é um exame que agrega alterações morfológicas com alterações funcionais, diferente de uma tomografia normal. É injetada uma substância, e essa substância associada a alterações morfológicas do paciente, feito uma tomografia, consegue definir sítios de metástase. O Pet Scan tem a vantagem de substituir todos os outros exames. Ele vê muito melhor os ossos que uma cintilografia óssea, por exemplo. Não é para todas as pacientes, deixando isso bem claro, mas é realizado também para outros tipos de câncer dentro das suas indicações. Mas é uma minoria das pacientes com câncer de mama vai precisar desse exame. Por isso, a confiança na relação entre médico e paciente é fundamental.

E sobre os diferentes tipos de biópsias [remoção de uma pequena quantidade de tecido]?

Existem três tipos de biópsia no nódulo suspeito. A biópsia por agulha fina, hoje muito pouco realizada nas mamas, mais realizada nos linfonodos das axilas; a biópsia por agulha grossa (core biopsy), que entra várias vezes no seio da mulher e tira fragmentos; já a mamotomia é um procedimento a vácuo que retira totalmente o nódulo, geralmente de até 1,5 e 1,8 cm. A grande vantagem da mamotomia é o patologista poder estudar toda a lesão. Nos nódulos maiores a core biopsy é a melhor.

O que deve ser feito depois do diagnóstico?

A paciente vai precisar de um suporte clínico, com médicos, psicólogos ou psiquiatras. Isso é fundamental. Com relação a parte técnica, a gente precisa saber em que estágio o câncer está (1, 2, 3 ou 4) para trata-lo da forma mais adequada. O que vai mostrar isso não é a biópsia, mas os exames que avaliam os principais órgãos de metástase no corpo: os ossos, com a cintilografia óssea, os pulmões, com a tomografia de tórax, e o fígado, com a tomografia de abdômen.

O tratamento deve iniciar em até 60 dias do diagnóstico, é o que seria o ideal. Existem alguns debates na Sociedade Brasileira de Mastologia sobre o câncer mais agressivo, de que o ideal é que o tratamento seja feito em 30 dias. Seja ele cirurgia ou quimioterapia.

Então o câncer vai ter um nome e um sobrenome e, para cada um, o paciente vai agir de uma maneira protocolar para o tratamento?

Exatamente. Você estagiar a paciente é agrupa-la em um grupo com prognóstico semelhante. Conhecer a biologia molecular do câncer é o que trouxe uma revolução no tratamento. Por isso alguns pacientes inicialmente vão precisar fazer quimioterapia (cerca de 40%) e outras vão necessitar da cirurgia. O que podemos dizer, de forma geral, é que a maioria das pacientes iniciam o tratamento com cirurgia, porque a maioria apresenta tumores de biologia molecular favorável.

O que também precisamos deixar claro é que quando é indicado cirurgia, isso não significa que a paciente não possa vir a fazer quimioterapia depois. O resultado final vai ser a retirada da peça cirúrgico e dos linfonodos.

O tratamento do câncer de mama evoluiu muito né. E na parte cirúrgica, como se deu essa evolução?

Evoluiu de forma muito significativa nos últimos anos. Antigamente se achava que retirando toda a mama e os linfonodos, a paciente teria maior sobrevida. Mas vários estudos já mostraram que a cirurgia conservadora (que conserva a mama), quando bem indicada, associada à radioterapia, tem a mesma taxa de sobrevida da mastectomia (retirada de toda a mama). Essa é a principal evolução, sem sombra de dúvida, porque ao permanecer com sua mama, a autoestima da paciente melhora muito.

Também já existem vários tipos de tratamento conservador. Podemos só retirar uma fatia da mama se o nódulo for pequeno. E nos últimos dias ganhou muita importância a oncoplastia mamaria, técnicas cirúrgicas para deixar simetria na mama contralateral naquele mesmo momento.

Na mastectomia, também surgiram técnicas como a preservação da pele e do mamilo, o que possibilita uma reconstrução num primeiro momento já. Ou seja, a paciente não vai viver o estigma de ser mastectomizada, vai sofrer uma reconstrução mamaria, mesmo com a mastectomia, no mesmo momento da cirurgia, quer ou não associada a simetrização contralateral. No Hospital de Câncer, esse tratamento já é vigente há quase 10 anos.  

Outra evolução é o tratamento da exila. Antigamente, se um linfonodo fosse contaminado, era preciso fazer o esvaziamento ganglionar. A partir do momento que você remove todos os linfonodos, a mulher pode ter uma série de complicações de infecção, déficit motor, dor no membro superior. Em pacientes com linfonodos positivos, até a quimioterapia pode negativar depois.

Sempre no Outubro Rosa, a Rede Feminina junto ao Hospital do Câncer faz um mutirão para reabilitar mulheres que ainda estão sem a sua mama após a cirurgia, já pré-selecionadas. Conta um pouco sobre esse mutirão e como funcionam as cirurgias de reconstrução.

O tratamento do câncer de mama fascina a gente porque é individualizado, seja ele oncológico ou reparador. Então as cirurgias são diferentes de mulher para mulher. Tudo depende se ela fez radioterapia, se ela tem áreas doadoras para fazer o retalho, do índice de massa corpórea e a idade dela. Todos esses fatores influenciam na decisão sobre o melhor protocolo.

Essas reconstruções são feitas só na mama que teve o problema?

Essa pergunta é muito interessante. Na grande maioria das vezes, o mastologista com formação em oncoplastia tentam mexer na mama contralateral para dar simetria.

Confira a entrevista na íntegra:
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