Segundo o delegado Mário Sérgio Ribeiro de Oliveira, o cacique cobrava dinheiro para permitir que fazendeiros explorassem a terra indígena com a criação de gado.
Todo o esquema tinha aval do coordenador da Fundação Nacional do Índio (Funai) da região, Jussielson Gonçalves Silva, que foi preso na operação.
O esquema foi descoberto no final de 2021 com uma denúncia anônima de que servidores da Funai estariam cobrando propina de grandes fazendeiros para permitir arrendamento na terra indígena.
O dinheiro dos pecuaristas ia para as mãos do cacique, do coordenador e outros servidores.
“Eram 50 arrendatários. Alguns foram expulsos por não ter condições de pagar a propina solicitada pelos servidores da Funai. Atualmente eram 15 áreas exploradas”, disse o delegado.
Um ex-policial militar do Amazonas foi preso na operação e é apontado com ‘braço-direito’ do coordenador da Funai.
No esquema, o grupo cobrava R$ 30 por cabeça de gado, além de cobrar dinheiro pelo tamanho da área explorada. O coordenador recebia 10% de cada área.
“A gente sabe que não havia nenhum tipo de controle [do dinheiro]. O cacique utilizava como ele queria. Ainda vamos investigar para onde o dinheiro era aplicado”,
O veículo do cacique, uma SW4 modelo 2021, está avaliado em R$ 382 mil e foi apreendido.
“O cacique andava em uma SW4 que ganhou de presente de um dos fazendeiros, enquanto a gente sabe que essa não é a realidade dos demais indígenas”, criticou o delegado da Polícia Federal.
A liderança indígena ficou proibida de arrendar as terras, não poderá ter contato com os outros investigados e terá que se apresentar às autoridades sempre que solicitado.
Em nota enviada ao Leiagora, a Funai declarou que 'não coaduna com nenhum tipo de conduta ilícita e está à disposição das autoridades policiais para colaborar com as investigações'.
"A fundação informa, ainda, que o arrendamento de Terras indígenas é vedado e que o coordenador será afastado da função", finalizou. Marãiwatsédé
A reserva indígena de Marãiwatsédé, em Mato Grosso, fica a 1.064 km de Cuiabá. O processo de desintrusão da área começou em dezembro de 2012 e terminou em janeiro de 2013.
Os não índios foram retirados de Maraiwãtsédé após a Justiça Federal reconhecer a terra como território xavante. A reserva era disputada por índios e não índios na Justiça desde a década de 90, mas já era alvo de disputa muito antes.
A ocupação de pequenos agricultores data ainda da década de 50. Na década seguinte, a área foi comprada e ganhou o nome de Suiá-Missú.
Ainda naquela década, a terra voltou a ser vendida e se transformou em uma fazenda de gado chamada Agropecuária Suiá-Missú. Anos mais tarde, mas ainda na década de 60, os indígenas foram removidos da região.
Declarada indígena em 1993, a reserva foi homologada pela União em 1998. Mas, quando voltaram à terra, os posseiros haviam tomado posse da maior parte, sobrando apenas 10% do território aos xavantes, segundo a Funai.
E, após anos de briga judicial, a retirada dos não índios foi determinada pela Justiça Federal em 2012. A desocupação começou em dezembro daquele ano e terminou um mês depois.
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