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Notícias / Cultura Popular

31/10/2021 às 09:30

Halloween cuiabano: conheça as lendas e histórias assustadoras de Cuiabá

Para historiador, Minhocão do Pari está para Cuiabá, assim como o monstro do lago Ness está para as Terras Altas da Escócia

Denise Soares

Halloween cuiabano: conheça as lendas e histórias assustadoras de Cuiabá

Ilustração feita por Fellipe César retrata o Minhocão do Pari

Foto: Fellipe César

O Dia das Bruxas, chamado de Halloween, é celebrado mundialmente no dia 31 de outubro. Conhecido por ser festejado principalmente nos Estados Unidos, a data é uma celebração popular de culto aos mortos.

É comum, neste dia, ver crianças irem de porta em porta atrás de doces, ver enfeites em casas com adereços ‘assustadores’ e festas à fantasia.

O termo tem origem na expressão em inglês 'All Hallow’s Eve' (Véspera de Todos os Santos), pois é comemorado um dia antes do dia 1º de novembro.

Para sair um pouco da cultura americana, o Entretêquer lembrar o leitor de lendas e histórias assustadoras que estão um pouco mais próximas da nossa realidade: as lendas e o folclore cuiabano.

As lendas são contadas de geração em geração. Toda vez que algo de estranho acontece e não tem explicação lógica, surge o questionamento se não foi obra de uma criatura mística.

Grande parte dos contos foi retratado em livros pela professora e historiadora Dunga Rodrigues.

Um dos principais, senão o mais conhecido, é a lenda do Minhocão, ou Minhocão do Pari.

É um grande monstro em forma de serpente, que circula pelos rios e águas do Pantanal virando canoas, devorando pescadores, levantando grandes ondas e desmoronando barrancos dos rios.

Algumas versões da lenda dizem que não se pode reformar ou restaurar as igrejas históricas da capital, pois o minhocão encontra-se preso pelos fios de cabelo de Nossa Senhora.

Para João Carlos Vicente Ferreira, professor e historiador em Cuiabá, o Minhocão do Pari é a lenda mais regional.

“Guardadas devidas proporções, o Minhocão do Pari está para Cuiabá, assim como o monstro do lago Ness está para as Terras Altas da Escócia, no Reino Unido. O que existe, de fato, é a lenda que segue atraindo curiosos sobre sua origem. O que mais se aproxima da nossa realidade é a possibilidade desse ‘minhocão’ ser uma sucuri de tamanho descomunal”, disse ao Entretê.

Segundo Ferreira, essa situação é possível pelo fato de essa lenda ser antiga, época em que o rio Cuiabá ainda abrigava cacharas, pintados, jaús e outros peixes com medidas superiores às contemporâneas e peso facilmente passando dos 100 kg.

“Daí, a termos sucuris gigantes é um passo. O que pode ter ocorrido foi o encontro de pescadores desavisados com essa enorme cobra na barra do rio Pari com o Cuiabá. A partir daí a imaginação popular entra em ação e cria personagens e situações inusitadas que permeiam nosso imaginário até os dias de hoje”, completou o historiador.

Mãe d'água

Outra lenda que ainda é contada nos dias atuais é a Mãe D’água. Seria uma ‘parente’ da sereia e mantém o mesmo hábito de se pentear em cima de uma grande pedra. Nos dias em que o pescador não consegue pegar peixe, dizem se tratar da benção da mãe d'água sobre o anzol. Protetora dos peixes, é considerada um mito ecológico.

Negrinho D'água

Também conhecido como Caboclo D'água em outras regiões, é uma espécie de Saci-Pererê do rio, que vive fazendo travessuras com os pescadores. Andam em bandos e, no fundo dos rios, há a cidade dos negrinhos d'água. Às vezes, quando capturam um pescador, o levam para o fundo do rio para dar surras!

Os livros históricos guardados no Arquivo Público de Mato Grosso relatam muitos dos contos que fazem parte da cultura cuiabana e que são contados de diversas maneiras.

Mulher de Branco ou Noiva de Branco

A famosa Mulher de Branco ganhou uma nova identidade. Por aqui, ela é pantaneira e seduz os homens com sua beleza alva em estradas noturnas, fazendo-os perder o controle e desaparecendo sem deixar rastros.

Em outra versão, ela os leva até uma mansão luxuosa e, no dia seguinte, eles acordam nus e enrolados em espinhos. No lugar onde antes havia a casa, não há mais nada.

“É sempre uma defunta que levanta do caixão e sai, à noite, para atazanar a vida dos incautos. Ouvi isso quando era um garotinho, contado de diversas formas, de acordo com o bom humor do contador de histórias. Essa é uma das lendas urbanas mais publicadas pelos nossos folcloristas”, comentou o historiador.

Cabeça de pacu

O Pacú é um peixe da família dos caracídeos, muito abundante no rio Cuiabá e seus afluentes. Há entretanto certa superstição cabalística quanto a sua cabeça.

Dizem que, ao ingeri-lo, se se trata de um forasteiro, jamais deixará Cuiabá. Se for homem solteiro, estará fadado a casar com alguma moça desta terra. E, se for casado, estará condenado a terminar os seus dias aqui.

Quantas vezes você já ouviu "quem come cabeça de pacu não sai mais de Cuiabá"?

Mãe do Ouro

É quase uma bola de fogo que brota da água ou da terra, indicando que há dinheiro ou ouro enterrado por perto. Por isso é que Mãe do Ouro só aparece em regiões de mineração.

“As lendas urbanas cuiabanas, salvo uma ou outra, não se diferenciam muito em seu conteúdo de outras, contadas em verso e prosa por cidades Brasil afora e, especialmente, em Portugal. Sim, somos filhos de Portugal não apenas no idioma, mas na cultura de forma bem abrangente. No folclore brasileiro, são de origem portuguesa a crença em seres fantásticos como a cuca, o bicho-papão e o lobisomem, além de muitas lendas e jogos infantis como as cantigas de roda. Sempre é bom lembrarmos que as duas festas mais importantes em nosso país, o carnaval e as festas juninas, foram trazidas para cá pelos lusitanos”, explicou o historiador.

Porca com leitões

Às sextas-feiras à noite, aparecia uma porca com sete leitões em frente ao Largo da Boa Morte, em uma região que hoje seria a Rua 13 de Junho. Havia uma lagoa onde diziam que, à noite, quem passasse no local seria perseguido por uma porca feroz acompanhada de sete reluzentes leitõezinhos.

Tibarané

Segundo a lenda, o Tibarané passa alta noite assobiando. É um pequeno passarinho encantado. Se alguém necessita de algo, um favor ou benefício, pede ao Tibarané quando ele passa à noite e lhe promete um pedaço de fumo. Realizado o pedido, logo ao anoitecer, aparece um homem pedindo um pedaço de fumo. Esse homem é o Tibarané que vem buscar o pagamento.

“Esses personagens que mexem com o imaginário infantil e - por que não de outras faixas etárias - fazem parte de um conjunto de costumes que caracterizam nosso povo. Costumes que passam de geração em geração e são praticados de maneira coletiva ou individual, obrigando-nos, mesmo que de forma subjetiva, a valorizar esses elementos de nossa cultura. Portanto, saber mais sobre nossas lendas e tradições é uma boa forma de estarmos conectados com a nossa ancestralidade e conhecer mais sobre nossos antepassados”, avalia o historiador.

Pé de Garrafa

Outro mito conhecido é a lenda do Pé de Garrafa: fala sobre um homem-bicho, com o corpo coberto de pelos, exceto ao redor do umbigo e, claro, um dos pés tem o formato do fundo de uma garrafa. Por isso, se locomove aos pulos, deixando pegadas redondas, assustando com seu grito e com os assobios que indicam que é dono do território. Ele é capaz de hipnotizar quem encará-lo, arrasta as vítimas para sua caverna e as devora.

“Em tudo que é contado sempre tem um fundo de verdade. Lenda é uma história oral narrada de geração em geração que contêm fatos reais e irreais produzidos pela imaginação humana. Existem algumas lendas e contos macabros que ouvimos que supostamente são reais, mas, de tão malucas, acabamos pensando que não passam de mais uma lenda urbana”, acrescentou Ferreira.

De acordo com o historiador, os contos e as lendas são narrativas contadas de geração em geração e possuem a característica de se moldar conforme o tempo. Assim, os detalhes vão aumentando, a cultura e a tradição popular entram e tornam as descrições mais caprichadas.

“Pessoas buscam preservar o passado como um guia que serve de orientação para enfrentar as incertezas do presente e do futuro”, finalizou.
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