A tenente do Corpo de Bombeiros Izadora Ledur de Souza Dechamps, de 33 anos, é alvo de uma nova denúncia pelo Ministério Público de Mato Grosso (MPMT) por suspeita de torturar um ex-aluno durante uma prova aquática do curso de formação de bombeiros no estado.
A tortura teria ocorrido no treinamento entre os meses de janeiro e fevereiro de 2016 contra Maurício Júnior dos Santos, que até então era aluno. Ele saiu da corporação em março daquele ano.
O Leiagora tenta falar com a defesa da tenente.
Ledur ficou conhecida depois de ser acusada da morte do aluno dos bombeiros Rodrigo Claro, de 21 anos, em novembro de 2016, em Cuiabá.
Maurício foi testemunha no processo de Rodrigo Claro, onde relatou ter presenciado as atitudes da tenente.
A denúncia, protocolada na Justiça no dia 21 deste mês, é assinada pelo promotor Paulo Henrique Amaral Motta, da 13ª Promotoria de Justiça Criminal da Capital Crimes Militares.
Maurício passou a integrar o 4º pelotão do curso, onde recebia instruções teóricas, aulas práticas de prevenção de incêndios, salvamento terrestre, salvamento em altura e salvamento aquático.
O rapaz, mesmo com bom condicionamento físico, demonstrou dificuldades na execução das atividades aquáticas, o que era visível a todos os alunos e instrutores.
Ele ainda se sentia pressionado uma vez que Ledur era conhecida por utilizar métodos reprováveis para “castigar” alguns alunos que estavam sob sua guarda.
Certo dia, em um treinamento, os alunos praticaram corrida, flexões, polichinelos, abdominais e finalizavam a etapa com uma travessia na Lagoa Trevisan, liderada por Ledur.
Após percorrer cerca de 40 metros, a vítima começou a sentir câimbras, sendo auxiliada por outros alunos.
“Ocorre que, já no meio do percurso, Ledur determinou que os demais alunos seguissem com a travessia, deixando Maurício para trás. A partir daí, como forma de aplicar castigo pessoal, a denunciada passou a torturar física e psicologicamente a vítima, quando, além de proferir palavras ofensivas, utilizando a corda da boia ecológica iniciou uma sessão de afogamentos, submergindo-a por diversas vezes”, consta trecho da denúncia.
Ainda conforme o documento do MPMT, após engolir água e gritar por socorro, Maurício segurou nos braços de Ledur e pediu que ela parasse.
“Ledur, por sua vez, além de a repreender gritando “Você está louco? Aluno encostando em oficial”, só interrompeu a sessão de afogamento quando a vítima perdeu a consciência. Pouco tempo depois, o ofendido acordou desesperado, já nas margens da lagoa, momento em que veio a vomitar bastante água. Se não bastasse, mesmo a vítima apresentando esgotamento físico e mental, a denunciada exigia, aos gritos, que Maurício retornasse para a água”, completou a denúncia.
Em seguida, Maurício desmaiou novamente, sendo encaminhado à Policlínica do Coxipó, em Cuiabá. O prontuário médico apontava que o paciente “foi submetido a esforço físico desgastante, sofreu desmaio, vômitos, 3 episódios, tremor e dor torácica”.
Família Claro
Três dias depois da Justiça condenar Ledur, a mãe de Rodrigo, Jane Patricia Lima Claro, escreveu e publicou, em uma rede social, uma carta onde pede perdão ao filho.
A mãe de Rodrigo disse que havia prometido ao filho, ao sepultar o corpo do jovem bombeiro, que lutaria por justiça pela morte do rapaz.
Jane disse não concordar com a decisão da Justiça, que desconsiderou tortura e condenou a tenente apenas pelo crime de maus-tratos.
Na ocasião, o MPMT recorreu a uma pena mais rígida e considerou a decisão como "injusta e equivocada".
Outra tragédia atingiu a família de Jane, em dezembro do ano passado.
Antônio Claro teve um Acidente Vascular Cerebral (AVC) no dia 10 de dezembro e fazia uso de medicamentos controlados. Não se sabe se ele caiu na caixa d’água ou se passou mal devido a algum tipo de sequela do AVC.
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