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Notícias / Agro e Economia

12/04/2022 às 17:30

Desnutrição infantil muda realidade nas aldeias e leva indígenas a se tornarem agricultores

Cooperativa defende que é a independência financeira ajuda os indígenas a manter os costumes dos antepassados e não prejudica a cultura

Débora Siqueira

Desnutrição infantil muda realidade nas aldeias e leva indígenas a se tornarem agricultores

Foto: Reprodução

Não foi pela lucratividade que os indígenas Haliti-Paresi resolveram abrir lavouras e produzir grãos nas terras indígenas da etnia há cerca de 15 anos. Além da falta de trabalho e do empobrecimento da população, a questão determinante foi à morte das crianças por desnutrição. Um dos pioneiros em ver na produção agrícola a mudança de chave na realidade da etnia foi Arnaldo Zunizakaê.
 
“Quando conseguimos demarcar nossa área e sobreviver a duras penas, começamos a esvaziar as aldeias em busca de trabalho e surgiu o questionamento do que fazer para trazer o povo de volta. Os velhos passavam por dificuldade alimentar e isso levou a crianças a grande mortalidade infantil. A saúde indígena basicamente só faziam atestado de morte das crianças e isso foi ruim. Aí começamos a convencer os líderes a trazer a atividade agrícola para dentro das aldeias”, explicou.
 
Como muitos índios já sabiam trabalhar com a agricultura, pois já eram funcionários das fazendas vizinhas resolveram eles mesmos assumir o plantio dentro das suas área. Atualmente, eles plantam em 19 mil hectares dos 1 milhão das áreas nas terras indígenas Paresi, Rio Formoso e Utiariti da etnia Paresi, Irantxe da etnia Manoki; e Tirecatinga da etnia Nambikwara.
 
No início, os indígenas buscaram parcerias com os produtores rurais e fizeram acordo de 8 anos. Os produtores entraram com máquinas e insumos e os indígenas, com o trabalho e a terra. Em troca disso, os fazendeiros teriam que fazer a troca de conhecimento que eles não tinham.
 
Com o fim da parceria, pois estava caminhando para o arrendamento, o Ministério Público Federal firmou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com acompanhamento da Fundação Nacional do Índio (Funai), mas somente foi assinado pela atual direção do órgão em dezembro de 2019, permitindo toda a gestão da atividade agrícola, inclusive, poder recorrer a financiamentos apenas de insumos, sem contrair empréstimo financeiro, mas que encarece o projeto, já que os demais produtores rurais têm linhas de crédito.
 
Com uma área de 1,171 milhão de hectares, as lavouras representam 1,6% do território e fica longe de aldeias e de corpos hídricos, sem causar impacto ambiental.
 
Hoje os indígenas produziram na safra 2021/2022, 3.600 toneladas por hectare, o que corresponde a 60 sacas por hectare, em média, mais de 1 milhão de sacas de soja de 60 quilos cada uma. Com a safra e safrinha, foram movimentados cerca de R$ 150 milhões.


 
Pioneiro em estudo ambiental em área indígena
 
O gestor ambiental Loivo Brum, que realizou o primeiro estudo de impacto ambiental em terra indígena do país no Chapadão do Parecis, diz que  a qualidade de vida dos indígenas mudou muito com atividade agrícola e com mais independência financeira, eles puderam manter as tradições e incentivar a economia. “O objetivo deles também é fomentar outras atividades dentro da aldeia de agricultura familiar como a criação de galinhas caipiras, hortifruti”.
 
Depois da experiência dos Haliti-Paresi, Nambikwara e Manoki, a empresa já está trabalhando no licenciamento ambiental da Terra Indígena Sangradouro, da etnia Xavante, em Primavera do Leste.
 
“Será feito EIA-Rima. Eles plantam mil hectares e querem ampliar para 5 mil hectares e aí, com subsidio das informações do licenciamento dos Parecis, o Ibama elencou um padrão para esse tipo de empreendimento”. O trabalho deve ser concluído em cerca de 8 meses. O impasse hoje é análise do Ibama e pouco mais de 10 analistas para fazer estudo do impacto ambiental.
 
Independência financeira e as tradições
 
Durante os trabalhos de licenciamento ambiental em terras indígenas, Loivo observou que a independência financeira fortaleceu a cultura deles e a territorialidade.


 
Dois indígenas, um bacharel em Direito e outro técnico em agropecuária, trabalharam na equipe da empresa de Loivo para o licenciamento ambiental. Durante o andamento dos trabalhos, o pai deles faleceu. Quando foram visitar, toda a família tinha se mudado para a oca, e la fizeram luto de 30 dias.
 
“Os batizados e cerimônias continuam da mesma forma. O território eficiente e com cultura de larga escala também não tem problemas de invasões”.
 
Presidente da Cooperativa Agropecuária dos Povos Indígenas Haliti-Parecis, Nambikwara e Manoki (Coopihanama), Eliane Aparecida Zoizocaeroce, diz que é essa independência financeira que ajuda a manter os costumes dos antepassados.
 
“Precisamos de recursos para manter os nossos trajes, para manter ele vivo. Isso fortaleceu mais, não prejudicou em nada. Temos os nossos grupos de apresentação como tem os gaúchos, por exemplo, com suas danças típicas. Eles podem morar em qualquer cidade, mas tem a dança típica deles. Nós como indígenas, moramos na aldeia, e podemos ser chamados para se apresentar em qualquer lugar do país, a gente vai lá e mostra a nossa cultura”.
 
Eliane diz que sobre as criticas dos indígenas estarem mais conectados com a tecnologia e com usos e costumes dos não indígenas, ela diz que é preciso não confundir as coisas.
 
“Não podemos viver no passado, se a historia dos não indígenas evolui porque a nossa história indígena não pode ter evolução? Estamos buscando mais conhecimento e é um ramo da gente viver”.  
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